São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 1999

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EMERGENTES
Indicadores socioeconômicos brasileiros anteriores a outubro de 97 eram piores do que a realidade asiática
Brasil entrou na crise pior do que a Ásia

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local


O Brasil parte de um cenário econômico e social muito pior do que o encontrado nos países asiáticos antes do início da crise financeira mundial, em outubro de 1997.
A principal implicação disso é que, se o impacto da crise no Brasil tiver uma magnitude semelhante à desses países, o fosso social brasileiro deve se ampliar para proporções iguais ou até maiores do que as anteriores ao Plano Real.
A comparação dos indicadores socioeconômicos brasileiros com o de países como Coréia do Sul, Tailândia, Indonésia e Malásia revela um patamar pré-crise de desemprego, pobreza e concentração de renda superior ao de todos os países asiáticos.
Mesmo o México, antes da crise de 1994, apresentava um cenário menos grave do que o brasileiro.
Na parte econômica, também as taxas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), inflação, crescimento das exportações e tamanho da dívida externa são mais desfavoráveis no caso do Brasil.
Os dados dos países asiáticos constam de um estudo feito por dois economistas coreanos, Changyong Rhee e Jong-Wha Lee, por encomenda do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
Chamado "Impactos Sociais da Crise Asiática: Desafios e Lições", o texto alerta para o fato de que "milhões de pessoas perderam seus empregos, e os problemas da pobreza e da desigualdade de renda se agravaram rapidamente" -por efeito da crise.
E conclui: "Uma parte substancial dos ganhos em padrão de vida que foram acumulados nas últimas décadas evaporaram em um ano".
O documento ganha importância se lembrarmos que foi feito justamente para o organismo nas Nações Unidas responsável pela classificação dos países segundo o seu desenvolvimento humano.
Os indicadores estudados pelos pesquisadores coreanos mostram, por exemplo, que o crescimento anual do PIB da Coréia despencou de 6,3% na média de 1996 e 1997 para -6,8% em 1998.
No mesmo período, na Tailândia, a taxa de desemprego saltou de 2,7% para 7,0% da PEA (População Economicamente Ativa).
Na Indonésia, além desses mesmos efeitos, a inflação disparou: passou de 7,2% para 77,6% ao ano.
O documento feito para o Pnud ainda se preocupou em analisar o impacto dos programas de estabilização empreendidos pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) entre 1973 e 1994.
O resultado mostra que os acordos não diminuíram os impactos sociais da crise -isso quando não ajudaram a agravá-los.
O fato é tratado implicitamente em um estudo feito pelo próprio Fundo em junho de 1998: "Diminuindo os Custos Sociais da Crise Econômica e os Programas de Reforma na Ásia".
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Compensação Talvez por isso, a preocupação do FMI na Coréia do Sul, Tailândia e Indonésia foi a de, como prevê o documento elaborado, "incluir medidas para proteger os pobres dos efeitos adversos da crise econômica e do ajuste macroeconômico em andamento".
No caso do acordo que está sendo negociado com o Brasil, a diferença em relação ao dos assinados com os países asiáticos após o crash global é que, ao menos até agora, o FMI não falou em políticas de salvaguardas sociais. Mesmo que o quadro social brasileiro pré-crise seja pior do que o dos países asiáticos.



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