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LUIZ PINGUELLI ROSA
Desafios na energia
O Itamaraty deve chegar a
bom termo na negociação de Itaipu, como fez no caso do gás natural boliviano
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O PAÍS enfrenta o estigma imputado aos biocombustíveis
como responsáveis pela alta
dos preços dos alimentos no mundo, que afeta as populações pobres.
Partindo do FMI (Fundo Monetário Internacional), essa informação
não tem muita credibilidade, já que
sua política de ajuste das economias
dos países em desenvolvimento
agravou a pobreza.
É possível expandir a produção de
álcool no Brasil. A lavoura da cana
ocupa 7 milhões de hectares, dos
quais 3 milhões de hectares para
açúcar e 4 milhões de hectares para
álcool, enquanto só a soja, a maior
parte para exportação, ocupa 23 milhões de hectares. Segundo o IBGE,
temos 152 milhões de hectares de
área agricultável, dos quais são utilizados 62 milhões de hectares, e há
177 milhões de hectares de pastagens. Excluídos os 440 milhões de
hectares de florestas nativas, dispõem-se de 90 milhões de hectares
para expandir a agricultura sem
desmatamento. Apenas uma parte
dessas áreas é adequada à cana e é
econômica e socialmente viável para biocombustíveis, como álcool e
biodiesel. Este último em grande
parte vem da soja, que, ao contrário
da cana, pressiona o desmatamento
na Amazônia.
O álcool de milho nos EUA é subsidiado e, diferentemente do brasileiro, afeta o preço do grão e se reflete em outros alimentos. Ademais, a
cana captura CO2 do ar no seu crescimento, igualando aproximadamente a emissão na produção e no
consumo do álcool. Logo, ao substituir a gasolina, evita emissões de
CO2, que contribuem para o aquecimento global. O mercado internacional crescerá se forem removidos
os subsídios nos países ricos. Os
EUA consomem um pouco mais de
álcool automotivo que o Brasil, mas
o percentual dele na gasolina é baixo. Seu consumo de gasolina é de
580 bilhões de litros por ano. Esse
percentual deve aumentar para
20%. Considerando 1,3 litro de álcool para cada litro de gasolina, daria algo como 150 bilhões de litros
ao ano de álcool, oito vezes mais do
que a atual produção brasileira, de
18 bilhões de litros por ano. Levará
um tempo para isso e o Brasil poderá exportar mais álcool, mas não é
razoável suprir todo esse mercado.
Outro desafio na área energética
é negociar o pleito do presidente
Fernando Lugo, eleito no Paraguai,
em relação a Itaipu Binacional, que
tem dívida de US$ 19 bilhões com a
Eletrobrás e com o Tesouro brasileiro. Foi o Brasil que construiu a
usina e obteve seu financiamento.
Essa dívida é amortizada pela tarifa
paga pelos consumidores, que na
sua maciça maioria são brasileiros.
Metade da energia gerada por Itaipu pertence ao Brasil e metade ao
Paraguai, que consome cerca de 5%
dela. Pelo acordo, a Eletrobrás compra os restantes 95%, pagando um
valor que por muitos anos era alto.
Uma cota compulsória da energia
de Itaipu teve de ser estabelecida
no governo Geisel para empresas
elétricas brasileiras. Hoje não é
mais cara, comparativamente, pois
a energia elétrica no Brasil subiu de
preço desde as privatizações. A
energia de Itaipu custa US$ 42 o
MWh (megawatt-hora), preço semelhante ao previsto para a geração
pela hidrelétrica de Santo Antônio,
a ser construída no rio Madeira (R$
78 o MWh). O Itamaraty deve chegar a bom termo na negociação, como fez no caso do gás natural boliviano.
O que não deverá ser admitido é que a energia possa ser colocada no mercado para a Argentina e o
Chile, perdendo o Brasil o direito de
dispor dela por meio da Eletrobrás.
Itaipu supre cerca de 19% da energia elétrica do país.
LUIZ PINGUELLI ROSA , 66, físico, é diretor da Coppe-UFRJ
(Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e secretário do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Foi presidente da Eletrobrás (2003-04). É autor do livro "Tecnociências e Humanidades".
Excepcionalmente, hoje, a coluna de MARCOS CINTRA
não é publicada.
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