|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EMPRESAS
Sócios acham que pedida é alta demais; empresário fica isolado na disputa que passa também pelo controle da CSN
Steinbruch quer US$ 1,5 bi para deixar Vale
DAVID FRIEDLANDER
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário Benjamin Steinbruch está pedindo cerca de US$
1,5 bilhão para sair da Vale do Rio
Doce. Bradespar e Previ (fundo de
pensão dos funcionários do Banco do Brasil), os sócios de Steinbruch que querem o controle da
Vale, acham que o empresário
chutou alto demais e não aceitam
pagar o que ele pede.
Steinbruch, Bradespar e Previ
também são sócios numa outra
grande empresa, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Há
três semanas, eles combinaram
uma separação. Bradesco e Previ
venderiam os 31,7% que possuem
na CSN ao grupo Vicunha, de
Steinbruch, e esse ficaria sozinho
na siderúrgica.
A contrapartida do empresário
seria a venda da participação que
a CSN, controlada por ele, tem na
Vale do Rio Doce. Para que a separação societária dê certo, as
duas operações precisam ser casadas. O problema é que os dois
lados reclamam dos preços.
Se Bradesco e Previ acham que o
US$ 1,5 bilhão de Steinbruch é um
exagero, o empresário também se
sente esfolado por eles. Bradesco e
Previ pedem cerca de US$ 1,3 bilhão pelo pacote de ações que têm
na CSN. Steinbruch já disse que
isso ele não paga.
Vazamentos e queixas
Esses valores, revelados à Folha
por executivos envolvidos na negociação, estão provocando aborrecimento de lado a lado. Em conversas com amigos próximos,
Steinbruch tem reclamado dos
sócios, que segundo ele estão vazando informações para forçá-lo
a aceitar suas condições.
No bloco de Bradespar e Previ
(que inclui também o Nations
Bank e o banco Opportunity),
também há queixas contra Steinbruch. O sentimento entre eles é
de que, depois de aceitar a separação societária, o empresário está
procurando argumentos para
voltar atrás.
De acordo com essa versão, até
agora Steinbruch não teria movido uma palha para fazer com que
a negociação se complete. Tanto
que ele está resistindo à idéia de
entregar a presidência do conselho de administração da mineradora.
Na última terça-feira, durante
reunião do conselho da Vale, os
sócios de Steinbruch propuseram
o nome de Roger Agnelli, presidente da Bradespar, para substituir o empresário. Steinbruch não
aceitou e o impasse corre o risco
de parar na Justiça.
O empresário não esconde que,
se realmente deixar a Vale, fará isso a contragosto. Seu raciocínio é
que a Vale e a CSN são empresas
que se completam.
Os outros sócios, ao contrário,
estão convencidos de que, amarradas como estão hoje, as companhias não conseguem crescer. Vários clientes da Vale são concorrentes da CSN e decisões que a
Vale possa vir a tomar na área de
siderurgia afetam a vida da CSN.
Conflitos
O trio formado por Steinbruch,
Previ e Bradesco (que transferiu
suas participações em empresas
não-financeiras para a Bradespar)
foi um sucesso até bem pouco
tempo atrás. Em 1996, eles derrotaram o consórcio formado pelo
empresário Antonio Ermírio de
Moraes no leilão de privatização
da Vale do Rio Doce.
A parceria foi esfriando aos
poucos, em razão de incompatibilidade de gênios, de métodos de
trabalho e de interesses.
Os problemas começaram na
CSN. Bradesco e Previ, que juntos
possuem 31,7% da siderúrgica,
sentiam-se mal representados no
bloco de controle da empresa.
Não achavam justo que a Vicunha de Steinbruch, com uma participação menor, de 16,3%, tivesse
o controle da CSN -em razão de
um acordo de acionistas feito em
1993, quando a siderúrgica foi privatizada.
Bradesco e Previ esperavam ganhar mais espaço no vencimento
do acordo de acionistas, que ocorreria em abril do ano passado. Na
hora H, o acordo foi prorrogado
automaticamente por mais três
anos.
A brecha foi uma cláusula prevendo que os controladores poderiam continuar no comando se
atingissem determinadas metas
de eficiência. Os objetivos foram
atingidos e tudo continuou como
estava.
O relacionamento entre Steinbruch e Previ, que já não era dos
melhores, azedou de vez na CSN e
na Vale.
O Bradesco, que sempre tentou
fazer o meio-de-campo entre os
dois, pulou para o lado da fundação. Steinbruch ficou isolado.
Texto Anterior: Panorâmica: Governo adia anúncio de ajuste fiscal Próximo Texto: Três acionistas pensaram em fundir empresas Índice
|