São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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No país, 300 mil estão expostos à substância

DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 300 mil pessoas estão expostas ao amianto no Brasil. Os números são da Fundacentro, entidade ligada ao Ministério do Trabalho. Desse total, 15% estão empregados nas indústrias de mineração, fibrocimento e de pastilhas para freios, informa Eduardo Algranti, médico e pesquisador da fundação. Fora da chamada indústria típica, explica, não há controle sobre as conseqüências da exposição nem estudos no país que comprovem a contaminação.
"Banir o uso do amianto é importante porque, além dos trabalhadores e ex-funcionários, há um número ainda maior de pessoas indiretamente expostas", afirma.
A exposição, diz, pode ocorrer numa oficina mecânica -quando se faz a troca de uma pastilha de freio-, na construção civil -ao se instalar uma caixa-d'água ou trabalhar em uma demolição- ou até mesmo na comunidade, quando a mulher lava o uniforme do marido, empregado de uma fábrica que usa o minério.
As doenças relacionadas ao amianto afetam principalmente o sistema respiratório e podem se manifestar a partir de dez anos de exposição -incluem desde casos de câncer pulmonar até asbestose (doença que vai endurecendo o pulmão até transformá-lo em pedra), doenças pleurais (que afetam o tecido que reveste o pulmão) e diafragmáticas (que limitam a capacidade respiratória e podem ocasionar asfixia e morte).
"São doenças progressivas e irreversíveis. Não têm cura", diz o médico Hermano Albuquerque de Castro, da Fiocruz (Fundação Oswaldo do Cruz) do Rio.
Levantamento feito pela auditora fiscal Fernanda Giannasi em 15 empresas que usam a matéria-prima mostra que já foram comprovadas, desde 1994, 52 mortes, 8 casos de diferentes tipos de câncer, 149 asbestoses e 234 doenças pleurais, além de 257 casos de outros tipos de doenças pulmonares que impedem o trabalho.
Para chegar a esses números, a auditora usou laudos, exames e dados de indenizações de pelo menos cinco entidades -Abrea (Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto), da Fundacentro, do Incor (Instituto do Coração), da Fiocruz e da Unicamp.
Na Fiocruz, cerca de 300 empregados e ex-funcionários de uma indústria têxtil do Rio estão sob acompanhamento médico. "Esses trabalhadores têm de ser acompanhados por 30 anos após deixarem a empresa, já que as doenças demoram para aparecer", diz Castro.
"Todos no departamento pessoal diziam que o amianto não fazia mal", afirma Euclides Baciga, 56, ex-funcionário de uma fábrica de lonas para freios de Osasco.
Após 18 anos de contato com o amianto, descobriu que sofria de asbestose. Decidiu processar a empresa e pediu indenização de R$ 100 mil.
"Não durmo direito, tenho dificuldade para respirar e sinto muito cansaço", diz Baciga, que ainda aguarda a decisão da Justiça.
Ex-funcionário da Eternit, Antonio Grandini, 77, recebeu R$ 20 mil e um plano de saúde pela asbestose que adquiriu após nove anos de trabalho. Procurada pela Folha, a diretoria da Eternit não quis se pronunciar. (CR e FF)

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