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No país, 300 mil
estão expostos
à substância
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 300 mil pessoas estão
expostas ao amianto no Brasil. Os
números são da Fundacentro, entidade ligada ao Ministério do
Trabalho. Desse total, 15% estão
empregados nas indústrias de mineração, fibrocimento e de pastilhas para freios, informa Eduardo
Algranti, médico e pesquisador
da fundação. Fora da chamada indústria típica, explica, não há controle sobre as conseqüências da
exposição nem estudos no país
que comprovem a contaminação.
"Banir o uso do amianto é importante porque, além dos trabalhadores e ex-funcionários, há um
número ainda maior de pessoas
indiretamente expostas", afirma.
A exposição, diz, pode ocorrer
numa oficina mecânica -quando se faz a troca de uma pastilha
de freio-, na construção civil
-ao se instalar uma caixa-d'água
ou trabalhar em uma demolição- ou até mesmo na comunidade, quando a mulher lava o uniforme do marido, empregado de
uma fábrica que usa o minério.
As doenças relacionadas ao
amianto afetam principalmente o
sistema respiratório e podem se
manifestar a partir de dez anos de
exposição -incluem desde casos
de câncer pulmonar até asbestose
(doença que vai endurecendo o
pulmão até transformá-lo em pedra), doenças pleurais (que afetam o tecido que reveste o pulmão) e diafragmáticas (que limitam a capacidade respiratória e
podem ocasionar asfixia e morte).
"São doenças progressivas e irreversíveis. Não têm cura", diz o
médico Hermano Albuquerque
de Castro, da Fiocruz (Fundação
Oswaldo do Cruz) do Rio.
Levantamento feito pela auditora fiscal Fernanda Giannasi em 15
empresas que usam a matéria-prima mostra que já foram comprovadas, desde 1994, 52 mortes,
8 casos de diferentes tipos de câncer, 149 asbestoses e 234 doenças
pleurais, além de 257 casos de outros tipos de doenças pulmonares
que impedem o trabalho.
Para chegar a esses números, a
auditora usou laudos, exames e
dados de indenizações de pelo
menos cinco entidades -Abrea
(Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto), da Fundacentro,
do Incor (Instituto do Coração),
da Fiocruz e da Unicamp.
Na Fiocruz, cerca de 300 empregados e ex-funcionários de uma
indústria têxtil do Rio estão sob
acompanhamento médico. "Esses trabalhadores têm de ser
acompanhados por 30 anos após
deixarem a empresa, já que as
doenças demoram para aparecer", diz Castro.
"Todos no departamento pessoal diziam que o amianto não fazia mal", afirma Euclides Baciga,
56, ex-funcionário de uma fábrica
de lonas para freios de Osasco.
Após 18 anos de contato com o
amianto, descobriu que sofria de
asbestose. Decidiu processar a
empresa e pediu indenização de
R$ 100 mil.
"Não durmo direito, tenho dificuldade para respirar e sinto muito cansaço", diz Baciga, que ainda
aguarda a decisão da Justiça.
Ex-funcionário da Eternit, Antonio Grandini, 77, recebeu R$ 20
mil e um plano de saúde pela asbestose que adquiriu após nove
anos de trabalho. Procurada pela
Folha, a diretoria da Eternit não
quis se pronunciar.
(CR e FF)
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