São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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TRABALHO

Taxa vai a 20,4% da PEA, a maior desde 85; 1,904 milhão de pessoas está sem trabalhar na Grande São Paulo

Economia patina e desemprego é recorde

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o Brasil depender do aumento do número de emprego para deslanchar, vai ficar estagnado neste ano. A taxa de desemprego da região metropolitana de São Paulo bateu recorde histórico em abril: 20,4% da população economicamente ativa (PEA).
Essa taxa supera em 0,5 ponto percentual a de março (19,9%) e em 2,7 pontos percentuais a de abril de 2001 (17,7%), segundo a Fundação Seade/Dieese, que faz esse levantamento desde 85. Até então, a taxa mais alta de desemprego era a de 20,3%, registrada em abril e em maio de 99.
"O desemprego reflete o péssimo desempenho da economia brasileira", diz Anselmo Luís dos Santos, professor do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho), da Unicamp. "O governo, que projetou crescimento de até 4% para o país neste ano, fala agora em 2,2%."
A estimativa é que existia em abril 1,904 milhão de pessoas desempregadas na região. Isto é, 66 mil pessoas a mais do que em março -esse número é o saldo entre a entrada de 97 mil pessoas na PEA em abril e o aparecimento de 31 mil vagas no período. Sobre abril de 2001, são 285 mil desempregados a mais na região -esse número corresponde à eliminação de 103 mil postos E ao ingresso de 182 mil pessoas na PEA.
O aumento do desemprego se deu mais pela expansão da PEA do que por demissões. Os setores que registraram redução de vagas, em abril, foram construção civil e serviços domésticos (diminuição de 27 mil postos). Na indústria, surgiram mais 7.000 postos; no comércio, 5.000 e, no setor de serviços, 46.000, no período.
"O desemprego aumentou porque o nível de ocupação não cresceu na mesma velocidade que subiu a PEA", diz Sérgio Mendonça, diretor-técnico do Dieese. Pelo levantamento da fundação, o nível de emprego caiu 1,4% em abril deste ano em relação a igual período do ano passado, de 7,53 milhões para 7,42 milhões de pessoas ocupadas. A PEA subiu de 9,149 milhões para 9,331 milhões de pessoas no mesmo período.
A taxa de desemprego é mais alta ainda entre as mulheres -bateu em 24,2% da PEA feminina, 0,8 ponto percentual maior do que a de março, de 23,4%. No caso dos homens, o desempregou também subiu, mas menos, de 17% para 17,3%, no mesmo período. No grupo dos chefes de família, a taxa caiu de 12,1% para 11,8% e, no grupo de pessoas acima de 40 anos, de 13,1% para 12,9%.
O aumento da taxa de desemprego reflete a queda na atividade dos setores de bens duráveis, como eletroeletrônicos e carros.
A expectativa de economistas que acompanham o mercado de trabalho é que a taxa de desemprego deve continuar subindo no país até o final do ano. Isso porque, mesmo que o governo venha a dar sinais de que pretende alterar a política monetária, como reduzir as taxas de juros, a economia demoraria meses para reagir.
A taxa de desemprego ao redor de 20%, segundo Mendonça, agrava a possibilidade de recuperação econômica. Além do desemprego ser alto, Fábio Pina, economista da FCESP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo, diz que o Brasil está amarrado pelo alto endividamento externo e pela sua vulnerabilidade. "O BC tem pouca liberdade para mexer nas taxas de juros."



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