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MCI ajudou Telmex a redigir proposta
DE NOVA YORK
De um lado, indícios de tratamento diferenciado dado pela
MCI à mexicana Telmex no processo de venda da Embratel e o
testemunho do economista e ex-presidente do Cade (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica), Gesner Oliveira.
Do outro, a alegação de que a
venda para empresas de telefonia
fixa poderia trazer objeções das
agências regulatórias brasileiras e
a afirmação de que a empresa
americana, escaldada por processos de fraudes fiscais, poderia danificar sua imagem ao fazer negócios com empresas suspeitas de
formarem cartel no Brasil.
Após nove horas, com intervalo
para almoço, de apresentação de
argumentos, documentos e interrogatório de testemunhas pelos
advogados da MCI e do consórcio
Calais, o juiz Arthur Gonzalez, da
Corte de Falências de Nova York,
decidiu aprovar a venda da Embratel para a Telmex.
Logo na apresentação inicial de
seu caso, os advogados da empresa americana trouxeram o argumento novo de que a MCI não estava "disposta a ser envolvida,
mesmo colateralmente, com acusações criminais".
"Há uma potencial acusação
por crime de formação de cartel",
disseram, para em seguida fazer
referência à matéria da Folha do
último domingo, que dava conta
da apreensão, na mesa do vice-presidente da Telefônica, em São
Paulo, de documento interno prevendo alinhar "tarifas pelo teto"
se as empresas fixas conseguissem comprar a Embratel.
Sem entrar no mérito do caso, a
MCI afirmou que a possibilidade
de venda para a Telmex não trazia
consigo "artigos sobre batidas policiais" ou riscos de "investigação
criminal".
Os advogados do consórcio Calais conseguiram o principal fundamento de sua defesa da anulação da venda para a Telmex -baseada no argumento de favorecimento dado à mexicana, que fez
oferta final de US$ 400 milhões,
inferior à proposta de US$ 550 do
grupo- no depoimento de um
dos funcionários do banco Lazard
Frères, que prestou consultoria
para a MCI no processo de venda
da Embratel.
Larry Grabstein admitiu que a
empresa mexicana de telefonia
negociou com a americana um
padrão de acordo, com sugestões
de redação da proposta de compra dos mexicanos -o que não
foi feito com o consórcio brasileiro. O consultor disse que a proposta inicial de redação teria sido
feita pela Telmex, mas teria recebido sugestões de ambos os lados.
Grabstein reconheceu ainda,
diante da pressão de um dos advogados do consórcio, que a ata
da reunião do dia 12 de março,
quando a diretoria da MCI tomou
a decisão, registra que a escolha
da Telmex foi feita antes mesmo
que a oferta das teles brasileiras
fosse recebida pela empresa americana. Ele afirmou, no entanto,
que a decisão definitiva só seria
tomada após o recebimento da
proposta do consórcio.
Chamado como testemunha
das teles, Gesner Oliveira, colunista da Folha, disse que o caso da
Calais seria analisado pelo Cade
da mesma maneira que provavelmente também seria a venda para
a Telmex. Afirmou ainda não ver
razão para que a MCI temesse, baseando-se na proposta apresentada pelo consórcio, algum desenrolar criminal da venda da Embratel para as teles. Ainda segundo ele, o Cade não necessariamente recusaria a venda como
um todo, caso encontrasse problemas, mas poderia determinar
ajustes "que diminuíssem o impacto negativo no mercado".
Oliveira foi questionado pelos
advogados do consórcio sobre a
posição do ministro José Dirceu
(Casa Civil) sobre a venda, e disse
ter a impressão, retirada de artigos de imprensa, que Dirceu seria
favorável ao negócio com o grupo
brasileiro.
Um dos advogados da MCI
questionou a competência do ex-presidente do Cade para falar sobre assuntos jurídicos, perguntando se ele era advogado. Após a
resposta negativa, citou um caso
referente ao consórcio Calais que
passou pelo Cade e está sendo
analisado pela Secretaria de Direito Econômico -ligada à Justiça-, e pediu ao juiz que a declaração de Oliveira sobre implicações criminais fosse desconsiderada pela corte.
A equipe da MCI tratou ainda
de tentar deslegitimar as credenciais de Oliveira, apresentadas à
corte pelas teles. Questionado se
estava sendo pago para dar o depoimento, respondeu que sim.
Como consultor da empresa Tendências, disse, recebia US$ 133
por hora.
(RAFAEL CARIELLO)
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