São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2010

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Portugal corre risco de se tornar a "bola da vez"

EMMA ROSS-THOMAS
JIM SILVER
DA BLOOMBERG

Com uma carga de dívidas maior e um índice de crescimento decenal mais lento que o da Grécia, Portugal, o país mais pobre da Europa Ocidental, está sendo punido pelos investidores, enquanto a crise das dívidas soberanas se espalha. O ágio por risco dos títulos portugueses subiu, neste mês, para mais que o dobro da média de 2009. Os "credit default swaps" (CDS, operações de seguros contra risco de moratória) portugueses mostram que os investidores agora avaliam a dívida do país como a oitava mais arriscada do mundo, pior que a do Líbano e a da Guatemala.
"Não ignoramos que a situação da Grécia apresenta riscos de contágio e nós os estamos sentindo", disse o ministro das Finanças português, Fernando Teixeira dos Santos, a jornalistas em Lisboa, na última quinta-feira. "A situação dos ágios no mercado revela o risco de contágio", afirmou.
O esforço do primeiro-ministro português, José Sócrates, para convencer investidores de que seu país evitará destino semelhante ao grego está sendo prejudicado por uma economia que cresceu em média anual inferior a 1% nos últimos anos e que depende do turismo e de setores como cortiça e celulose.
Embora a dívida pública portuguesa equivalente a 77% do PIB do país seja semelhante à da França, a carga total de dívidas do país, incluindo o endividamento empresarial e domiciliar, excede a da Grécia e a da Itália (236% do PIB). O índice de poupança português é o quarto menor entre os 27 países membros da OCDE (grupo das economias mais ricas do mundo). A escassez de poupança nacional é a origem da dependência de Portugal ante investimentos estrangeiros para bancar seu deficit e torna os títulos do país vulneráveis a viradas nos humores globais.
"O motivo para que estejamos preocupados sobre Portugal não é que o nível de endividamento público seja alto demais, e sim que a economia portuguesa não tem crescido de verdade", diz Kenneth Wattret, economista chefe do BNP Paribas para a região do euro.
A dificuldade que as autoridades econômicas europeias enfrentam para conter a crise grega está alimentando a ameaça de colapso, da mesma forma que o quase colapso do banco Bear Stearns solapou outros bancos americanos em 2008, agravando a crise de crédito.
O risco para Portugal é de que os investidores que estão tentando proteger suas carteiras de um colapso ao estilo grego vendam seus títulos ou posições de investimento em pequenos países usuários do euro (como Portugal). Tão logo isso aconteça, a disparada no rendimento dos títulos poderia arremessar o país à mesma espiral da qual a Grécia tanta escapar.
Portugal está entre os países "conspicuamente vulneráveis" e que podem precisar de resgate, diz Kenneth Rogoff, professor da Universidade Harvard.

Captação
O país quer captar até 25 bilhões neste ano, cerca de 15% do PIB. Isso se compara aos 21 bilhões em captação realizados em 2009, segundo a agência nacional da dívida pública.
Os crescentes custos de captação podem forçar Portugal e Grécia a reestruturar suas dívidas, diz Stuart Thompson, que ajuda a administrar US$ 100 bilhões em capital na Ignis Asset Management, em Glasgow, Escócia, e não tem títulos portugueses em sua carteira.
Ele antecipa "um corte de cabelo para a Grécia, primeiro, e, três meses mais tarde, será a vez de Portugal". "A desvalorização de dívidas é a nova desvalorização cambial, na zona do euro."
Ontem, funcionários de empresas de transporte público de Portugal estavam em greve para protestar contra a política de austeridade salarial do governo.
Sócrates prometeu reduzir o deficit de 9,4% do PIB para 2,8% em 2013. O socialista vem governando sem maioria, o que torna difícil aprovar propostas impopulares. A oposição se absteve na votação do orçamento e de um plano quadrienal de redução do deficit.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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