|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Portugal corre risco de se tornar a "bola da vez"
EMMA ROSS-THOMAS
JIM SILVER
DA BLOOMBERG
Com uma carga de dívidas
maior e um índice de crescimento decenal mais lento que o
da Grécia, Portugal, o país mais
pobre da Europa Ocidental, está sendo punido pelos investidores, enquanto a crise das dívidas soberanas se espalha. O
ágio por risco dos títulos portugueses subiu, neste mês, para
mais que o dobro da média de
2009. Os "credit default swaps"
(CDS, operações de seguros
contra risco de moratória) portugueses mostram que os investidores agora avaliam a dívida do país como a oitava mais
arriscada do mundo, pior que a
do Líbano e a da Guatemala.
"Não ignoramos que a situação da Grécia apresenta riscos
de contágio e nós os estamos
sentindo", disse o ministro das
Finanças português, Fernando
Teixeira dos Santos, a jornalistas em Lisboa, na última quinta-feira. "A situação dos ágios
no mercado revela o risco de
contágio", afirmou.
O esforço do primeiro-ministro português, José Sócrates,
para convencer investidores de
que seu país evitará destino semelhante ao grego está sendo
prejudicado por uma economia
que cresceu em média anual inferior a 1% nos últimos anos e
que depende do turismo e de
setores como cortiça e celulose.
Embora a dívida pública portuguesa equivalente a 77% do
PIB do país seja semelhante à
da França, a carga total de dívidas do país, incluindo o endividamento empresarial e domiciliar, excede a da Grécia e a da
Itália (236% do PIB). O índice
de poupança português é o
quarto menor entre os 27 países membros da OCDE (grupo
das economias mais ricas do
mundo). A escassez de poupança nacional é a origem da dependência de Portugal ante investimentos estrangeiros para
bancar seu deficit e torna os títulos do país vulneráveis a viradas nos humores globais.
"O motivo para que estejamos preocupados sobre Portugal não é que o nível de endividamento público seja alto demais, e sim que a economia
portuguesa não tem crescido
de verdade", diz Kenneth Wattret, economista chefe do BNP
Paribas para a região do euro.
A dificuldade que as autoridades econômicas europeias
enfrentam para conter a crise
grega está alimentando a ameaça de colapso, da mesma forma
que o quase colapso do banco
Bear Stearns solapou outros
bancos americanos em 2008,
agravando a crise de crédito.
O risco para Portugal é de
que os investidores que estão
tentando proteger suas carteiras de um colapso ao estilo grego vendam seus títulos ou posições de investimento em pequenos países usuários do euro
(como Portugal). Tão logo isso
aconteça, a disparada no rendimento dos títulos poderia arremessar o país à mesma espiral
da qual a Grécia tanta escapar.
Portugal está entre os países
"conspicuamente vulneráveis"
e que podem precisar de resgate, diz Kenneth Rogoff, professor da Universidade Harvard.
Captação
O país quer captar até 25
bilhões neste ano, cerca de 15%
do PIB. Isso se compara aos
21 bilhões em captação realizados em 2009, segundo a agência nacional da dívida pública.
Os crescentes custos de captação podem forçar Portugal e
Grécia a reestruturar suas dívidas, diz Stuart Thompson, que
ajuda a administrar US$ 100
bilhões em capital na Ignis Asset Management, em Glasgow,
Escócia, e não tem títulos portugueses em sua carteira.
Ele
antecipa "um corte de cabelo
para a Grécia, primeiro, e, três
meses mais tarde, será a vez de
Portugal". "A desvalorização de
dívidas é a nova desvalorização
cambial, na zona do euro."
Ontem, funcionários de empresas de transporte público de
Portugal estavam em greve para protestar contra a política de
austeridade salarial do governo.
Sócrates prometeu reduzir
o deficit de 9,4% do PIB para
2,8% em 2013. O socialista vem
governando sem maioria, o que
torna difícil aprovar propostas
impopulares. A oposição se
absteve na votação do orçamento e de um plano quadrienal de redução do deficit.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Bovespa recua 3% e volta ao nível de fevereiro Próximo Texto: Foco: Executivos do Goldman vão ao Senado e negam fraudes contra clientes Índice
|