São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2008

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Brasil importa inflação de outros países

Preocupado, governo acompanha de perto a variação dos preços das commodities, principalmente petróleo e trigo

Adquiridas para modernizar as fábricas, máquinas puxam as importações brasileiras; aço em alta encarece os equipamentos

SHEILA D'AMORIM
IURI DANTAS

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mais do que produtos fabricados no exterior, o Brasil está importando a inflação de outros países. Embaladas por um consumo crescente e por deficiências na oferta, as importações, que tradicionalmente são um dos principais instrumentos para ajudar o governo a conter a sanha dos empresários por reajuste de preços em período de crescimento da economia, estão ajudando a puxar para cima o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
O governo acompanha o assunto com preocupação. Os principais produtos no radar oficial são o petróleo, cujo barril chegou a US$ 119,37 na terça-feira, e o trigo, que têm sido impulsionados pelo maior consumo em países emergentes. A gasolina representa quase 5% do IPCA e o petróleo repercute também em outros custos domésticos por causa, por exemplo, do frete. Já o trigo está incluído no grupo "alimentação e bebidas", que responde por quase 22% do índice.
"Acompanhamos o movimento das commodities, mas isso vem sendo parcialmente compensado no comércio exterior pelas exportações brasileiras de produtos básicos, os quais têm o preço em alta lá fora", avaliou o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral.
O crescimento da economia com pressão nos preços não é exclusividade do Brasil e também ocorre em economias emergentes na Ásia e em quase toda a América Latina. Como o Brasil compra dessas e de outras regiões produtos e serviços necessários para atender à demanda interna, acaba trazendo de lá a inflação.
Ao importar máquinas e equipamentos da China ou Índia para aumentarem a produção, por exemplo, empresas brasileiras incluem no pacote a inflação que está sendo registrada nos países de origem. De acordo com dados deste mês da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior), os bens de capital importados pelo Brasil tiveram crescimento de 9,6% no preço em dólar somente neste ano.
Na mesma situação estão alimentos, automóveis e mesmo bens de consumo não-duráveis, que vêm, entre outros lugares, do México e da Argentina. O índice de preço dos bens de consumo não-duráveis importados subiu 15,3% de janeiro a abril.
No ano passado, o índice global de preço dos produtos importados pelo Brasil já havia subido 8,2%. Como é uma média, esse valor combina reajustes bem maiores com outros menores.

Câmbio
Para o setor produtivo, o quadro se agravou com a valorização do real. "A indústria brasileira está morta, não tem produtos para concorrer com outros grandes, como a China, os custos são incompatíveis. Agora, com o câmbio favorável, importa-se tudo", afirma Roberto Segatto, presidente da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior).
Segundo a economista Zeina Latif, do banco Real, o Brasil não precisa necessariamente importar o produto para sentir os efeitos da alta no país de origem. "Somente o fato de a importação ser factível já é suficiente para a alta lá fora ser transferida para o preço doméstico. E isso vale para as exportações também", afirmou.
É exatamente isso que está acontecendo com o arroz. O Brasil tradicionalmente não é um grande exportador do cereal. Recentemente, porém, a venda externa ficou interessante pela alta do preço do produto no exterior.
Se há a possibilidade de vender mais caro lá fora, os empresários tendem, naturalmente, a equiparar o preço. Caso contrário, será mais vantagem direcionar toda a produção para o exterior, o que coloca em risco o abastecimento interno.

Máquinas
A necessidade da indústria de modernizar e aumentar a linha de produção é a principal responsável pelo aumento das importações brasileiras. Nesse caso, a cotação do aço e outras commodities metálicas influenciam fortemente o preço dos equipamentos.
Segundo Carlos Pastoriza, diretor da Abimaq (Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos), os importados já representam cerca de 50% do consumo aparente das fábricas, contra menos de 15% da década de 1980.
"Os bens de capital são facilmente exportáveis, o preço das máquinas é muito alto e vale a pena o esforço de trazer mesmo com o frete. Agora, houve algum aumento por conta do preço dos insumos."


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