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Governo Obama fica com 36% do Citi
Medida busca fortalecer banco e atrair mais investidores privados, mas ações caem 39% com avanço de estatização
Mudanças incluem ainda a substituição da maioria da mesa diretora por "diretores independentes", que devem ser indicados pelo governo
DE NOVA YORK
O governo dos EUA anunciou que promoverá uma estatização parcial do Citigroup ao
elevar sua participação acionária no banco de 8% para 36% e
exigir a substituição da maioria
dos membros da diretoria. Serão trocados por "diretores independentes", que devem ser
indicados pelo governo.
O atual presidente do Citi,
Vikram Pandit, será mantido
no cargo, mas suas decisões terão de ser tomadas em comum
acordo com a nova diretoria. O
Citigroup está entre os três
maiores bancos dos EUA e opera em mais de cem países. Em
2008, teve prejuízo de US$ 27,7
bilhões, um dos maiores da história corporativa dos EUA.
O Tesouro elevou sua participação convertendo para ações
ordinárias US$ 25 bilhões em
ações preferenciais que detinha. Essas ações, que garantiam rendimento fixo pago ao
governo antes do que a qualquer outro acionista, foram
compradas há alguns meses para injetar capital no Citi. Elas
não davam direito a participação até que fossem convertidas
-o que foi feito ontem.
Com a medida, governo e
contribuintes passam a correr
maiores riscos caso a situação
do banco continue a se deteriorar, mas também podem sair
ganhando com o contrário.
Desde o final do ano passado,
o governo dos EUA já tomou o
controle de três grandes instituições financeiras: da seguradora AIG e das gigantes do setor de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac. Nenhuma melhorou desde então.
Mas é a primeira vez na história recente que os EUA dão
um passo desse tamanho com
um grande banco. No final dos
anos 1980, vários pequenos e
médios foram estatizados e fechados ou revendidos.
O Citigroup já recebeu US$
45 bilhões em ajuda estatal, e o
movimento de ontem não incluiu novo aporte. A expectativa é que, com o Estado tendo
participação significativa no
banco, outros investidores privados se sintam encorajados a
investir no grupo.
O Citi e o Tesouro já vinham
tentando atraí-los. Ontem, o
banco anunciou que o governo
de Cingapura, o príncipe Alwaleed bin Talal, da Arábia Saudita, e dois grandes fundos também pretendem converter suas
ações preferenciais.
Além de isso representar
uma economia para o banco
(que não terá de pagar mais dividendos a essas ações), o objetivo é reforçar o Citigroup.
Com as conversões, grandes
fundos soberanos e de investimento poderão ter uma participação de 38% no banco. Como
o governo dos EUA terá outros
36%, os demais acionistas privados viram sua fatia ser diluída para 26% -e são os grandes
perdedores.
As ações do Citigroup caíram
39% ontem na Bolsa de Nova
York, para US$ 1,50. A ação bateu ainda o recorde de transações num dia, com 1,77 bilhão
de negociações. Em 12 meses, a
queda na ações é de cerca de
90%, e o valor de mercado do
banco caiu a só US$ 9 bilhões.
No início da semana, o presidente do Fed (o BC dos EUA)
disse que a estatização não era a
saída para o sistema bancário, e
o movimento de ontem foi feito
no sentido de não fortalecer essa interpretação. Sem convencer. "Foi um novo passo no sentido da estatização", avaliou Arthur Levitt, ex-presidente da
SEC, a Comissão de Valores
Mobiliários norte-americana.
O Tesouro também havia dito que daria prazo de seis meses
para os bancos buscarem mais
investidores privados e que iniciaria nesta semana os chamados "testes de estresse" para
averiguar sua saúde financeira.
Pandit afirmou ontem que a
nova medida servirá como atração a novos investidores e tentará criar uma "ponte para a lucratividade" do banco. Ele tentou afastar os temores de que o
papel do governo no grupo será
preponderante. "Vamos continuar administrando o Citi para
os acionistas", disse.
Além dos US$ 45 bilhões no
Citi, o governo já injetou capital
no Bank of America (US$ 45 bilhões), no JPMorganChase
(US$ 25 bilhões) e no Wells
Fargo (US$ 25 bilhões), além
de em quase 200 outros pequenos e médios bancos.
Em todos esses casos, existe a
opção de converter esses recursos em ações ordinárias.
(FERNANDO CANZIAN)
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