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Lula e FHC elevaram impostos e gastos
Governos têm menos diferença do que sugerem ataques contra o "Estado mínimo", de um lado, e "o inchaço da máquina", de outro
Despesas com pessoal das
duas administrações estão
em patamar semelhante,
enquanto FHC supera Lula
em relação a investimentos
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquanto a campanha presidencial precipita mais uma disputa retórica entre ideólogos
petistas e tucanos em torno da
ampliação do Estado, dados recentes e antigos mostram que
os dois partidos poderiam, se
quisessem, selar um empate.
Apesar da ampliação recorde
de gastos promovida no ano
passado, que embala o discurso
da ministra-candidata Dilma
Rousseff em defesa do poder
estatal, há menos diferença
acumulada entre os governos
Lula e FHC do que sugerem os
ataques contra o "Estado mínimo", de um lado, e "o inchaço
da máquina pública", de outro.
Ambos elevaram os dois indicadores mais universalmente
adotados para mensurar o peso
da administração pública na vida nacional -o volume das receitas e das despesas do governo como proporção do Produto
Interno Bruto, ou seja, da renda
e da produção do país.
Levantamento feito pela Folha aponta que tucanos e democratas, críticos dos aumentos de impostos nos anos Lula,
aplicaram em seu governo uma
elevação da carga tributária até
hoje não superada. Os petistas
lideram na alta de gastos, mas
proporcionalmente ainda estão
abaixo dos rivais em áreas como saúde e educação.
"Em resposta ao aumento
das despesas primárias do governo central, principalmente
com Previdência Social, a carga
tributária aumentou 3,5% do
PIB" -ao contrário do que possa parecer, trata-se de uma crítica do governo Lula ao antecessor, em documento feito em
2003 por uma equipe econômica que abraçava sem embaraço
o pensamento liberal.
De lá para cá, os valores foram recalculados, mas o raciocínio permanece: sob FHC, a
receita da União foi de 18,9%
para 21,7% da renda brasileira,
numa expansão média de 1,7%
anual. Nos anos seguintes, apesar das promessas iniciais de
manter a carga estável, o avanço médio anual foi de 1,2%.
Impulsionado pela reação à
crise econômica global, o gasto
federal teve no ano passado
uma disparada sem precedentes desde o Plano Real -para os
períodos anteriores, de superinflação, não há estatísticas
comparáveis ou confiáveis.
Passou de 16,6% para 18,3% do
PIB e só aí levou os petistas a
ultrapassarem os tucanos em
"gastança", como costumam
dizer os últimos.
Pelos dados mais recentes, as
despesas com pessoal, custeio
administrativo, programas sociais e investimentos cresceram a uma taxa média anual de
2,2% no governo Lula, ante
1,5% nos dois mandatos de
FHC. Até 2008, o ritmo petista
não passava de 0,9% ao ano.
Dados medidos em proporção do PIB não são indicadores
da fartura de dinheiro: é evidente que, com a expansão da
economia nos últimos anos, um
mesmo percentual do produto
significa muito mais dinheiro
hoje que na década passada. Os
números comparam, isso sim,
as escolhas feitas em cada época com os recursos disponíveis.
Proporção
A arrecadação tributária -e,
portanto, o Orçamento do governo- acompanha naturalmente o crescimento da produção e do consumo. Logo, a variação da receita ou de uma determinada despesa como proporção do PIB sinaliza uma alteração de prioridades.
Um exemplo claro é a evolução dos gastos sociais de FHC a
Lula. Ao longo do tempo, os
programas de transferência direta de renda, em Previdência,
assistência social e seguro-desemprego, ganharam mais espaço orçamentário do que a
prestação de serviços em saúde
e educação.
Nessas duas áreas, o tucano
gastava proporcionalmente
mais que o petista, considerada
a média anual, como mostram
os dados apurados a partir de
2000 -antes, o orçamento da
saúde era unido ao do saneamento, e o da educação, ao da
cultura, o que dificulta comparações com os valores atuais.
Já Lula acelerou a expansão
da transferência de renda, já
tornada obrigatória pela Constituição de 1988, com reajustes
mais generosos do salário mínimo a partir de 2005, além da
transformação, com ampliação, do Bolsa Escola em Bolsa
Família.
Só as despesas ligadas ao mínimo -aposentadorias, pensões, auxílio-doença, seguro-desemprego, abono salarial, benefícios a idosos e deficientes-
respondem por três quartos da
expansão do gasto público na
administração petista.
O investimento, convertido
em prioridade do segundo
mandato com o PAC, ainda não
superou, nos sete anos de Lula,
o patamar médio de 0,65% do
PIB do segundo mandato de
FHC. E o gasto com pessoal,
um dos motivos preferenciais
dos ataques tucanos a Lula,
mantém-se estimado nos 4,8%
do produto medidos em 2002.
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