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ESQUEÇAM O QUE ESCREVI
Bevilaqua disse que o então candidato deu "sua contribuição ao festival de disparates econômicos"
Na campanha, novo diretor do BC atacou Lula
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dias antes de eleger-se presidente da República, em outubro
do ano passado, Luiz Inácio Lula
da Silva havia criticado o Banco
Central por ter elevado os juros
naquele mês. Entre as críticas que
recebeu na época por conta de seu
comentário, uma chama a atenção hoje.
Foi feita pelo professor de economia da PUC do Rio Afonso Bevilaqua, apresentado na semana
passada pelo presidente do BC,
Henrique Meirelles, como sucessor do demissionário Ilan Goldfajn para comandar a Diretoria de
Política Econômica -uma das
mais importantes da instituição.
Bevilaqua disse que Lula, então
candidato à Presidência, havia dado "sua contribuição ao festival
de disparates econômicos" ao
condenar o aumento de juros.
Mais: disse que, se Lula ganhasse as eleições, aos brasileiros "só
restaria, então, aguardar a volta
de elevadas taxas de inflação",
pois num governo petista o Copom (Comitê de Política Monetária) não contaria "com o respaldo
necessário para afetar de forma
crível as expectativas de inflação".
Ou seja, o Copom do BC no governo do presidente Lula não seria capaz ou não estaria interessado em controlar a inflação.
Pela lei, quem indica os diretores do BC é o presidente da República. Na semana passada, Meirelles e o ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) encaminharam o
nome de Bevilaqua a Lula. Se o
presidente aceitar Bevilaqua, terá
de encaminhar o nome do professor da PUC ao Senado, para que
seja sabatinado e depois aprovado (ou não).
Como membro da diretoria colegiada do BC, Bevilaqua integrará o Copom, órgão responsável
pela definição da taxa básica de
juros da economia. É o diretor de
Política Econômica o encarregado por traçar os cenários macroeconômicos que embasam as decisões do comitê sobre os juros.
As declarações do professor da
PUC-RJ foram feitas em artigo
publicado no jornal ""Valor Econômico", no dia 18 de outubro.
Em decisão extraordinária realizada no dia 14 daquele mês, o Copom aumentara a taxa básica de
juros (Selic) de 18% ao ano para
21%.
A Folha encaminhou para a assessoria de Lula o texto de Bevilaqua e pediu que o presidente se
pronunciasse sobre o artigo. O
Planalto achou por bem que o
presidente não deveria falar, deixando a resposta apenas para o
professor da PUC.
O título do artigo de Bevilaqua
era "Juros, inflação e o próximo
governo". O desfecho é a crítica a
Lula e a seus assessores econômicos. O texto desqualificava as
idéias do então candidato sobre
política monetária e a capacidade
do Banco Central num eventual
governo petista de controlar a inflação.
"Portanto, a julgar pela reação
do PT à elevação da taxa Selic, se o
seu candidato vencer as eleições
do próximo dia 27, como parecem apontar as pesquisas recentes, a decisão tecnicamente correta do Copom não contará com o
respaldo necessário para afetar de
forma crível as expectativas de inflação. Só restaria, então, aguardar a volta de taxas elevadas de inflação, cujo efeito principal seria o
de agravar ainda mais a péssima
distribuição de renda do país."
"Na mesma linha, o principal
assessor econômico do candidato
do PT classificou a decisão do Copom de "equivocada'", escreveu
Bevilaqua. O então principal assessor econômico de Lula era o
professor de economia da FGV de
São Paulo Guido Mantega, hoje
ministro do Planejamento.
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