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São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

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PETRÓLEO

Auto-suficiência na produção é adiada para 2006

Nacionalismo do novo plano da Petrobras preocupa especialistas

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O viés nacionalista do novo plano estratégico da Petrobras, anunciado na sexta-feira, preocupa analistas especializados no mercado de petróleo. "O que está parecendo é que os interesses políticos vão prevalecer sobre os interesses empresariais", disse Adriano Pires Rodrigues, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura).
O plano adia de 2005 para 2006 o propósito de atingir a auto-suficiência na produção de petróleo. Isso representa uma redução de 80 mil barris diários na meta para 2005 (de 1,9 milhão para 1,82 milhão de barris/dia). A principal justificativa para a queda é o adiamento de prazos de aquisição de equipamentos para aumentar seus índices de nacionalização.
A estatal anunciou também que não comprará uma refinaria no exterior, como planejado, e que construirá no país -o que estava descartado- uma unidade de refino com capacidade para processar 150 mil barris/dia de petróleo. Os investimentos para o período 2003-2007 serão de US$ 34,3 bilhões, 4% menos que o previsto no plano para 2000-2005.
"Fomentar a indústria nacional deve ser só uma parte do processo, não o carro-chefe. A Petrobras não é mais o braço estatal operando a indústria do petróleo no país. Hoje tem compromissos com parceiros e investidores do país e do exterior", diz Jean-Paul Prates, diretor da consultoria Expetro.
Rodrigues, do CBIE, é mais radical. "Acho que o país deve estimular a indústria nacional, mas esse é um papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, estatal, responsável pela quase totalidade dos financiamentos de longo prazo à produção no Brasil).
Para ele, a Petrobras pode até priorizar a indústria nacional, desde que ela ofereça preços e qualidade pelo menos iguais aos dos concorrentes estrangeiros.
Prates avalia que qualquer estímulo à indústria nacional deve ter como contrapartida seu esforço para ganhar o mercado internacional, tornando-se competitiva em preço, prazo e qualidade. "Sem isso, corremos o risco de voltar ao perigoso caminho da reserva de mercado."
Prates acha que o governo está conduzindo bem a política macroeconômica e que as mudanças nos planos da empresa podem estar ligadas a uma estratégia mais ampla para o setor energético.
"Agora, se você diz que adiou deliberadamente para ajeitar as condições e comprar no Brasil, o investidor vai ficar ressabiado."
Rodrigues considera também um erro do novo plano estratégico a evidência de que a Petrobras está adiando ou até abandonando seu projeto de internacionalização. "Se continuar prevalecendo a idéia de abertura do mercado de petróleo, ela tende a perder participação relativa no mercado brasileiro. A internacionalização é o caminho para ela compensar essa perda e até para que tenha parte do seu faturamento em dólares, o que facilita a captação de investimentos externos."


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