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Bolívia quer fluxo de caixa de refinarias da Petrobras
Governo ameaça publicar decreto na terça, tornando a estatal uma prestadora de serviço
Anunciada na campanha eleitoral brasileira, medida foi arquivada após protesto de Lula; ação ocorreria 1 ano após nacionalização
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
A Bolívia avisou à Petrobras
que promulgará um decreto na
terça-feira, dia 1º de maio, pelo
qual seqüestrará o fluxo de caixa das duas refinarias da empresa no país.
A medida é considerada inaceitável pela Petrobras, que
promete levar o caso à arbitragem internacional caso a ameaça seja de fato implementada
pelo governo do presidente Evo
Morales.
A decisão boliviana foi informada durante a última reunião
entre as duas partes, realizada
anteontem à noite, em La Paz,
segundo a Folha apurou.
O decreto previsto para terça-feira, primeiro aniversário
do decreto de nacionalização
do setor, é praticamente uma
reedição de uma resolução implantada em setembro passado, que rebaixava a Petrobras a
prestadora de serviço com o
objetivo declarado de diminuir
seu valor de mercado e pressionar a venda.
Se implementada, a medida
fará com que a produção das
refinarias da Petrobras seja
considerada propriedade do
governo boliviano, e não da estatal brasileira, como acontece
hoje.
Com isso, todo o dinheiro
obtido pela venda irá diretamente à YPFB, que então remuneraria a empresa brasileira. A Petrobras classifica a medida de "confisco".
Na época em que o decreto
do fluxo de caixa foi divulgado,
em plena campanha eleitoral
brasileira, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva reagiu de
forma dura à resolução, levando ao recuo do governo de Evo
Morales.
A medida foi congelada, e,
desautorizado, o então ministro dos Hidrocarbonetos, o radical Andrés Soliz Rada, pediu
demissão.
As duas refinarias da Petrobras e outras quatro ex-empresas estatais têm de voltar ao
controle da YPFB, segundo o
decreto de nacionalização do
ano passado. No entanto, não
houve nenhum acordo, levando o governo Morales a acelerar as negociações para concluí-las antes do aniversário de
terça-feira.
Como ocorreu no ano passado, Morales se encontrará com
o presidente venezuelano, Hugo Chávez, poucos dias antes
de 1º de maio. O presidente boliviano participará neste fim-de-semana da cúpula da Alba
(Alternativa Bolivariana das
Américas), bloco formado pelos dois países, por Cuba e pela
Nicarágua.
Chávez também pretende fazer um grande ato no dia 1º de
maio na faixa do Orinoco, considerada uma das maiores reservas de petróleo ainda não
exploradas do mundo. O evento marcará o início do controle
acionário do Estado sobre os
quatro empreendimentos em
operação na região.
Das seis multinacionais que
operam ali, apenas a americana
ConocoPhilips ainda não chegou a um acordo com o governo
venezuelano.
Impasse no preço
Com relação ao preço, os representantes do governo boliviano ainda insistem em pagar
US$ 50 milhões por 70% das
refinarias, condições consideradas inadmissíveis pela empresa brasileira.
O cálculo da Bolívia está baseado no valor patrimonial,
sem levar em conta investimentos realizados pela Petrobras, que estima um valor de
pelo menos US$ 160 milhões
para as duas plantas.
Compradas em 1999 por cerca de US$ 100 milhões, as duas
refinarias estão localizadas em
Cochabamba e Santa Cruz e são
responsáveis pelo abastecimento de praticamente todo o
mercado de derivados de petróleo da Bolívia.
O presidente vem sofrendo
desgastes políticos pelo atraso
nas medidas previstas pelo decreto. A principal delas foi o
atraso na protocolização dos
novos contratos de exploração
de gás provocado por erros de
revisão do próprio governo.
Na reunião de anteontem, a
Petrobras estava representada
pelo seu presidente na Bolívia,
José Fernando de Freitas. Do
lado boliviano, participaram o
ministro dos Hidrocarbonetos,
Carlos Villegas, e o presidente
da estatal YPFB, Guillermo
Aruquipa. Até ontem à tarde,
não havia nenhuma nova reunião marcada para tratar do assunto.
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