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São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2003

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CRÉDITO

Taxa média cobrada pelas instituições em fevereiro foi de 56,5% ao ano, mais do que o dobro da Selic, de 26,5%

Bancos elevam juros pelo 5º mês seguido

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros cobrados pelos bancos subiram pelo quinto mês consecutivo, segundo o Banco Central. Em média, a taxa praticada em fevereiro nos empréstimos bancários chegou a 56,5% ao ano. Nos créditos concedidos a pessoas físicas, os juros ficaram em 85% ao ano, os mais altos desde fevereiro de 2000.
Entre as empresas, os juros também subiram. Entre janeiro e fevereiro, a taxa média cobrada nos empréstimos a pessoas jurídicas passou de 34,8% para 37,4% ao ano -a mais elevada desde que o BC passou a acompanhar os dados referentes aos financiamentos direcionados a empresas, em junho de 2000.
Os maiores aumentos a pessoas jurídicas ocorreram justamente nos financiamentos de curto prazo. No "hot money", nome dado ao crédito que vence em até 29 dias, a taxa passou de 52,1% para 62,1% ao ano. No caso dos financiamentos de capital de giro, os juros subiram de 42,5% para 47,5% ao ano.
Entre as pessoas físicas, também houve elevações. No caso do cheque especial, por exemplo, os juros passaram de 171,5% para 173,1% ao ano entre janeiro e fevereiro. É o nível mais alto desde maio de 1999. No caso do crédito pessoal, a taxa subiu de 95,3% para 98,9% ao ano.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, esses aumentos refletem as recentes elevações dos juros básicos da economia promovidas pelo próprio BC. De outubro para cá, a taxa Selic subiu de 18% ao ano para 26,5% ao ano. Só no mês passado, a alta foi de um ponto percentual.
A taxa Selic serve de referência para as operações de empréstimos entre os bancos. Em outras palavras, os bancos pagam uma taxa próxima à Selic quando captam recursos no mercado.
Depois de captar esse dinheiro, as instituições adicionam uma série de custos, como impostos, perdas esperadas com eventuais calotes e uma margem de lucro. Só então os recursos são repassados aos clientes, a uma taxa maior.
Em resumo, os juros cobrados pelos bancos são influenciados pela taxa Selic, pois isso interfere no custo de captação das instituições financeiras. Mas esse não é o único fator que explica a alta.
Em fevereiro, a diferença entre a taxa paga pelos bancos para captar dinheiro e a cobrada dos clientes -o chamado "spread" bancário- chegou a 31,8 pontos percentuais, em média. Isso significa que, dos 56,5% de juros cobrados pelas instituições financeiras, 31,8 pontos ficavam com os bancos.
Os bancos costumam justificar os elevados "spreads" pelos níveis de inadimplência observados no país. Em fevereiro, 8,4% dos empréstimos concedidos pelas instituições financeiras estavam com pagamentos atrasados por pelo menos 15 dias.
Outro componente que levou ao aumento dos juros bancários, tanto entre empresas como entre pessoas físicas, foi a elevação da alíquota do recolhimento compulsório, decidida em fevereiro.
Recolhimento compulsório é o nome dado à parcela que os bancos são obrigados a recolher no BC. Quanto maior é o recolhimento, menos dinheiro os bancos têm em caixa para emprestar a seus clientes, e maiores são os juros praticados.
Lopes afirma que, caso o BC não volte a adotar medidas restritivas -como elevações na taxa Selic e nas alíquotas do compulsório-, os juros não devem subir novamente no curto prazo.


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