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ECONOMIA E SAÚDE
Com veto ao amianto, produtos que usam o minério subiriam, pois insumo alternativo custa 15 vezes mais
Proibição elevaria custos, dizem empresas
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão do governo de banir o
amianto no país pegou de surpresa e desagradou às indústrias que
utilizam essa matéria-prima na
fabricação de seus produtos.
"Isso não tem fundamento. Projeto desse tipo já foi encaminhado
para a Câmara dos Deputados,
mas foi engavetado", afirma Rubens Rela Filho, diretor-geral da
Sama, que explora a única mina
de amianto no país.
Segundo o empresário, 10 mil
trabalhadores já passaram pela
Sama desde 1962, dos quais 7.500
foram avaliados pela Unicamp.
"De 1980 até agora não constatamos nenhum caso de doença pulmonar provocada pelo amianto."
A Sama pertence à Eternit, que
fabrica produtos de fibrocimento
em quatro Estados -Goiás, Bahia, Rio de Janeiro e Paraná. "Banir o amianto é um equívoco, pois
essa matéria-prima é barata e segura. Da forma como é usada
atualmente, não traz nenhum risco à saúde. Existe uma legislação
específica para a exploração, a
transformação e o transporte desse insumo", afirma.
O índice de fibra de amianto
permitido por lei é de duas fibras
por centímetro cúbico. "Todas as
fábricas que transformam o
amianto estão abaixo de 0,1 fibra
por centímetro cúbico", afirma.
A Carbocloro, joint venture da
Unipar (União das Indústrias Petroquímicas) com a norte-americana Occidental Chemical Corporation, fabricante de soda e cloro,
informa que o amianto é um insumo importante na fabricação de
seus produtos, mas que consegue
sobreviver sem esse minério.
"Não temos conhecimento de
que o governo vai banir o amianto
no país. Mas a Carbocloro já está
testando um material alternativo.
Só que os primeiros resultados
não foram positivos, pois houve
uma piora na qualidade dos produtos. Mas os testes vão continuar, apesar de o insumo substituto [cerâmico] ser 15 vezes mais
caro", afirma Airton Antonio de
Andrade, gerente de produção.
A Carbocloro, que fatura cerca
de R$ 500 milhões por ano, emprega 360 pessoas. Segundo Andrade, apenas duas pessoas têm
contato direto com o amianto seco -fase em que é mais perigoso
para a saúde. "Eles têm acompanhamento médico periódico."
A Abifibro (Associação Brasileira das Indústrias e Distribuidores
de Produtos de Fibrocimento) crê
que o governo Lula não conseguirá acabar com o uso do amianto.
"É difícil, pois a mina em Goiás
é grande, além de ser de interesse
do Estado. Já se falou nisso em outras oportunidades, mas não foi
para a frente, pois os projetos foram considerados inconstitucionais", afirma João Carlos Duarte
Paes, presidente da associação.
Processo alternativo
As coberturas e as telhas de fibrocimento, informa Paes, participam com 47% do mercado total
de coberturas e telhas no país. "Se
o mercado exigir esse produto,
que é barato, a indústria vai continuar produzindo."
As empresas, porém, diz Paes,
estão estudando a possibilidade
de trabalhar com matérias-primas alternativas, como as plásticas. "Essa substituição não vai
acontecer por força de legislação,
mas se o mercado quiser."
A Abiclor (Associação Brasileira da Indústria de Cloro e Derivados) informou que não há casos
de contaminação no setor porque
o amianto é usado na forma úmida, em condições adequadas de
manuseio e embalado de forma
segura. O setor emprega diretamente cerca de 13 mil pessoas e fatura US$ 660 milhões por ano.
"Três empresas usam o minério
no nosso setor. Substituir essa
matéria-prima custaria milhões
de dólares. As mudanças tecnológicas seriam caríssimas", diz Mario Cilento, presidente da Abiclor.
(FÁTIMA FERNANDES e CLAUDIA ROLLI)
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