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Produção gera desigualdade
no continente
EM ZÂMBIA, NO ZIMBÁBUE
E EM GANA
O boom das commodities
agrícolas poderá ser mais um
elemento concentrador de
renda na África, em vez de se
tornar uma oportunidade
para pequenos agricultores.
O temor se repete nas declarações de ONGs, associações
de trabalhadores rurais e
mesmo autoridades de organismos internacionais.
Presidente da Roppa, uma
associação internacional de
camponeses do oeste africano, o senegalês Mamadou
Cissokho diz que o aumento
nos preços dos alimentos
não se traduziu, até agora,
em aumento da renda para
os pequenos produtores,
maioria esmagadora entre os
agricultores na África.
"A renda extra fica na cadeia de distribuição dos alimentos que vão para os grandes supermercados. São as
grandes cooperativas e os
distribuidores que estão lucrando", diz ele, que participou da reunião da Unctad,
órgão da ONU para o desenvolvimento, em Gana, na semana passada.
Nas cidades, o forte aumento dos preços é mais dramático para os trabalhadores
informais, que não possuem
conta em banco, não têm sindicatos que os protejam da
inflação alimentar e dependem dos mercados a céu
aberto, onipresentes no continente, para sobreviver.
No Soweto Market, em Lusaka, Zâmbia, um saco de 5
quilos de arroz produzido no
interior do país sai hoje por
18 mil kwachas, ou o equivalente a R$ 9. Há um ano, valia
15 mil kwachas, ou pouco
mais do que R$ 7.
O resultado, segundo explica o vendedor Davis Chate, 35, é que as pessoas pararam de comprar o arroz de
Zâmbia, que tem um perfume característico e é de melhor qualidade, para comprar
arroz importado do Paquistão, mais barato, mas menos
saboroso. Os prejudicados,
evidentemente, são os produtores locais.
Em Zâmbia, o pior ainda
pode estar por vir, segundo
Purnima Kashyap, diretora
do Programa Mundial de Alimentação no país.
"Nós estamos iniciando a
época da colheita aqui. O impacto virá lá para agosto,
quando ela acabar e ficar claro quanto teremos de alimentos disponíveis e a que
preço. Esse será o parâmetro
para o próximo ano", afirma
Kashyap.
Em Zâmbia, cerca de 1 milhão de pessoas, ou 10% da
população, dependem de auxílio permanente do governo
ou da ONU para se alimentar.
(FZ)
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