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Recessão corta
ganhos do Real
da Reportagem Local
Antes mesmo da desvalorização da moeda em janeiro deste ano, o grau de pobreza, o número de pobres e
a concentração de renda já
haviam crescido no Brasil
em 1998, revertendo a tendência de diminuição do
fosso social no país iniciada
com o Plano Real.
O mais grave, entretanto,
está por vir. Uma projeção
feita por Marcio Pochmann, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mostra que
esses indicadores de exclusão social tendem a voltar
aos patamares pré-real.
Esse cenário ocorrerá na
hipótese de a recessão brasileira implicar uma queda
da atividade econômica da
ordem de 3,5% do PIB.
Em 1993, um ano após o
impeachment de Fernando
Collor, o Brasil tinha 44,2%
de pobres na sua População
Economicamente Ativa
com rendimento. O real foi
implantado em julho do
ano seguinte, e essa proporção caiu para 39,9%.
Os efeitos positivos do
controle da inflação se intensificaram ao longo de
1995 e, em 1996, o percentual de pobres na PEA chegou a 31,3% -o mais baixo
desde o Plano Cruzado.
A partir de 1997, entretanto, a retração da economia e
o aumento do desemprego
interromperam esse processo. O resultado é que, em
1998, os pobres já voltavam
a ser 33,2% da PEA com
rendimentos, totalizando
20,2 milhões de pessoas.
A mesma trajetória foi reproduzida com o grau de
desigualdade. A renda dos
10% mais ricos, que era 3,96
vezes maior do que a dos
50% mais pobres em 1994,
caiu para 3,61 vezes em
1996. Mas voltou a subir em
1997, chegando a 3,81 vezes
em 1998. No cenário de queda de 3,5% do PIB em 1999,
a concentração de renda na
mão dos 10% mais ricos pode chegar a 4,01 vezes a dos
50% mais pobres -nível
comparável ao da recessão
de 90 do Plano Collor.
Do mesmo modo, o percentual de pobres deve alcançar o patamar de 43,8%
(maior do que o de 1994). Se
isso se confirmar, 6 milhões
de pobres terão caído abaixo da linha de pobreza ao final deste ano, totalizando
26,2 milhões de pobres.
Em outras palavras, os ganhos sociais do Plano Real
terão sido perdidos.
"O programa de ajuste do
Fundo é decorrência das
políticas de liberalização
econômica que o próprio
FMI apoiava", critica Pochmann. "Até a crise, o Fundo
apoiava o déficit em contas
correntes".
Esses impactos sociais poderiam ser diminuídos se o
FMI incentivar políticas
compensatórias no Brasil
-como fez na Coréia, Tailândia e Indonésia. O receituário variou de país para
país, mas incluiu incentivos
à manutenção de empregos
e subsídios para evitar aumentos de preços de tarifas
públicas e produtos de largo consumo pelos pobres.
Num documento escrito
para as Nações Unidas, dois
economistas coreanos
-Jong-Wha Lee e Changyong Rhee- afirmam que
as medidas sociais devem
mirar o grupo de pobres,
em vez de maximizar os beneficiários. Os autores se referem aos países asiáticos,
mas sua conclusão também
se aplica ao Brasil. Afinal,
foi devido em grande parte
ao voto dessas pessoas que
Fernando Henrique Cardoso conseguiu se reeleger.
(JRT)
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