|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EMERGENTES
Indicadores socioeconômicos brasileiros anteriores a outubro de 97 eram piores do que a realidade asiática
Brasil entrou na crise pior do que a Ásia
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local
O Brasil parte
de um cenário
econômico e social muito pior
do que o encontrado nos países
asiáticos antes
do início da crise financeira mundial, em outubro
de 1997.
A principal implicação disso é
que, se o impacto da crise no Brasil
tiver uma magnitude semelhante à
desses países, o fosso social brasileiro deve se ampliar para proporções iguais ou até maiores do que
as anteriores ao Plano Real.
A comparação dos indicadores
socioeconômicos brasileiros com
o de países como Coréia do Sul,
Tailândia, Indonésia e Malásia revela um patamar pré-crise de desemprego, pobreza e concentração
de renda superior ao de todos os
países asiáticos.
Mesmo o México, antes da crise
de 1994, apresentava um cenário
menos grave do que o brasileiro.
Na parte econômica, também as
taxas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), inflação,
crescimento das exportações e tamanho da dívida externa são mais
desfavoráveis no caso do Brasil.
Os dados dos países asiáticos
constam de um estudo feito por
dois economistas coreanos,
Changyong Rhee e Jong-Wha Lee,
por encomenda do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
Chamado "Impactos Sociais da
Crise Asiática: Desafios e Lições",
o texto alerta para o fato de que
"milhões de pessoas perderam
seus empregos, e os problemas da
pobreza e da desigualdade de renda se agravaram rapidamente"
-por efeito da crise.
E conclui: "Uma parte substancial dos ganhos em padrão de vida
que foram acumulados nas últimas décadas evaporaram em um
ano".
O documento ganha importância se lembrarmos que foi feito justamente para o organismo nas Nações Unidas responsável pela classificação dos países segundo o seu
desenvolvimento humano.
Os indicadores estudados pelos
pesquisadores coreanos mostram,
por exemplo, que o crescimento
anual do PIB da Coréia despencou
de 6,3% na média de 1996 e 1997
para -6,8% em 1998.
No mesmo período, na Tailândia, a taxa de desemprego saltou de
2,7% para 7,0% da PEA (População Economicamente Ativa).
Na Indonésia, além desses mesmos efeitos, a inflação disparou:
passou de 7,2% para 77,6% ao ano.
O documento feito para o Pnud
ainda se preocupou em analisar o
impacto dos programas de estabilização empreendidos pelo FMI
(Fundo Monetário Internacional)
entre 1973 e 1994.
O resultado mostra que os acordos não diminuíram os impactos
sociais da crise -isso quando não
ajudaram a agravá-los.
O fato é tratado implicitamente
em um estudo feito pelo próprio
Fundo em junho de 1998: "Diminuindo os Custos Sociais da Crise
Econômica e os Programas de Reforma na Ásia".
²
Compensação
Talvez por isso, a preocupação
do FMI na Coréia do Sul, Tailândia
e Indonésia foi a de, como prevê o
documento elaborado, "incluir
medidas para proteger os pobres
dos efeitos adversos da crise econômica e do ajuste macroeconômico em andamento".
No caso do acordo que está sendo negociado com o Brasil, a diferença em relação ao dos assinados
com os países asiáticos após o
crash global é que, ao menos até
agora, o FMI não falou em políticas
de salvaguardas sociais. Mesmo
que o quadro social brasileiro pré-crise seja pior do que o dos países
asiáticos.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|