São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2008

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Produção gera desigualdade no continente

EM ZÂMBIA, NO ZIMBÁBUE E EM GANA

O boom das commodities agrícolas poderá ser mais um elemento concentrador de renda na África, em vez de se tornar uma oportunidade para pequenos agricultores. O temor se repete nas declarações de ONGs, associações de trabalhadores rurais e mesmo autoridades de organismos internacionais.
Presidente da Roppa, uma associação internacional de camponeses do oeste africano, o senegalês Mamadou Cissokho diz que o aumento nos preços dos alimentos não se traduziu, até agora, em aumento da renda para os pequenos produtores, maioria esmagadora entre os agricultores na África.
"A renda extra fica na cadeia de distribuição dos alimentos que vão para os grandes supermercados. São as grandes cooperativas e os distribuidores que estão lucrando", diz ele, que participou da reunião da Unctad, órgão da ONU para o desenvolvimento, em Gana, na semana passada.
Nas cidades, o forte aumento dos preços é mais dramático para os trabalhadores informais, que não possuem conta em banco, não têm sindicatos que os protejam da inflação alimentar e dependem dos mercados a céu aberto, onipresentes no continente, para sobreviver.
No Soweto Market, em Lusaka, Zâmbia, um saco de 5 quilos de arroz produzido no interior do país sai hoje por 18 mil kwachas, ou o equivalente a R$ 9. Há um ano, valia 15 mil kwachas, ou pouco mais do que R$ 7.
O resultado, segundo explica o vendedor Davis Chate, 35, é que as pessoas pararam de comprar o arroz de Zâmbia, que tem um perfume característico e é de melhor qualidade, para comprar arroz importado do Paquistão, mais barato, mas menos saboroso. Os prejudicados, evidentemente, são os produtores locais.
Em Zâmbia, o pior ainda pode estar por vir, segundo Purnima Kashyap, diretora do Programa Mundial de Alimentação no país.
"Nós estamos iniciando a época da colheita aqui. O impacto virá lá para agosto, quando ela acabar e ficar claro quanto teremos de alimentos disponíveis e a que preço. Esse será o parâmetro para o próximo ano", afirma Kashyap.
Em Zâmbia, cerca de 1 milhão de pessoas, ou 10% da população, dependem de auxílio permanente do governo ou da ONU para se alimentar. (FZ)


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