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PETRÓLEO
Auto-suficiência na produção é adiada para 2006
Nacionalismo do novo plano da Petrobras preocupa especialistas
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O viés nacionalista do novo plano estratégico da Petrobras,
anunciado na sexta-feira, preocupa analistas especializados no
mercado de petróleo. "O que está
parecendo é que os interesses políticos vão prevalecer sobre os interesses empresariais", disse
Adriano Pires Rodrigues, diretor
do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura).
O plano adia de 2005 para 2006
o propósito de atingir a auto-suficiência na produção de petróleo.
Isso representa uma redução de
80 mil barris diários na meta para
2005 (de 1,9 milhão para 1,82 milhão de barris/dia). A principal
justificativa para a queda é o adiamento de prazos de aquisição de
equipamentos para aumentar
seus índices de nacionalização.
A estatal anunciou também que
não comprará uma refinaria no
exterior, como planejado, e que
construirá no país -o que estava
descartado- uma unidade de refino com capacidade para processar 150 mil barris/dia de petróleo.
Os investimentos para o período
2003-2007 serão de US$ 34,3 bilhões, 4% menos que o previsto
no plano para 2000-2005.
"Fomentar a indústria nacional
deve ser só uma parte do processo, não o carro-chefe. A Petrobras
não é mais o braço estatal operando a indústria do petróleo no país.
Hoje tem compromissos com
parceiros e investidores do país e
do exterior", diz Jean-Paul Prates,
diretor da consultoria Expetro.
Rodrigues, do CBIE, é mais radical. "Acho que o país deve estimular a indústria nacional, mas
esse é um papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social, estatal, responsável pela quase totalidade
dos financiamentos de longo prazo à produção no Brasil).
Para ele, a Petrobras pode até
priorizar a indústria nacional,
desde que ela ofereça preços e
qualidade pelo menos iguais aos
dos concorrentes estrangeiros.
Prates avalia que qualquer estímulo à indústria nacional deve ter
como contrapartida seu esforço
para ganhar o mercado internacional, tornando-se competitiva
em preço, prazo e qualidade.
"Sem isso, corremos o risco de
voltar ao perigoso caminho da reserva de mercado."
Prates acha que o governo está
conduzindo bem a política macroeconômica e que as mudanças
nos planos da empresa podem estar ligadas a uma estratégia mais
ampla para o setor energético.
"Agora, se você diz que adiou
deliberadamente para ajeitar as
condições e comprar no Brasil, o
investidor vai ficar ressabiado."
Rodrigues considera também
um erro do novo plano estratégico a evidência de que a Petrobras
está adiando ou até abandonando
seu projeto de internacionalização. "Se continuar prevalecendo a
idéia de abertura do mercado de
petróleo, ela tende a perder participação relativa no mercado brasileiro. A internacionalização é o
caminho para ela compensar essa
perda e até para que tenha parte
do seu faturamento em dólares, o
que facilita a captação de investimentos externos."
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