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VINICIUS TORRES FREIRE
Ano do porco ou ano do cão?
Ano do porco chinês começa com onda de pânico, que vai continuar se a economia real dos EUA entrar no ano do cão
ATIRAR PRIMEIRO e perguntar
depois é uma regra de bolso
dos investidores diante do pânico financeiro. Quando o mercado
derrete, importa conter perdas e fugir do risco maior. Causas fundamentais e teorias ficam para depois.
Quando o tsunami chinês surgiu, na
Bolsa de Xangai, fugiu-se da praia
para a montanha. Só. Não há explicação econômica para o espraiamento imediato do caos.
Mas o que detonou o pânico na
China? Além do contágio chinês, há
motivos que podem induzir investidores globais a adotar atitudes ainda
mais defensivas e fugir do risco?
Aliás, lembre-se: fuga do risco significa também fuga do Brasil.
Há motivos para novas quedas nos
mercados? Em tese, sim. A Bolsa
chinesa é instável, nova e está contaminada por especulação primitiva e
negociatas. Os americanos, por sua
vez, temem calotes no mercado
imobiliário, o PIB em baixa e a inflação alta. Enfim, há indícios de valorização exagerada de ativos financeiros no mundo todo.
Mas, se a crise nos mercados continuar, será por causa do efeito da
bolha chinesa sobre os EUA? Ou devido à multiplicação de sinais de estresse nas finanças e na economia
real dos EUA, com seus efeitos inevitáveis sobre a China e o planeta?
China x EUA
Os ocidentais menos ignorantes
sobre a China diziam ontem que o
pânico nas Bolsas chinesas começou com boatos. O governo estaria
para adotar medidas contra a hiperatividade financeira no país.
Haveria imposto de 20% sobre
ganhos de capital. Limites para investir em ações com dinheiro emprestado. Juros mais altos. Para
uma Bolsa que cresceu 130% em
2006, com uma clientela de varejo
e inexperiente, o rumor indicou
que viria um breque feio na especulação e nos preços das ações.
Nos EUA, persiste a ansiedade
sobre o risco de ruína no mercado
imobiliário. Muita gente com histórico de crédito "abaixo do ideal"
foi incentivada a tomar empréstimos imobiliários, antes baratos.
Está dando calotes. E daí?
Os empréstimos imobiliários são
agregados e vendidos como títulos
de investimento. Pode-se investir
em diversos tipos de títulos lastreados em pagamentos de prestações
imobiliárias. As empresas de financiamento imobiliário vendem os
empréstimos para bancos, que os
revendem na forma de títulos para
investidores, fundos etc.
Quando o nível de calote precoce
sobe, os bancos devolvem empréstimos ruins para as empresas de financiamento imobiliário, que começam a quebrar. Mas os bancos
também perdem, pois emprestaram dinheiro para essas mesmas
imobiliárias quebradas. Quem investiu em títulos imobiliários perde. Quem comprou ações de empresas do ramo perde. Por fim, fundos montaram operações exóticas
com tais títulos imobiliários e ninguém sabe o tamanho do rolo.
Sinais amarelos acenderam. O
custo do seguro para investimentos de risco sobe. Os juros futuros
nos EUA estão em um nível que
costuma indicar risco de recessão.
A inflação não cede. Há incerteza
sobre a desaceleração da economia.
Ontem, divulgou-se que as encomendas de bens duráveis para a indústria caíram o dobro do previsto.
Que o preço das casas caiu em
2006, o que derruba ainda mais o
mercado imobiliário e ajuda a estressar o sistema de crédito. E não
se sabe se as grandes empresas vão
continuar com os lucros crescentes
dos últimos três anos -se os lucros
caem, cai o interesse pela Bolsa.
Se os EUA crescerem menos, haverá problemas para a China, que
exporta muito para os americanos.
Se os investidores acharem que
há crise real nos EUA, a China terá
sido só um bom pretexto para o início da fuga de ativos de risco.
O que vai ser do mercado hoje? A
resposta mais comum e sábia, apesar de aparentemente idiota, é que
a situação só ficará ruim se piorar.
vinit@uol.com.br
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