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Brasil importa inflação de outros países
Preocupado, governo acompanha de perto a variação dos preços das commodities, principalmente petróleo e trigo
Adquiridas para modernizar
as fábricas, máquinas
puxam as importações
brasileiras; aço em alta
encarece os equipamentos
SHEILA D'AMORIM
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais do que produtos fabricados no exterior, o Brasil está
importando a inflação de outros países. Embaladas por um
consumo crescente e por deficiências na oferta, as importações, que tradicionalmente são
um dos principais instrumentos para ajudar o governo a conter a sanha dos empresários por
reajuste de preços em período
de crescimento da economia,
estão ajudando a puxar para cima o IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo).
O governo acompanha o assunto com preocupação. Os
principais produtos no radar
oficial são o petróleo, cujo barril chegou a US$ 119,37 na terça-feira, e o trigo, que têm sido
impulsionados pelo maior consumo em países emergentes. A
gasolina representa quase 5%
do IPCA e o petróleo repercute
também em outros custos domésticos por causa, por exemplo, do frete. Já o trigo está incluído no grupo "alimentação e
bebidas", que responde por
quase 22% do índice.
"Acompanhamos o movimento das commodities, mas
isso vem sendo parcialmente
compensado no comércio exterior pelas exportações brasileiras de produtos básicos, os
quais têm o preço em alta lá fora", avaliou o secretário de Comércio Exterior do Ministério
do Desenvolvimento, Welber
Barral.
O crescimento da economia
com pressão nos preços não é
exclusividade do Brasil e também ocorre em economias
emergentes na Ásia e em quase
toda a América Latina. Como o
Brasil compra dessas e de outras regiões produtos e serviços
necessários para atender à demanda interna, acaba trazendo
de lá a inflação.
Ao importar máquinas e
equipamentos da China ou Índia para aumentarem a produção, por exemplo, empresas
brasileiras incluem no pacote a
inflação que está sendo registrada nos países de origem. De
acordo com dados deste mês da
Funcex (Fundação Centro de
Estudos do Comércio Exterior), os bens de capital importados pelo Brasil tiveram crescimento de 9,6% no preço em
dólar somente neste ano.
Na mesma situação estão alimentos, automóveis e mesmo
bens de consumo não-duráveis,
que vêm, entre outros lugares,
do México e da Argentina. O índice de preço dos bens de consumo não-duráveis importados
subiu 15,3% de janeiro a abril.
No ano passado, o índice global de preço dos produtos importados pelo Brasil já havia
subido 8,2%. Como é uma média, esse valor combina reajustes bem maiores com outros
menores.
Câmbio
Para o setor produtivo, o quadro se agravou com a valorização do real. "A indústria brasileira está morta, não tem produtos para concorrer com outros grandes, como a China, os
custos são incompatíveis. Agora, com o câmbio favorável, importa-se tudo", afirma Roberto
Segatto, presidente da Abracex
(Associação Brasileira de Comércio Exterior).
Segundo a economista Zeina
Latif, do banco Real, o Brasil
não precisa necessariamente
importar o produto para sentir
os efeitos da alta no país de origem. "Somente o fato de a importação ser factível já é suficiente para a alta lá fora ser
transferida para o preço doméstico. E isso vale para as exportações também", afirmou.
É exatamente isso que está
acontecendo com o arroz. O
Brasil tradicionalmente não é
um grande exportador do cereal. Recentemente, porém, a
venda externa ficou interessante pela alta do preço do produto no exterior.
Se há a possibilidade de vender mais caro lá fora, os empresários tendem, naturalmente, a
equiparar o preço. Caso contrário, será mais vantagem direcionar toda a produção para o
exterior, o que coloca em risco
o abastecimento interno.
Máquinas
A necessidade da indústria
de modernizar e aumentar a linha de produção é a principal
responsável pelo aumento das
importações brasileiras. Nesse
caso, a cotação do aço e outras
commodities metálicas influenciam fortemente o preço
dos equipamentos.
Segundo Carlos Pastoriza, diretor da Abimaq (Associação
Brasileira das Indústrias de
Máquinas e Equipamentos), os
importados já representam
cerca de 50% do consumo aparente das fábricas, contra menos de 15% da década de 1980.
"Os bens de capital são facilmente exportáveis, o preço das
máquinas é muito alto e vale a
pena o esforço de trazer mesmo
com o frete. Agora, houve algum aumento por conta do preço dos insumos."
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