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Auditoria da CVM vê gestão temerária de fundos
DA REPORTAGEM LOCAL
Operações irregulares, que caracterizam possível gestão temerária, levaram a perdas de 2% a
26% amargadas, em junho de
2002, por seis fundos administrados pelo Bank of America. Essa
foi a conclusão da Superintendência de Fiscalização Externa da
CVM, segundo documento sigiloso ao qual a Folha teve acesso.
Os auditores da CVM apresentaram, em novembro de 2002, um
termo de acusação contra a corretora e a empresa de administração de recursos (asset management) do Bank of America e contra José Alfredo Lamy e José Alfredo da Justa, diretores responsáveis pela gestão dos fundos.
Concluíram que, entre os dias 6
e 18 de junho de 2002, as perdas
amargadas pelos fundos não foram devidamente refletidas nas
cotas dos mesmos, que ficaram,
com isso, sobrevalorizadas.
Ou seja, a rentabilidade apresentada pelos fundos naquele período era irreal, não refletindo o
seu desempenho ruim e iludindo
os investidores.
Em depoimento à CVM, Lamy
teria admitido que a avaliação sobre os ativos que compunham as
carteiras dos fundos no início de
junho de 2002 foram feitas de maneira "subjetiva e inconsistente",
"sem o respaldo de um critério
técnico passível de verificação".
Procurados, Lamy e da Justa,
atualmente sócios em uma empresa de gestão de recursos, não
retornaram as ligações.
A fiscalização apurou também
que, em maio de 2002, o fundo
Multicarteira Arrojado havia assumido riscos maiores que os previstos em seu regulamento e nos
prospectos distribuídos aos clientes. Posteriormente, em junho, esse fundo teve rentabilidade negativa de 24%.
Os auditores também acusam o
BofA de embaraço à fiscalização
por não atender à intimação para
prestação de informações.
Embora as conclusões do relatório da equipe de fiscalização sejam contundentes, a autarquia,
responsável pela fiscalização do
mercado de fundos, não concluiu
até hoje o inquérito que investiga
essas operações.
A Folha apurou que o BofA chegou a apresentar à CVM, no ano
passado, um "termo de compromisso", no qual se ofereceu a pagar um curso sobre mercado financeiro aos investidores lesados
pelas perdas nos fundos. Se aceitar a proposta, a CVM, automaticamente, suspenderá o processo
em relação ao banco.
Procurada para explicar a demora do julgamento, a Comissão
de Valores Mobiliários não concedeu entrevista.
Ainda em 2002, o Bank of America fechou acordos com a maior
parte dos investidores que sofreram perdas. De forma geral, o
banco ressarciu entre 30% e 50%
dos valores perdidos.
Mas existem grandes investidores que aguardavam uma decisão
da CVM para tentar conseguir
um acordo melhor e agora já cogitam ingressar com ações contra o
BofA na Justiça. Os problemas
com os fundos do banco abalaram fortemente sua credibilidade
no Brasil, contribuindo para a saída do banco do país. A empresa
de asset do BofA foi adquirida pelo HSBC em março de 2003.
(EF)
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