|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CURTO-CIRCUITO
Norte-americana pediu empréstimo ao banco para comprar parte da Cemig, estatal mineira de energia
BNDES cobra na Justiça outra dívida da AES
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) e a norte-americana AES,
que se desentenderam durante
quase todo o ano de 2003, prometem travar um segundo round em
2004. O banco estatal entrou na
Justiça neste mês contra a empresa. Cobra outra dívida, de US$ 750
milhões (cerca de R$ 2,2 bilhões).
No fim do ano passado, o
BNDES e a AES chegaram a um
acordo sobre dívida de US$ 1,2 bilhão, remanescente de dois empréstimos tomados para a compra do controle da Eletropaulo.
A multinacional estava inadimplente desde janeiro do ano passado. Pelo acordo, o BNDES passou a ser sócio (50% menos uma
ação) da Brasiliana, empresa formada com a maior parte dos bens
da AES no Brasil.
A AES ficou com um débito remanescente de US$ 510 milhões,
que será pago em 11 anos, com
três de carência. O BNDES perdoou juros de mora de US$ 193
milhões, condicionando a que a
AES não fique inadimplente.
Cemig
Agora, o débito é da SEB (Southern Electric Brasil), empresa
controlada pela AES. A SEB é dona de 32,96% do capital votante
da Cemig (Companhia Energética
de Minas Gerais). Para o diretor
da área financeira do BNDES, Roberto Timótheo da Costa, "não
está descartada" a hipótese de o
banco ocupar o lugar da AES como sócia da estatal mineira.
"Foi para o pau. [no jargão dos
negócios, foi para cobrança judicial] É isso o que eu quero? Não",
disse Costa. Segundo ele, há boas
possibilidades de haver uma solução negociada até o final do ano.
De acordo com o diretor do
BNDES, as negociações sobre a
dívida estavam quase paradas e o
recurso à cobrança judicial é uma
forma de trazer a direção da AES
de volta à mesa. "Quando vai para
a Justiça, aparece toda a galera
com várias propostas."
A negociação no caso da SEB é
tripartite, envolvendo também o
governo de Minas Gerais, controlador da Cemig. A SEB havia comprado a participação na Cemig
em maio de 1997, pagando um
preço maior que o de mercado.
Em troca, foi assinado um acordo de acionistas com a administração do então governador
Eduardo Azeredo (PSDB) pelo
qual a multinacional assumiria a
gestão da empresa elétrica.
Em 1999 o ex-presidente da República Itamar Franco assumiu o
governo mineiro e decidiu romper o acordo, iniciando uma disputa judicial que ainda não terminou. No começo do ano passado,
a SEB ficou inadimplente com o
banco estatal.
O acordo sobre a dívida ligada à
Eletropaulo permitiu que o
BNDES evitasse o maior prejuízo
da sua história, acima de R$ 2 bilhões, transformando-o em um
lucro de R$ 1,039 bilhão.
Desta vez, segundo Costa, como
a dívida da SEB está totalmente
provisionada, se não houver acordo o impacto financeiro já está
absorvido. Se houver acordo, o
balanço do banco melhora substancialmente porque os mais de
R$ 2 bilhões provisionados voltam a ficar disponíveis.
A direção da AES no Brasil não
quis comentar a decisão do
BNDES. A Folha apurou que a
empresa considera que foi uma
iniciativa normal no processo de
tramitação de uma tentativa de
recuperação de um crédito pelo
banco e que não atrapalha as negociações em andamento.
Texto Anterior: O vaivém das commodities Próximo Texto: Legislação: Projeto favorece dívida bancária em falências Índice
|