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LEGADO JURÍDICO
Segundo o fisco, BofA praticou irregularidades com ações no país; instituição não quis comentar denúncias
Banco já sofreu autuações de R$ 300 mi
DA REPORTAGEM LOCAL
Operações de aluguel de ações
feitas pelo Bank of America Liberal e por sua corretora em 1998 e
1999 levaram a Receita Federal a
aplicar autuações ao grupo que,
segundo a Folha apurou, aproximam-se de R$ 300 milhões.
O fisco concluiu que os preços
das ações tinham sido manipulados para que o banco tivesse prejuízo. A perda provocou uma redução da base tributável da instituição, o que levou à autuação pela Receita equivalente a 150% do
imposto devido.
Operações de aluguel de ações,
associadas à venda desses papéis,
são bastante comuns no mercado
financeiro. São instrumentos extremamente complicados e desenhados para levantar recursos.
Dependendo da valorização das
ações no meio dessas operações,
as empresas nelas envolvidas podem amargar prejuízos ou obter
lucro ao final do processo.
O BofA teve prejuízo ao fazer essas operações, em 1998, com
ações da Enertel Energia e Telecomunicações Participações e da
Tegener Participações, então recém-constituídas e hoje fechadas.
Os preços dos papéis, até então
pouco negociados, dispararam.
Os ganhos que o BofA conseguiu
com os recursos levantados foram superados pelos prejuízos
acarretados com a alta dos papéis.
Chamou a atenção do fisco também o fato de que todas as empresas envolvidas no negócio tinham, de certa forma, vínculos
com o Bank of America Liberal.
Além disso, fundos de investimentos estrangeiros, que não estão sujeitos à tributação brasileira,
representados pelo BofA no país
tiveram altos lucros com as ações
da Enertel e da Tegener durante a
vigência do contrato.
Hoje, as autuações da Receita
tramitam em segunda instância
no Conselho de Contribuintes.
Por causa dessa operação, o BofA
também enfrenta investigações
da Polícia Federal e do Ministério
Público e inquérito da CVM.
Ao mesmo tempo em que paga
advogados para tentar derrubar a
autuação do fisco que envolve
suspeita de desvio de recursos, o
BofA processa um dos ex-sócios
do Liberal, Antônio Carlos Lemgruber, nos Estados Unidos, também por suposto desfalque de dinheiro no exterior. De acordo
com o BofA, Lemgruber teria desfalcado US$ 38 milhões do Liberal
antes de o banco norte-americano adquirir 100% do seu controle,
em 2001.
Além de Lemgruber, o Bank of
America processa 15 empresas no
Brasil e no exterior que também
teriam participado da fraude. O
interessante é que algumas dessas
companhias, como a Dellaware
Asset Management, também estão envolvidas na operação de
aluguel de ações autuada pela Receita. Ou seja, ao mesmo tempo
que processa essas empresas nos
Estados Unidos, o BofA as defende no Brasil.
Dois outros ex-sócios do Liberal, Aldo Floris e Lauro de Luca,
também estavam sendo processados pelo BofA, acusados de negligência no caso do desfalque. Mas,
em março de 2003, o banco anunciou que retirara a acusação contra os dois. Em troca, de Luca e
Floris encerraram processos que
moviam contra o banco.
Outro lado
Procurados pela Folha nos EUA
e por meio de seus advogados no
Brasil, o Bank of America não
quis dar entrevista.
Lemgruber disse que recebera
orientação de seu advogado para
não comentar o assunto. Floris e
de Luca disseram que não têm
mais nenhuma pendência com o
BofA.
(ÉRICA FRAGA)
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