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ECONOMIA E SAÚDE
Decisão é criticada por fabricantes e mineradora; material usado em telhas e caixas-dágua provoca câncer
Governo vai banir uso de amianto no país
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo Lula vai fixar um
prazo para banir no país o uso do
amianto, minério usado em produtos como telhas, caixas-d'água,
pisos, cloro e pastilhas de freio.
A decisão, polêmica, vai incluir
o Brasil no grupo de 36 nações
que já optaram pelo fim da utilização dessa matéria-prima, tóxica
e cancerígena a trabalhadores e
consumidores expostos a ela.
Indústrias que usam amianto
dizem que a substituição da matéria-prima vai aumentar significativamente os custos de produção.
Dona da única mineradora de
amianto do país, a empresa Sama
diz que irá processar o governo
para recuperar prejuízos que teria
com a proibição. "Temos o direito
de explorar a mina por 60 anos. Se
banir o amianto, o governo terá
de se responsabilizar."
Decisão de governo
"É uma decisão de governo",
disse Ruth Vilela, secretária de
inspeção do Ministério do Trabalho, referindo-se à proibição.
"A comunidade científica e do
trabalho entende que o amianto
faça mal à saúde do trabalhador",
diz Alencar Ferreira, secretário-executivo do Ministério do Trabalho. "Por essa razão, o governo
optou pela extinção. A exposição
a essa matéria-prima, por menor
que seja, não é segura."
Na última quinta-feira, portaria
do governo deu prazo 90 dias para que um grupo técnico, formado por auditores do trabalho e representantes da Fundacentro, faça um diagnóstico sobre as condições de trabalho e os efeitos da exposição de uma pessoa ao amianto -desde a extração do minério
até a industrialização e o transporte de produtos.
Enquanto o grupo técnico faz o
mapeamento do uso do amianto
no país, uma comissão interministerial -que será anunciada na
próxima semana e terá representantes dos ministérios da Saúde,
da Previdência Social, do Meio
Ambiente, do Trabalho, de Minas
e Energia e do Desenvolvimento- vai definir o prazo que as indústrias terão para extinguir o insumo de seus produtos.
A União Européia deu prazo de
cinco anos, a partir de 2000, para
que os fabricantes encontrem alternativas ao uso do amianto.
Segundo Ferreira, "isso não significa que esse será o período dado às empresas no Brasil. A comissão interministerial é que estabelecerá um prazo após ter o
raio X do amianto no país."
Um projeto de lei -ou uma
medida provisória- para proibir
o uso do amianto no Brasil, diz,
deverá ser encaminhado ainda
neste ano ao Congresso Nacional.
A pressão para acabar com o
uso do amianto no país partiu
principalmente da auditora fiscal
do trabalho Fernanda Giannasi.
Há 20 anos, ela fiscaliza as empresas que utilizam essa matéria e
acompanha a saúde de pessoas
expostas ao mineral.
Com extensa documentação,
Giannasi, segundo Alencar, deverá compor a comissão técnica do
Ministério do Trabalho.
A promotora de justiça Anna
Trotta Yaryd diz que o problema
de saúde causado aos trabalhadores e ex-funcionários "é sério, grave e irreversível".
O Ministério Público Federal
pediu numa ação civil pública o
banimento do amianto. "Já se tem
notícia de pelo menos 2.500 casos
de contaminação em apenas uma
empresa do setor", diz .
Os casos comprovados de contaminação levaram advogados de
empresas a criar um modelo de
indenização-padrão para as vítimas -de R$ 5 mil a R$ 20 mil, informa Giannasi.
Levantamento parcial do ministério mostra que 165 indústrias
produzem, utilizam ou comercializam amianto -também conhecido como asbesto- no país.
Juntas, empregam 15 mil trabalhadores, dos quais 3.500 -ou
23% deles- mantêm contato direto com o minério.
O ministério informa que esses
números são maiores, pois os dados levantados até agora referem-se apenas às empresas cadastradas, que representam uma parte
dos envolvidos com o amianto.
Metade dessas 165 empresas está no Estado de São Paulo, com
cerca de 1.500 trabalhadores em
contato direto com o minério, segundo o levantamento. O Rio
Grande do Sul é o segundo Estado
que mais utiliza o insumo no processo de produção, com 568 trabalhadores expostos diretamente
à matéria-prima.
Em Minaçu, no Estado de
Goiás, onde se localiza a mina Cana Brava, explorada pela Sama
Mineração de Amianto, que pertence à Eternit, existem cerca de
410 trabalhadores em contato direto com o amianto -e 500 em
outras atividades na empresa, segundo o ministério.
Reação
Dona da única mineradora de
amianto do país, a Sama tem capacidade para extrair 270 mil toneladas por ano e produz 213 mil
toneladas anuais. Rubens Rela Filho, diretor geral da empresa, diz
que os 32 mil habitantes de Minaçu dependem da mina. "Essa é a
única atividade econômica da cidade. Se o governo proibir o uso
do amianto, a cidade fecha."
O prejuízo causado com a extinção do amianto no país, diz Rela
Filho, terá de ser bancado pelo governo. "Temos o direito de explorar a mina por 60 anos. Se o governo banir o amianto, terá de se responsabilizar por isso", afirma.
A Carbocloro, indústria que usa
o minério para a produção de soda e cloro, informa que sobrevive
sem o amianto. Mas diz que a
substituição da matéria-prima vai
aumentar significativamente os
custos de produção. A indústria já
testa um substituto -um material cerâmico-, que é 15 vezes
mais caro que o amianto.
Um dos setores que mais deve
sentir o impacto do banimento do
amianto é o de fibrocimento
-especialmente na produção de
telhas e caixas-d'água. Estimativa
da Abifibro, associação do setor, é
que a venda desses dois produtos
movimenta R$ 1 bilhão por ano.
O Ministério do Trabalho sabe
que vai enfrentar resistências das
indústrias que usam o mineral.
"Não adianta, a extinção do
amianto é uma decisão de governo", afirma o secretário-executivo do Ministério do Trabalho.
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