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Agrofolha
Fraudes atingem 25% das marcas de café, diz associação
Minas lidera problemas na torrefação, com irregularidade em 47% das marcas
Pesquisa da associação das indústrias acha impurezas como cascas, açaí, milho, centeio, caramelo e
até pedaços de madeira
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Uma em cada quatro marcas
de café comercializadas no país
é fraudada por conter impurezas, segundo pesquisas de qualidade da Abic (Associação Brasileira da Indústria do Café) em
2008. Foram identificadas
fraudes em 583 das quase 2.400
marcas consumidas no Brasil.
Nas marcas analisadas por laboratórios credenciados por
órgãos oficiais, foram encontradas impurezas como cascas,
semente de açaí, milho, centeio,
caramelo e até pedaços de pau,
disse à Folha o presidente da
Abic, Almir José da Silva Filho.
A maioria das marcas com
problemas não está associada à
Abic, mas 59 delas estavam.
Por isso 22 empresas foram excluídas e perderam o direito ao
uso do selo de qualidade. Segundo Alexandre Lima, advogado da Abic, as cerca de 450
marcas associadas à entidade
respondem por cerca de 80%
do café comercializado no país.
Apesar de as pesquisas nacionais da Abic terem revelado
fraudes em 25% das amostras
das marcas de café, o setor jurídico da entidade considera que
esse percentual pode ser menor, próximo de 20%, porque
algumas amostras de uma mesma marca podem ter sido analisadas duas vezes.
Mas em alguns lugares os
problemas são até maiores, como em Minas, que detém 50%
da produção brasileira de café.
Silva Filho, que participou há
uma semana de audiência pública na Assembleia Legislativa, mostrou dados em que as
fraudes na torrefação atingem
47% das marcas no Estado.
Em outra pesquisa só com
marcas mineiras, das 433
amostras monitoradas entre
julho de 2008 e março deste
ano, 205 apresentaram fraude.
Fraudes de quase um terço
das marcas mineiras foram
também constatadas em 2008
pela Vigilância Sanitária de Minas, segundo a gerente do setor
de Alimentos do órgão, Cláudia
Parma Machado. Das 119
amostras analisadas, 31% apresentaram adulteração.
Tolerância de 1%
Na pesquisa nacional da
Abic, foram encontrados até
10% de pau e até 31% de milho
torrado misturados ao café. A
lei tolera até 1% de impurezas.
O presidente da Abic não
apresentou a relação das empresas fraudadoras. O órgão
alega que juridicamente está
impedido, mas o Legislativo
mineiro prepara requerimento
pedindo a listagem.
Um dos problemas apontados por ele é que a fiscalização
da torrefação e da moagem de
café deveria ser assumida também pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária),
e não ficar a cargo apenas das
vigilâncias municipais.
"A Anvisa não considera a
fraude como caso de saúde pública. O açúcar, quando adicionado ao café [por causa do caramelo], pode prejudicar diabéticos", disse Silva Filho.
O caramelo, que dá amargor
ao produto, é usado para ocultar gosto estranho produzido
pelo café de baixa qualidade.
Parma disse haver "dificuldades para fiscalizar". Os motivos vão desde a descentralização, o que torna difícil o acompanhamento, até o fato de que
há empresas clandestinas que
"abrem e fecham portas rotineiramente".
A Abic defende fiscalização
conjunta de vários órgãos, inclusive as receitas Federal e estaduais, opinião compartilhada
pela Secretaria de Agricultura
de Minas Gerais, que tenta
criar uma certificação para o
café produzido no Estado.
O controle fiscal, defende
Souza filho, deveria incluir o
comércio varejista, que compra
o café impuro em razão do baixo preço.
Por causa disso, ele acredita
que a população mais pobre pode estar consumindo mais o café fraudado.
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