São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

Presidente obtém apoio dos governadores e pede pressa para que exigências do Fundo sejam atendidas

Duhalde abafa pressão para antecipar pleito

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O presidente argentino, Eduardo Duhalde, obteve ontem o apoio de 12 dos 14 governadores peronistas para se manter no cargo e abafou as pressões pela convocação de eleições antecipadas.
Após a reunião, realizada na Província de La Pampa, o presidente se mostrou otimista e pediu pressa para que sejam atendidas nesta semana às duas exigências do FMI (Fundo Monetário Internacional) que ainda não foram cumpridas -a eliminação da lei de Subversão Econômica pelo Senado e a assinatura do acordo para a redução do déficit das Províncias. "A crise avança a 100 km/h enquanto as soluções têm vindo muito lentas", disse.
No entanto, o presidente foi obrigado a prometer aos governadores flexibilidade na assinatura do acordo com as Províncias. Buenos Aires, por exemplo, terá liberdade para negociar com o FMI a redução do déficit fiscal em 50%, e não em 60% como as demais. "Serão assinados os acordos de forma como possam ser cumpridos", disse.
Duhalde também admitiu que as Províncias só devem deixar de emitir bônus a partir do próximo ano. "Mesmo com o acordo, as Províncias terão déficit. E os organismos multilateriais podem financiar as Províncias que reduzirem esse déficit."

Eleições
O presidente disse que, durante a reunião, os governadores chegaram a discutir a antecipação das eleições marcadas para setembro de 2003. Ele afirmou, no entanto, que com exceção do governador de Santa Cruz, Néstor Kirchner, houve consenso entre todos os outros governadores presentes de que não era hora de realizar eleições.
"Se vai ser em setembro, em maio ou em junho, vamos decidir mais adiante. Quando a Argentina estiver em águas mais tranquilas, poderá se adiantar as eleições. Mas não em meio ao caos."
Para analistas políticos, no entanto, a decisão dos governadores foi pragmática, uma vez que os peronistas poderiam perder uma nova eleição para a oposição caso esta fosse realizada sem a assinatura de um acordo com o FMI e sem uma solução para as restrições bancárias impostas pelo curralzinho.

Bancos
Os banqueiros estrangeiros divulgaram ontem nota no qual rechaçaram o projeto para a redução das restrições impostas pelo curralzinho que deve ser divulgado nesta semana pelo ministro da Economia, Roberto Lavagna.
O projeto prevê várias opções para os correntistas resgatarem os depósitos e tem apoio dos bancos estatais e nacionais. Os estrangeiros, no entanto, não concordam com a abertura do curralzinho porque temem não ser ajudados pelo Banco Central por meio da linha de redescontos.
Para conseguir apoio político a sua proposta, Lavagna negociou detalhes do projeto com os governadores ontem. O ministro também levou à reunião um pouco de otimismo em relação aos números de maio para a inflação -que deveria ser inferior à de abril (10,5%).
No centro financeiro de Buenos Aires, houve violência entre a polícia e correntistas que protestavam contra o curralzinho. Um policial foi ferido e dois manifestantes foram presos.



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