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ANÁLISE
Retomada perde parte do estímulo
FERNANDO SAMPAIO
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS
Não foi surpresa a constatação de que o PIB completou,
entre janeiro e março deste ano,
seu terceiro trimestre consecutivo
de crescimento, período ao longo
do qual acumulou expansão de
3,6%, correspondente a um ritmo
anual da ordem de 4,9%.
À primeira vista pode-se supor
que se trata de um ritmo robusto,
que justificaria expressiva revisão
para cima do crescimento projetado para 2004 como um todo,
que hoje se situa, na média das
avaliações de bancos e consultorias, em 3,5%. Mas cabe lembrar
que a retomada da atividade observada a partir do terceiro trimestre de 2003, a partir de um nível bastante deprimido, vem contando com alguns estímulos que
tenderão a perder parte de seu
ímpeto no restante do ano.
Um vetor de expansão que neste
segundo trimestre já começa a revelar desgaste é dado pelo saldo
positivo entre exportações e importações. Esse saldo chegou a
um valor muito alto, mas já não
tende a se elevar mais. Assim, embora continue fundamental como
"fiador" da redução (incompleta,
mas importante) da vulnerabilidade das contas externas e, portanto, da incerteza, o superávit
comercial vai perdendo peso como fator de aumento do PIB.
A recuperação das vendas de
bens de consumo duráveis no
mercado interno é outro vetor de
crescimento que poderá perder
ímpeto até o final do ano. Isso
porque a recuperação intensa
dessas vendas é reflexo não apenas da melhora das condições de
crédito (ou seja, do aumento do
número de prestações nas vendas
a prazo e dos juros cadentes, embora ainda muito altos) mas também da acumulação de um estoque de demanda reprimida ao
longo dos anos anteriores, em que
as vendas foram baixíssimas. Esse
estoque de demanda "antiga" está
se reduzindo, e logo as vendas
passarão a depender em maior
medida da demanda "nova", isto
é, do fluxo corrente de demanda
por duráveis.
Outro fator que tende a inibir o
ritmo de crescimento da economia é dado pela forte deterioração
do mercado de trabalho, observada, sobretudo, entre o início de
1999 e meados de 2003. Embora
esse processo já tenha sido interrompido, ele provocou um encolhimento dramático do mercado
interno de consumo, pois reduziu
o poder de compra médio dos trabalhadores em aproximadamente
20% e elevou o desemprego a nível muito alto.
Por mais que a abertura de vagas pareça estar aumentando
(com maior velocidade nas regiões agroexportadoras do que
nas metrópoles), a redução do estoque de desempregados demandará um bom tempo, durante o
qual o poder de barganha salarial
dos trabalhadores seguirá deprimido, prejudicando a perspectiva
de uma recuperação rápida do
seu poder de compra.
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