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Empresa nos EUA "maquia" compra de turista
De propriedade de brasileiros, firmas transportam para o país produtos novos como se fossem itens de mudança e driblam a Receita
Pelas regras da Receita, se estiver "desacompanhada"
a bagagem é isenta de tributos, mas nesse caso
há o crime de descaminho
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Por uma taxa de serviço que
varia de US$ 150 a US$ 350,
empresas que pertencem a brasileiros e estão sediadas nos Estados Unidos oferecem o envio
de produtos novos para o Brasil
sem o pagamento de impostos,
o que é proibido pela lei.
Para isso, essas empresas de
transporte simulam que computadores, eletroeletrônicos,
roupas e brinquedos comprados por turistas nos EUA -ou
até mesmo pela internet, por
quem está no Brasil- são artigos de uso pessoal que fazem
parte de mudança de pessoas
que residiam fora e estão retornando ao país. Pelas normas da
Receita Federal, itens que fazem parte de mudança (bagagem desacompanhada) são
isentos de tributos.
Quem opta por esse serviço
recebe até orientação para retirar as embalagens dos produtos
para não parecerem novos, antes de colocá-los em caixas que
serão enviadas ao Brasil.
Funcionários de quatro empresas -Status Baby Moving,
Mundial Moving, Fastway Moving e Interact Moving- informaram à Folha que o envio de
mercadorias para o Brasil nessas caixas (de tamanhos que
variam de 0,70 m a 1,20 m de
altura e 0,45 m a 0,60 m de largura) é seguro. Dizem que a fiscalização quase não existe no
país e que entre 60 e 90 dias os
produtos são entregues na
"porta" da casa do cliente.
"Tem de ser feito como a empresa orienta. Não pode ter
mais do que 15 perfumes, cremes ou xampus iguais. No total, pode ter 15 produtos, mas
variados, para não caracterizar
comércio. Pode trazer na caixa
um laptop, um DVD, um videogame e outro eletroeletrônico,
no máximo. Tudo fora da embalagem para não parecer novo", diz, por telefone, uma funcionária da Fastway Moving.
A empresa iniciou suas operações na Flórida no setor de
mudanças e hoje tem filiais em
Massachusetts, Connecticut,
Nova Jersey e Pensilvânia.
Um funcionário da Mundial
Moving diz que laptop não pode ser enviado; desktop, sim.
"As caixas vão para o Brasil como bagagem desacompanhada,
assim não há incidência de impostos sobre os produtos."
A Mundial entrega e recolhe
caixas para os clientes também
em hotéis. "Tem de obedecer
as regras. Se colocar 200 cremes, seis laptops, 30 fones
iguais na mesma caixa, a possibilidade de parar na alfândega
é maior", diz esse funcionário.
As mesmas dicas são dadas
por atendentes da Status Baby
Moving e da Interact Moving.
"Nesse esquema, [o envio] tem
de ficar caracterizado como
mudança. Tem de ter bom senso, colocar roupas variadas e
não dez itens semelhantes", diz
um funcionário da Interact, no
mercado há 16 anos.
Ao ser questionado sobre o
risco de as caixas serem barradas na alfândega brasileira, ele
responde: "Só mando quando
tenho certeza de que está tudo
bem. Se meu embarcador falar
que não é um bom momento,
espero a hora certa".
Quem mais usa esses serviços, segundo as empresas, são
brasileiros com maior poder
aquisitivo, que viajam com frequência aos EUA e querem se
livrar de malas pesadas. As empresas chegam a embarcar para
o Brasil um contêiner lotado
dessas caixas a cada dez dias.
Crime de descaminho
Empresas e pessoas que enviam produtos novos disfarçados de usados praticam crime
de descaminho (importação
sem pagar tributos), informa
Everardo Maciel, ex-secretário
da Receita Federal. O que ocorre, segundo ele, é que o Ministério Público não oferece denúncia quando essa situação é
flagrada, porque os produtos
têm baixo valor e são considerados crimes de bagatelas.
"Essa situação não me surpreende. A maioria dos produtos vem de Miami sem vistoria
porque os EUA não estão preocupados com exportação e, sim,
com importação", diz Maciel.
E como só 2% dos contêineres que chegam ao país são revistados, o esquema é fácil de
ser feito, dizem auditores da
Receita em São Paulo.
O número de empresas que
faz esse serviço nos EUA, principalmente em Miami, cresce a
cada ano. São comuns anúncios
em jornais dedicados à comunidade brasileira, especialmente na Flórida. Algumas até fazem promoções -do tipo
"mande 5 e pague 4" ou "se, em
90 dias você mandar cinco caixas, a sexta será gratuita".
Até no YouTube há vídeos
com dicas que ensinam como
"trazer" os produtos (com plástico bolha e sem embalagens,
para mostrar que as mercadorias são usadas) para simular o
transporte como se fosse mudança residencial.
Produtos importados no valor de até US$ 50 por via postal
ou expressa por courier, sem
fim comercial, estão isentos de
impostos. Acima desse valor,
qualquer produto importado
está sujeito à tributação, como
Imposto de Importação, IPI,
PIS, Cofins e ICMS.
O valor máximo de bens a serem importados pelo sistema
de remessas expressas é de até
US$ 3.000. Nesse caso, a tributação é de 60% sobre o valor da
fatura, acrescido de custos de
transporte e de seguro.
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