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São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2003

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ESQUEÇAM O QUE ESCREVI

Bevilaqua disse que o então candidato deu "sua contribuição ao festival de disparates econômicos"

Na campanha, novo diretor do BC atacou Lula

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dias antes de eleger-se presidente da República, em outubro do ano passado, Luiz Inácio Lula da Silva havia criticado o Banco Central por ter elevado os juros naquele mês. Entre as críticas que recebeu na época por conta de seu comentário, uma chama a atenção hoje.
Foi feita pelo professor de economia da PUC do Rio Afonso Bevilaqua, apresentado na semana passada pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, como sucessor do demissionário Ilan Goldfajn para comandar a Diretoria de Política Econômica -uma das mais importantes da instituição.
Bevilaqua disse que Lula, então candidato à Presidência, havia dado "sua contribuição ao festival de disparates econômicos" ao condenar o aumento de juros.
Mais: disse que, se Lula ganhasse as eleições, aos brasileiros "só restaria, então, aguardar a volta de elevadas taxas de inflação", pois num governo petista o Copom (Comitê de Política Monetária) não contaria "com o respaldo necessário para afetar de forma crível as expectativas de inflação". Ou seja, o Copom do BC no governo do presidente Lula não seria capaz ou não estaria interessado em controlar a inflação.
Pela lei, quem indica os diretores do BC é o presidente da República. Na semana passada, Meirelles e o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) encaminharam o nome de Bevilaqua a Lula. Se o presidente aceitar Bevilaqua, terá de encaminhar o nome do professor da PUC ao Senado, para que seja sabatinado e depois aprovado (ou não).
Como membro da diretoria colegiada do BC, Bevilaqua integrará o Copom, órgão responsável pela definição da taxa básica de juros da economia. É o diretor de Política Econômica o encarregado por traçar os cenários macroeconômicos que embasam as decisões do comitê sobre os juros.
As declarações do professor da PUC-RJ foram feitas em artigo publicado no jornal ""Valor Econômico", no dia 18 de outubro. Em decisão extraordinária realizada no dia 14 daquele mês, o Copom aumentara a taxa básica de juros (Selic) de 18% ao ano para 21%.
A Folha encaminhou para a assessoria de Lula o texto de Bevilaqua e pediu que o presidente se pronunciasse sobre o artigo. O Planalto achou por bem que o presidente não deveria falar, deixando a resposta apenas para o professor da PUC.
O título do artigo de Bevilaqua era "Juros, inflação e o próximo governo". O desfecho é a crítica a Lula e a seus assessores econômicos. O texto desqualificava as idéias do então candidato sobre política monetária e a capacidade do Banco Central num eventual governo petista de controlar a inflação.
"Portanto, a julgar pela reação do PT à elevação da taxa Selic, se o seu candidato vencer as eleições do próximo dia 27, como parecem apontar as pesquisas recentes, a decisão tecnicamente correta do Copom não contará com o respaldo necessário para afetar de forma crível as expectativas de inflação. Só restaria, então, aguardar a volta de taxas elevadas de inflação, cujo efeito principal seria o de agravar ainda mais a péssima distribuição de renda do país."
"Na mesma linha, o principal assessor econômico do candidato do PT classificou a decisão do Copom de "equivocada'", escreveu Bevilaqua. O então principal assessor econômico de Lula era o professor de economia da FGV de São Paulo Guido Mantega, hoje ministro do Planejamento.


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