São Paulo, terça-feira, 28 de abril de 2009

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Agrofolha

Fraudes atingem 25% das marcas de café, diz associação

Minas lidera problemas na torrefação, com irregularidade em 47% das marcas

Pesquisa da associação das indústrias acha impurezas como cascas, açaí, milho, centeio, caramelo e até pedaços de madeira

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Uma em cada quatro marcas de café comercializadas no país é fraudada por conter impurezas, segundo pesquisas de qualidade da Abic (Associação Brasileira da Indústria do Café) em 2008. Foram identificadas fraudes em 583 das quase 2.400 marcas consumidas no Brasil.
Nas marcas analisadas por laboratórios credenciados por órgãos oficiais, foram encontradas impurezas como cascas, semente de açaí, milho, centeio, caramelo e até pedaços de pau, disse à Folha o presidente da Abic, Almir José da Silva Filho.
A maioria das marcas com problemas não está associada à Abic, mas 59 delas estavam. Por isso 22 empresas foram excluídas e perderam o direito ao uso do selo de qualidade. Segundo Alexandre Lima, advogado da Abic, as cerca de 450 marcas associadas à entidade respondem por cerca de 80% do café comercializado no país.
Apesar de as pesquisas nacionais da Abic terem revelado fraudes em 25% das amostras das marcas de café, o setor jurídico da entidade considera que esse percentual pode ser menor, próximo de 20%, porque algumas amostras de uma mesma marca podem ter sido analisadas duas vezes.
Mas em alguns lugares os problemas são até maiores, como em Minas, que detém 50% da produção brasileira de café. Silva Filho, que participou há uma semana de audiência pública na Assembleia Legislativa, mostrou dados em que as fraudes na torrefação atingem 47% das marcas no Estado.
Em outra pesquisa só com marcas mineiras, das 433 amostras monitoradas entre julho de 2008 e março deste ano, 205 apresentaram fraude.
Fraudes de quase um terço das marcas mineiras foram também constatadas em 2008 pela Vigilância Sanitária de Minas, segundo a gerente do setor de Alimentos do órgão, Cláudia Parma Machado. Das 119 amostras analisadas, 31% apresentaram adulteração.

Tolerância de 1%
Na pesquisa nacional da Abic, foram encontrados até 10% de pau e até 31% de milho torrado misturados ao café. A lei tolera até 1% de impurezas.
O presidente da Abic não apresentou a relação das empresas fraudadoras. O órgão alega que juridicamente está impedido, mas o Legislativo mineiro prepara requerimento pedindo a listagem.
Um dos problemas apontados por ele é que a fiscalização da torrefação e da moagem de café deveria ser assumida também pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e não ficar a cargo apenas das vigilâncias municipais.
"A Anvisa não considera a fraude como caso de saúde pública. O açúcar, quando adicionado ao café [por causa do caramelo], pode prejudicar diabéticos", disse Silva Filho.
O caramelo, que dá amargor ao produto, é usado para ocultar gosto estranho produzido pelo café de baixa qualidade.
Parma disse haver "dificuldades para fiscalizar". Os motivos vão desde a descentralização, o que torna difícil o acompanhamento, até o fato de que há empresas clandestinas que "abrem e fecham portas rotineiramente".
A Abic defende fiscalização conjunta de vários órgãos, inclusive as receitas Federal e estaduais, opinião compartilhada pela Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, que tenta criar uma certificação para o café produzido no Estado.
O controle fiscal, defende Souza filho, deveria incluir o comércio varejista, que compra o café impuro em razão do baixo preço.
Por causa disso, ele acredita que a população mais pobre pode estar consumindo mais o café fraudado.


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