São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2009

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Governo Obama fica com 36% do Citi

Medida busca fortalecer banco e atrair mais investidores privados, mas ações caem 39% com avanço de estatização

Mudanças incluem ainda a substituição da maioria da mesa diretora por "diretores independentes", que devem ser indicados pelo governo

DE NOVA YORK

O governo dos EUA anunciou que promoverá uma estatização parcial do Citigroup ao elevar sua participação acionária no banco de 8% para 36% e exigir a substituição da maioria dos membros da diretoria. Serão trocados por "diretores independentes", que devem ser indicados pelo governo.
O atual presidente do Citi, Vikram Pandit, será mantido no cargo, mas suas decisões terão de ser tomadas em comum acordo com a nova diretoria. O Citigroup está entre os três maiores bancos dos EUA e opera em mais de cem países. Em 2008, teve prejuízo de US$ 27,7 bilhões, um dos maiores da história corporativa dos EUA.
O Tesouro elevou sua participação convertendo para ações ordinárias US$ 25 bilhões em ações preferenciais que detinha. Essas ações, que garantiam rendimento fixo pago ao governo antes do que a qualquer outro acionista, foram compradas há alguns meses para injetar capital no Citi. Elas não davam direito a participação até que fossem convertidas -o que foi feito ontem.
Com a medida, governo e contribuintes passam a correr maiores riscos caso a situação do banco continue a se deteriorar, mas também podem sair ganhando com o contrário.
Desde o final do ano passado, o governo dos EUA já tomou o controle de três grandes instituições financeiras: da seguradora AIG e das gigantes do setor de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac. Nenhuma melhorou desde então.
Mas é a primeira vez na história recente que os EUA dão um passo desse tamanho com um grande banco. No final dos anos 1980, vários pequenos e médios foram estatizados e fechados ou revendidos.
O Citigroup já recebeu US$ 45 bilhões em ajuda estatal, e o movimento de ontem não incluiu novo aporte. A expectativa é que, com o Estado tendo participação significativa no banco, outros investidores privados se sintam encorajados a investir no grupo.
O Citi e o Tesouro já vinham tentando atraí-los. Ontem, o banco anunciou que o governo de Cingapura, o príncipe Alwaleed bin Talal, da Arábia Saudita, e dois grandes fundos também pretendem converter suas ações preferenciais.
Além de isso representar uma economia para o banco (que não terá de pagar mais dividendos a essas ações), o objetivo é reforçar o Citigroup.
Com as conversões, grandes fundos soberanos e de investimento poderão ter uma participação de 38% no banco. Como o governo dos EUA terá outros 36%, os demais acionistas privados viram sua fatia ser diluída para 26% -e são os grandes perdedores.
As ações do Citigroup caíram 39% ontem na Bolsa de Nova York, para US$ 1,50. A ação bateu ainda o recorde de transações num dia, com 1,77 bilhão de negociações. Em 12 meses, a queda na ações é de cerca de 90%, e o valor de mercado do banco caiu a só US$ 9 bilhões.
No início da semana, o presidente do Fed (o BC dos EUA) disse que a estatização não era a saída para o sistema bancário, e o movimento de ontem foi feito no sentido de não fortalecer essa interpretação. Sem convencer. "Foi um novo passo no sentido da estatização", avaliou Arthur Levitt, ex-presidente da SEC, a Comissão de Valores Mobiliários norte-americana.
O Tesouro também havia dito que daria prazo de seis meses para os bancos buscarem mais investidores privados e que iniciaria nesta semana os chamados "testes de estresse" para averiguar sua saúde financeira.
Pandit afirmou ontem que a nova medida servirá como atração a novos investidores e tentará criar uma "ponte para a lucratividade" do banco. Ele tentou afastar os temores de que o papel do governo no grupo será preponderante. "Vamos continuar administrando o Citi para os acionistas", disse.
Além dos US$ 45 bilhões no Citi, o governo já injetou capital no Bank of America (US$ 45 bilhões), no JPMorganChase (US$ 25 bilhões) e no Wells Fargo (US$ 25 bilhões), além de em quase 200 outros pequenos e médios bancos.
Em todos esses casos, existe a opção de converter esses recursos em ações ordinárias.
(FERNANDO CANZIAN)


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