São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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EMPRESAS

Sócios acham que pedida é alta demais; empresário fica isolado na disputa que passa também pelo controle da CSN

Steinbruch quer US$ 1,5 bi para deixar Vale


DAVID FRIEDLANDER
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Benjamin Steinbruch está pedindo cerca de US$ 1,5 bilhão para sair da Vale do Rio Doce. Bradespar e Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), os sócios de Steinbruch que querem o controle da Vale, acham que o empresário chutou alto demais e não aceitam pagar o que ele pede.
Steinbruch, Bradespar e Previ também são sócios numa outra grande empresa, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Há três semanas, eles combinaram uma separação. Bradesco e Previ venderiam os 31,7% que possuem na CSN ao grupo Vicunha, de Steinbruch, e esse ficaria sozinho na siderúrgica.
A contrapartida do empresário seria a venda da participação que a CSN, controlada por ele, tem na Vale do Rio Doce. Para que a separação societária dê certo, as duas operações precisam ser casadas. O problema é que os dois lados reclamam dos preços.
Se Bradesco e Previ acham que o US$ 1,5 bilhão de Steinbruch é um exagero, o empresário também se sente esfolado por eles. Bradesco e Previ pedem cerca de US$ 1,3 bilhão pelo pacote de ações que têm na CSN. Steinbruch já disse que isso ele não paga.

Vazamentos e queixas
Esses valores, revelados à Folha por executivos envolvidos na negociação, estão provocando aborrecimento de lado a lado. Em conversas com amigos próximos, Steinbruch tem reclamado dos sócios, que segundo ele estão vazando informações para forçá-lo a aceitar suas condições.
No bloco de Bradespar e Previ (que inclui também o Nations Bank e o banco Opportunity), também há queixas contra Steinbruch. O sentimento entre eles é de que, depois de aceitar a separação societária, o empresário está procurando argumentos para voltar atrás.
De acordo com essa versão, até agora Steinbruch não teria movido uma palha para fazer com que a negociação se complete. Tanto que ele está resistindo à idéia de entregar a presidência do conselho de administração da mineradora.
Na última terça-feira, durante reunião do conselho da Vale, os sócios de Steinbruch propuseram o nome de Roger Agnelli, presidente da Bradespar, para substituir o empresário. Steinbruch não aceitou e o impasse corre o risco de parar na Justiça.
O empresário não esconde que, se realmente deixar a Vale, fará isso a contragosto. Seu raciocínio é que a Vale e a CSN são empresas que se completam.
Os outros sócios, ao contrário, estão convencidos de que, amarradas como estão hoje, as companhias não conseguem crescer. Vários clientes da Vale são concorrentes da CSN e decisões que a Vale possa vir a tomar na área de siderurgia afetam a vida da CSN.

Conflitos
O trio formado por Steinbruch, Previ e Bradesco (que transferiu suas participações em empresas não-financeiras para a Bradespar) foi um sucesso até bem pouco tempo atrás. Em 1996, eles derrotaram o consórcio formado pelo empresário Antonio Ermírio de Moraes no leilão de privatização da Vale do Rio Doce.
A parceria foi esfriando aos poucos, em razão de incompatibilidade de gênios, de métodos de trabalho e de interesses.
Os problemas começaram na CSN. Bradesco e Previ, que juntos possuem 31,7% da siderúrgica, sentiam-se mal representados no bloco de controle da empresa.
Não achavam justo que a Vicunha de Steinbruch, com uma participação menor, de 16,3%, tivesse o controle da CSN -em razão de um acordo de acionistas feito em 1993, quando a siderúrgica foi privatizada.
Bradesco e Previ esperavam ganhar mais espaço no vencimento do acordo de acionistas, que ocorreria em abril do ano passado. Na hora H, o acordo foi prorrogado automaticamente por mais três anos.
A brecha foi uma cláusula prevendo que os controladores poderiam continuar no comando se atingissem determinadas metas de eficiência. Os objetivos foram atingidos e tudo continuou como estava.
O relacionamento entre Steinbruch e Previ, que já não era dos melhores, azedou de vez na CSN e na Vale.
O Bradesco, que sempre tentou fazer o meio-de-campo entre os dois, pulou para o lado da fundação. Steinbruch ficou isolado.





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