São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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SOL ENGANADOR

Clima mais ameno e chuvoso reduz venda de produtos típicos da estação; só shopping centers comemoram

Biquíni e cerveja encalham em "verão frio"

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Faltou sol, e a chuva não deu trégua no verão. Como resultado, produtos típicos da estação encalharam nas prateleiras das lojas, nos quiosques de praia e nos isopores de ambulantes.
Com 65% do seu faturamento nos meses quentes (outubro a março), as cervejarias venderam, no país inteiro, 3,5% menos no acumulado de outubro a janeiro do que em igual período de 2003. Segundo o Sindicerv (Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja), o consumo caiu em 100 mil litros do produto no período.
"O tempo mais frio do que o normal prejudicou. Mas o principal motivo foi a chuva, que afasta as pessoas do convívio social, dos bares, das praias. Ninguém bebe sozinho", disse Marcos Mesquita, superintendente do Sindicerv.
Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), em fevereiro deste ano a média das temperaturas máximas em São Paulo foi de 26,9 -abaixo da registrada em igual mês de 2003 (31,6). Também choveu mais: 333,1 milímetros no mês, contra 109,4 milímetros em fevereiro de 2003.
No Rio, o verão foi bem ameno: a média das temperaturas máximas ficou 6,3 menor do que em fevereiro de 2003.
Não só as cervejarias perderam no "verão frio". Empresas de roupas, latas de alumínio e a indústria do turismo também reclamam.
A Blue Man, confecção de moda praia, vendeu menos por causa das temperaturas mais baixas e da chuva. A queda foi de 4% em relação a 2003. Uma frase do dono da Blue Man, David Azulay, resume o sentimento dos que perderam no verão: "A nossa moeda é o sol, que não pintou neste ano".
A Rosa Chá, do mesmo segmento, informou que a cada ano o faturamento subia 20% na estação. Em 2004, porém, os negócios ficaram estáveis. "A gente tem certeza de que não registrou crescimento por causa da temperatura. Neste verão, só teve chuva. Como as pessoas vão comprar biquínis com esse tempo?", questionou Amir Slama, dono da grife.
O tempo chuvoso só favoreceu os shopping centers, que registraram um aumento de vendas de 5,2% em janeiro, de acordo com a Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers). Na área de lazer e entretenimento dos shoppings (especialmente cinemas), houve uma expansão de 21,5%.
A Embratur não possui dados mensais, mas os agentes de viagens e hotéis dizem que o verão poderia ter sido muito melhor.
"O crescimento nas vendas de pacotes foi de 5%, mas poderia ter sido bem melhor se o clima tivesse ajudado. Só houve expansão porque a temporada de 2003 foi péssima", disse Leonel Rossi Júnior, diretor da Abav (Associação Brasileira de Agentes de Viagem).

Nordeste
Vendedores ambulantes de praias de Fortaleza tiveram de usar a criatividade e ter muita paciência para conseguir manter as vendas em alta nos meses de janeiro e fevereiro, quando as chuvas afastaram os turistas, alguns dias, da avenida Beira-mar, principal corredor turístico da cidade.
Vendedor de óculos escuros há um ano, Antônio Lindomar da Silva, 27, diz que, nos dias chuvosos, teve de andar um pouco mais e mudar o trajeto para manter as vendas, mas que valeu a pena. "Tinha de aproveitar na frente dos hotéis, na hora em que os turistas saem para os passeios", afirmou Silva.


Colaborou Kamila Fernandes, da Agência Folha, em Fortaleza

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