|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÉDITO
Taxa média cobrada pelas instituições em fevereiro foi de 56,5% ao ano, mais do que o dobro da Selic, de 26,5%
Bancos elevam juros pelo 5º mês seguido
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os juros cobrados pelos bancos
subiram pelo quinto mês consecutivo, segundo o Banco Central.
Em média, a taxa praticada em fevereiro nos empréstimos bancários chegou a 56,5% ao ano. Nos
créditos concedidos a pessoas físicas, os juros ficaram em 85% ao
ano, os mais altos desde fevereiro
de 2000.
Entre as empresas, os juros também subiram. Entre janeiro e fevereiro, a taxa média cobrada nos
empréstimos a pessoas jurídicas
passou de 34,8% para 37,4% ao
ano -a mais elevada desde que o
BC passou a acompanhar os dados referentes aos financiamentos
direcionados a empresas, em junho de 2000.
Os maiores aumentos a pessoas
jurídicas ocorreram justamente
nos financiamentos de curto prazo. No "hot money", nome dado
ao crédito que vence em até 29
dias, a taxa passou de 52,1% para
62,1% ao ano. No caso dos financiamentos de capital de giro, os
juros subiram de 42,5% para
47,5% ao ano.
Entre as pessoas físicas, também houve elevações. No caso do
cheque especial, por exemplo, os
juros passaram de 171,5% para
173,1% ao ano entre janeiro e fevereiro. É o nível mais alto desde
maio de 1999. No caso do crédito
pessoal, a taxa subiu de 95,3% para 98,9% ao ano.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, esses aumentos refletem as recentes elevações dos juros básicos da economia promovidas pelo próprio BC. De outubro para cá, a taxa Selic subiu de
18% ao ano para 26,5% ao ano. Só
no mês passado, a alta foi de um
ponto percentual.
A taxa Selic serve de referência
para as operações de empréstimos entre os bancos. Em outras
palavras, os bancos pagam uma
taxa próxima à Selic quando captam recursos no mercado.
Depois de captar esse dinheiro,
as instituições adicionam uma série de custos, como impostos, perdas esperadas com eventuais calotes e uma margem de lucro. Só
então os recursos são repassados
aos clientes, a uma taxa maior.
Em resumo, os juros cobrados
pelos bancos são influenciados
pela taxa Selic, pois isso interfere
no custo de captação das instituições financeiras. Mas esse não é o
único fator que explica a alta.
Em fevereiro, a diferença entre a
taxa paga pelos bancos para captar dinheiro e a cobrada dos clientes -o chamado "spread" bancário- chegou a 31,8 pontos percentuais, em média. Isso significa
que, dos 56,5% de juros cobrados
pelas instituições financeiras, 31,8
pontos ficavam com os bancos.
Os bancos costumam justificar
os elevados "spreads" pelos níveis
de inadimplência observados no
país. Em fevereiro, 8,4% dos empréstimos concedidos pelas instituições financeiras estavam com
pagamentos atrasados por pelo
menos 15 dias.
Outro componente que levou
ao aumento dos juros bancários,
tanto entre empresas como entre
pessoas físicas, foi a elevação da
alíquota do recolhimento compulsório, decidida em fevereiro.
Recolhimento compulsório é o
nome dado à parcela que os bancos são obrigados a recolher no
BC. Quanto maior é o recolhimento, menos dinheiro os bancos
têm em caixa para emprestar a
seus clientes, e maiores são os juros praticados.
Lopes afirma que, caso o BC não
volte a adotar medidas restritivas
-como elevações na taxa Selic e
nas alíquotas do compulsório-,
os juros não devem subir novamente no curto prazo.
Texto Anterior: Painel S/A Próximo Texto: Na primeira alta com Lula, TJLP sobe para 12% Índice
|