São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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ECONOMIA E SAÚDE

Com veto ao amianto, produtos que usam o minério subiriam, pois insumo alternativo custa 15 vezes mais

Proibição elevaria custos, dizem empresas


DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do governo de banir o amianto no país pegou de surpresa e desagradou às indústrias que utilizam essa matéria-prima na fabricação de seus produtos.
"Isso não tem fundamento. Projeto desse tipo já foi encaminhado para a Câmara dos Deputados, mas foi engavetado", afirma Rubens Rela Filho, diretor-geral da Sama, que explora a única mina de amianto no país.
Segundo o empresário, 10 mil trabalhadores já passaram pela Sama desde 1962, dos quais 7.500 foram avaliados pela Unicamp. "De 1980 até agora não constatamos nenhum caso de doença pulmonar provocada pelo amianto."
A Sama pertence à Eternit, que fabrica produtos de fibrocimento em quatro Estados -Goiás, Bahia, Rio de Janeiro e Paraná. "Banir o amianto é um equívoco, pois essa matéria-prima é barata e segura. Da forma como é usada atualmente, não traz nenhum risco à saúde. Existe uma legislação específica para a exploração, a transformação e o transporte desse insumo", afirma.
O índice de fibra de amianto permitido por lei é de duas fibras por centímetro cúbico. "Todas as fábricas que transformam o amianto estão abaixo de 0,1 fibra por centímetro cúbico", afirma.
A Carbocloro, joint venture da Unipar (União das Indústrias Petroquímicas) com a norte-americana Occidental Chemical Corporation, fabricante de soda e cloro, informa que o amianto é um insumo importante na fabricação de seus produtos, mas que consegue sobreviver sem esse minério.
"Não temos conhecimento de que o governo vai banir o amianto no país. Mas a Carbocloro já está testando um material alternativo. Só que os primeiros resultados não foram positivos, pois houve uma piora na qualidade dos produtos. Mas os testes vão continuar, apesar de o insumo substituto [cerâmico] ser 15 vezes mais caro", afirma Airton Antonio de Andrade, gerente de produção.
A Carbocloro, que fatura cerca de R$ 500 milhões por ano, emprega 360 pessoas. Segundo Andrade, apenas duas pessoas têm contato direto com o amianto seco -fase em que é mais perigoso para a saúde. "Eles têm acompanhamento médico periódico."
A Abifibro (Associação Brasileira das Indústrias e Distribuidores de Produtos de Fibrocimento) crê que o governo Lula não conseguirá acabar com o uso do amianto.
"É difícil, pois a mina em Goiás é grande, além de ser de interesse do Estado. Já se falou nisso em outras oportunidades, mas não foi para a frente, pois os projetos foram considerados inconstitucionais", afirma João Carlos Duarte Paes, presidente da associação.

Processo alternativo
As coberturas e as telhas de fibrocimento, informa Paes, participam com 47% do mercado total de coberturas e telhas no país. "Se o mercado exigir esse produto, que é barato, a indústria vai continuar produzindo."
As empresas, porém, diz Paes, estão estudando a possibilidade de trabalhar com matérias-primas alternativas, como as plásticas. "Essa substituição não vai acontecer por força de legislação, mas se o mercado quiser."
A Abiclor (Associação Brasileira da Indústria de Cloro e Derivados) informou que não há casos de contaminação no setor porque o amianto é usado na forma úmida, em condições adequadas de manuseio e embalado de forma segura. O setor emprega diretamente cerca de 13 mil pessoas e fatura US$ 660 milhões por ano.
"Três empresas usam o minério no nosso setor. Substituir essa matéria-prima custaria milhões de dólares. As mudanças tecnológicas seriam caríssimas", diz Mario Cilento, presidente da Abiclor. (FÁTIMA FERNANDES e CLAUDIA ROLLI)

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