|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOCIAIS & CIA.
Empresas não priorizam redução de poluição
Companhias não estão preparadas para exigências ligadas à emissão de gases poluentes, causadores do aquecimento global
Segundo pesquisas, maioria das empresas de grande porte não tem inventário nem considera emissões
em decisões estratégicas
ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A maior parte das empresas
do país ainda não está preparada para lidar com as exigências
regulatórias e de mercado que
começam a surgir na esteira
das preocupações com o aquecimento global, especialmente
as ligadas às emissões dos GEE
(Gases do Efeito Estufa), como
o dióxido de carbono (CO2).
As raras pesquisas locais sobre o tema reforçam essa percepção. Uma delas, produzida
pela PricewaterhouseCoopers,
em parceria com o MDIC (Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio), mostrou que somente 17% das empresas brasileiras de grande
porte têm inventário de emissões de GEE, apesar de a maioria (96%) considerar os impactos das mudanças climáticas
relevantes para seu negócio.
Outra pesquisa, da Gartner,
apontou que apenas 18% dos
empresários locais consideram
a questão das emissões em suas
decisões estratégicas para os
próximos dois anos.
"Espero não estar cometendo uma injustiça, mas posso
afirmar que o número de empresas brasileiras que conhecem a realidade de suas emissões, que tenham inventários
consistentes, não passa hoje de
uma centena", estima Rachel
Biderman, coordenadora-adjunta do Centro de Estudos em
Sustentabilidade da FGV-SP.
Tal despreparo das empresas
contrasta com a onda do "carbono neutro" ou "free carbon"
presente em diversas ações de
marketing corporativo, principalmente em grandes eventos,
como torneios esportivos, seminários de negócios, shows de
música e desfiles de escolas de
samba. Uma onda que, aos
olhos do público, traz a impressão de que existe uma grande
ação coordenada do setor privado para mitigar as suas próprias emissões de GEE.
"Infelizmente, isso não condiz com a realidade. O problema é que boa parte dos empresários locais ainda enxerga a
questão das emissões e do mercado de carbono como um item
de responsabilidade social corporativa, ou mesmo de um ganho financeiro pontual, mas
não como um item de diferencial competitivo", afirma Marco Antonio Fujihara, diretor da
consultoria Key Associados.
"A economia de baixo carbono num futuro próximo é uma
tendência inexorável. E ela representa uma nova revolução
industrial, para a qual as empresas terão de estar preparadas. E, se amanhã, por exemplo, surgir uma regulação internacional com metas globais
setoriais de emissões?"
Vantagens
Para o consultor, as empresas brasileiras têm vantagens
comparativas relevantes em diversos setores. Como na siderurgia, cujas empresas locais
utilizam o carvão vegetal (e não
o mineral) em larga escala e
têm grande parte de sua energia gerada por usinas hidrelétricas -enquanto em vários
países essa matriz é essencialmente térmica. "A grande
questão é justamente como
transformar essas vantagens
comparativas em vantagens
competitivas", afirma.
A discussão tem como pano
de fundo uma mudança importante nas indicações do que os
países farão para reduzir suas
emissões de GEE nos próximos
anos. Cientistas, pesquisadores
e economistas são praticamente unânimes em afirmar que a
mudança na posição do governo norte-americano sobre a
questão das emissões é um
marco histórico, que terá influência sobre todo o planeta.
"O governo Obama usará a
política ambiental, por exemplo com a fixação de limites para a emissão de gases causadores do efeito estufa, como um
dos instrumentos para combater a crise econômica e, ao mesmo tempo, resolver problemas
gravíssimos como o do aquecimento global. Ou seja, o governo americano enxerga, na política ambiental, uma fonte geradora de recursos para a política
energética e para a política social. É uma mudança e tanto",
afirma Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia
da Faap e ex-secretário-geral
da Unctad (Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio
e Desenvolvimento).
Para o diretor-executivo da
Cantor CO2 Brasil, Divaldo Rezende, o resultado disso será
um crescimento vertiginoso do
mercado de créditos de carbono que empresas e governos
usam para mitigar ou neutralizar suas emissões. Há estimativas de que esse mercado, que
hoje movimenta pouco mais de
US$ 100 bilhões ao ano, chegue
à casa dos US$ 3 trilhões até
2020. De onde virá essa força?
"Tanto da regulação, determinada pelos governos, quanto
da própria pressão do mercado,
inclusive via consumidores,
que estão cada vez mais atentos ao assunto. Não sabemos
qual desses impulsos será mais
forte, ou mais rápido, mas não
há dúvida de que as mudanças
virão", diz Rezende.
No Brasil, como ainda existem dúvidas sobre a possibilidade de o governo endossar um
regime de metas de redução
nas emissões de GEE, o mercado ainda aparece como principal agente impulsionador das
políticas de redução de emissões pelo setor privado -por
meio das exigências dos agentes financiadores (bancos e organismos multilaterais) ou do
comércio exterior.
Texto Anterior: Petrobras faz "xepa do gás", diz Gabrielli Próximo Texto: Frase Índice
|