São Paulo, domingo, 28 de março de 2004 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUNDO DO POÇO Poções (BA) abrigou 1ª exploração de amianto; hoje moradores reclamam de problemas de saúde Trabalhador culpa minério por doença
LUIZ FRANCISCO DA AGÊNCIA FOLHA, EM POÇÕES (BA) Com a carteira assinada, foram menos de dois anos de trabalho -precisamente, um ano, nove meses e 22 dias. Apesar do pouco tempo como funcionário da Sama e de ter se desligado da empresa em 1972, o contato diário com o amianto trouxe conseqüências irreversíveis à saúde de Adão José dos Santos, 53. Reprovado em todos os exames médicos admissionais desde 1984, Santos respira com dificuldade e não consegue caminhar 50 metros sem parar para descansar. "As minhas pernas ficam travadas, não tenho força para nada", diz Santos, que trabalhava na limpeza dos equipamentos de dois fornos de alta temperatura. "Eu trabalhava em um local subterrâneo, sem nenhum equipamento de segurança, respirando os resíduos tóxicos do amianto", afirma. Segundo Santos, a temperatura dos fornos era tão elevada que o abrigava a ficar apenas 15 minutos fazendo a limpeza. "Depois, durante uma hora, eu ficava do lado de fora para descansar. Fazia as refeições andando para fugir da poeira." Além do cansaço e da dificuldade para respirar, o ex-funcionário da Sama convive com outras doenças -hepatopatia crônica, varizes, fígado e rins com manchas e insônia-, de acordo com exames médicos exibidos por ele para a reportagem. Segundo ele, a Sama já reconheceu seus problemas de saúde. Há três anos, a empresa paga um plano básico de saúde para ele, que dá direito às consultas, às internações e às cirurgias. Poeira Desempregado há 20 anos, Adão José dos Santos sobrevive com a ajuda de uma filha. "Não tenho dinheiro para nada, eu não posso trabalhar. Às vezes, tenho crises horríveis e, quando acordo, já estou internado." Santos mora a menos de 200 metros da primeira mina de amianto explorada comercialmente no Brasil, mas nunca trabalhou em Poções (437 km de Salvador). Quando foi contratado pela Sama, a empresa já tinha desativado a mina baiana (1967) e transferido as suas atividades para Minaçu (GO). "Quase toda a minha família trabalhou aqui." Mesmo sem nunca ter trabalhado na indústria de amianto, Valdionor Soares Campos, 42, também apresenta os mesmos sintomas de Santos. Com menos de dez anos, Campos quebrava os resíduos das pedras para retirar a fibra do amianto. "Para ajudar no orçamento familiar, quase todas as crianças da vila vinham para a mina quebrar pedras", diz. "Então, todos os dias, a gente inalava aquela poeira." Ao contrário de Santos, Valdionor Campos não foi contemplado pela empresa com um plano de saúde. "Os dirigentes alegam que nunca trabalhei para a empresa, o que é verdade. Acontece que, por morar perto da mina, há mais de 30 anos sou obrigado a respirar a poeira tóxica." Texto Anterior: Auditora diz ter sofrido ameaças Próximo Texto: Empresa afirma que substância é segura e barata Índice |
|