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Relação dívida/PIB é a menor desde 98
Arrecadação recorde e gastos menores no início do ano levam dívida a 42,1% do PIB em janeiro, contra 42,8% em dezembro
Superávit primário fica em R$ 18,7 bi, recorde no mês; economista vê momento bom para corte de impostos e de despesas públicas
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O aperto fiscal feito pelo conjunto formado por governo federal, Estados, municípios e estatais bateu recorde em janeiro
e ajudou a reduzir a relação entre dívida pública e PIB (Produto Interno Bruto) para o nível
mais baixo em nove anos.
A maior arrecadação e a lentidão na liberação de gastos por
parte da União são os principais fatores que explicam esse
movimento.
Segundo dados do Banco
Central, o setor público acumulou um superávit primário
-economia feita para o pagamento de juros- de R$ 18,662
bilhões no mês passado, o
maior resultado já registrado
em um mês de janeiro desde o
início da série estatística do BC,
em 1991.
Com o auxílio do superávit
primário recorde, a relação entre dívida e PIB caiu de 42,8%
em dezembro para 42,1% em
janeiro, nível mais baixo desde
dezembro de 1998.
"Foi um resultado muito positivo", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. "Um dos motivos
é o dinamismo da economia,
que tem gerado uma arrecadação [de tributos] expressiva."
Além disso, afirmou Lopes, a
demora do Congresso em aprovar o Orçamento da União deste ano reduz o ritmo de gastos
do governo federal, já que algumas despesas não podem ser
efetuadas antes dessa votação.
"Normalmente o ano começa
com resultados muitos positivos e, com o passar dos meses,
alguns ajustes vão sendo feitos.
Isso se intensificou agora por
causa da não-aprovação do Orçamento", disse Lopes.
Para Roberto Padovani, estrategista-sênior para a América Latina do banco WestLB, os
resultados fiscais deste início
do ano são bons e abrem espaço
para avanços em questões como a reforma tributária, a redução de impostos e um controle maior nos gastos públicos.
"É em momentos de prosperidade que se faz, por exemplo,
uma reforma tributária. Mas os
sinais que o governo dá são que
não está empenhado em encaminhar esse assunto", afirmou
o economista.
Padovani afirma que atualmente o mercado financeiro
não tem mais preocupação com
o compromisso do Brasil com o
ajuste fiscal, dúvida que, segundo ele, foi dissipada nas eleições de 2002.
Atualmente, o foco das discussões está nos obstáculos ao
crescimento que são colocados
por itens como carga tributária
e nível dos gastos públicos.
Câmbio
Já para Carlos Thadeu de
Freitas, economista da CNC
(Confederação Nacional do Comércio) e ex-diretor do BC, os
indicadores fiscais deste começo de ano são positivos, mas a
redução do endividamento público poderia ser mais acelerada caso a política cambial do
governo não estivesse favorecendo a queda do dólar.
Nos últimos anos, o BC tem
adquirido um grande volume
de dólares no mercado de câmbio, com o intuito de reforçar
suas reservas em moeda estrangeira. Por isso, a dívida pública sobe sempre que o dólar
cai, devido ao impacto negativo
que uma valorização do real
tem sobre o saldo de divisas
acumulado pelo governo.
Só no ano passado, a desvalorização do dólar provocou um
aumento de R$ 29,268 bilhões
sobre o endividamento do setor
público.
"Enquanto essa questão não
for resolvida, a dívida [em sua
relação com o PIB] vai ficar patinando em torno do atual patamar. Neste mês, devemos ter
até um aumento", afirma. Neste ano, a moeda dos EUA já acumula queda de 5,9%.
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