São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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Auditoria da CVM vê gestão temerária de fundos

DA REPORTAGEM LOCAL

Operações irregulares, que caracterizam possível gestão temerária, levaram a perdas de 2% a 26% amargadas, em junho de 2002, por seis fundos administrados pelo Bank of America. Essa foi a conclusão da Superintendência de Fiscalização Externa da CVM, segundo documento sigiloso ao qual a Folha teve acesso.
Os auditores da CVM apresentaram, em novembro de 2002, um termo de acusação contra a corretora e a empresa de administração de recursos (asset management) do Bank of America e contra José Alfredo Lamy e José Alfredo da Justa, diretores responsáveis pela gestão dos fundos.
Concluíram que, entre os dias 6 e 18 de junho de 2002, as perdas amargadas pelos fundos não foram devidamente refletidas nas cotas dos mesmos, que ficaram, com isso, sobrevalorizadas.
Ou seja, a rentabilidade apresentada pelos fundos naquele período era irreal, não refletindo o seu desempenho ruim e iludindo os investidores.
Em depoimento à CVM, Lamy teria admitido que a avaliação sobre os ativos que compunham as carteiras dos fundos no início de junho de 2002 foram feitas de maneira "subjetiva e inconsistente", "sem o respaldo de um critério técnico passível de verificação".
Procurados, Lamy e da Justa, atualmente sócios em uma empresa de gestão de recursos, não retornaram as ligações.
A fiscalização apurou também que, em maio de 2002, o fundo Multicarteira Arrojado havia assumido riscos maiores que os previstos em seu regulamento e nos prospectos distribuídos aos clientes. Posteriormente, em junho, esse fundo teve rentabilidade negativa de 24%.
Os auditores também acusam o BofA de embaraço à fiscalização por não atender à intimação para prestação de informações.
Embora as conclusões do relatório da equipe de fiscalização sejam contundentes, a autarquia, responsável pela fiscalização do mercado de fundos, não concluiu até hoje o inquérito que investiga essas operações.
A Folha apurou que o BofA chegou a apresentar à CVM, no ano passado, um "termo de compromisso", no qual se ofereceu a pagar um curso sobre mercado financeiro aos investidores lesados pelas perdas nos fundos. Se aceitar a proposta, a CVM, automaticamente, suspenderá o processo em relação ao banco.
Procurada para explicar a demora do julgamento, a Comissão de Valores Mobiliários não concedeu entrevista.
Ainda em 2002, o Bank of America fechou acordos com a maior parte dos investidores que sofreram perdas. De forma geral, o banco ressarciu entre 30% e 50% dos valores perdidos.
Mas existem grandes investidores que aguardavam uma decisão da CVM para tentar conseguir um acordo melhor e agora já cogitam ingressar com ações contra o BofA na Justiça. Os problemas com os fundos do banco abalaram fortemente sua credibilidade no Brasil, contribuindo para a saída do banco do país. A empresa de asset do BofA foi adquirida pelo HSBC em março de 2003. (EF)


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