São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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SINAIS DE ALÍVIO

Para analistas, crescimento deve perder o ritmo; governo discorda

BC e economistas divergem sobre o fôlego da expansão

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento da economia no segundo trimestre deste ano deve ser menor do que o do primeiro, na comparação com igual período do ano passado, segundo economistas de associações e de federações comerciais e industriais. Eles estimam algo próximo a 1%.
Para o Banco Central, no entanto, a retomada da atividade econômica deve se manter. Em relatório divulgado ontem, o BC avalia que "indicadores antecedentes e coincidentes para o segundo trimestre apontam uma tendência de continuidade do crescimento do PIB, reforçando a expectativa do mercado de uma expansão da ordem de 3,5% para 2004".
Neste ano, as vendas do comércio e da indústria estão maiores do que as do ano passado -um ano de consumo fraco. Mas a perda de fôlego de alguns setores em abril levantou dúvidas sobre o real desempenho da economia.
As vendas de carros, por exemplo, caíram 11,3% em abril sobre março, segundo a Anfavea, associação dos fabricantes. As de papelão ondulado, 4,6%, informa a ABPO, associação da indústria.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) identificou queda de 6,1%, em média, nas vendas reais no mesmo período. A maior retração foi nas indústrias de móveis, de 11%, e de material plástico, de 10,9%.
A entidade, porém, credita parte do mau resultado ao fato de ter havido menos dias úteis do que em março. Em abril, a taxa de desemprego bateu recorde na região metropolitana de São Paulo. Chegou a 20,7% da população ativa, segundo o Dieese/Seade.
"O primeiro trimestre teve bom desempenho por conta das exportações. A situação é outra neste trimestre. A indústria perdeu fôlego", afirma Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Os empresários reunidos no Iedi, segundo Almeida, esperam um trimestre mais fraco porque: 1) sentem que as exportações já não estão crescendo no mesmo ritmo do primeiro trimestre; 2) o consumo das famílias, capaz de movimentar o mercado interno, continua fraco; 3) o desemprego continua elevado e a renda em queda na comparação com 2003; e 4) a taxa de juros não caiu na velocidade que os empresários previam no início do ano.
A indústria de papelão ondulado, considerada termômetro da economia, informa que abril foi pior do que março, mas, ainda assim, os fabricantes estão vendendo entre 6% e 6,5% mais do que em igual período de 2003. "Ainda não dá para saber se o país entrou na rota da retomada", diz Paulo Peres, presidente da ABPO.
A Fecomercio SP entende que houve recuperação parcial das vendas, já que está concentrada em alguns setores. De janeiro a abril, o faturamento real do comércio paulista subiu 4,95% na comparação com igual período de 2003. Mas a entidade reduziu de 4% para 3% a projeção de crescimento do comércio em 2004.
Os economistas dizem que até o final do ano a economia terá comportamento contraditório. Enquanto não cair a taxa de desemprego e não melhorar a renda do trabalhador, o país não deslancha. Em abril, a massa salarial ainda era 8% menor (no acumulado em 12 meses) do que em abril de 2003, informa a Global Invest.
Para o Banco Central, caso o PIB real se mantenha estável até o final do ano, projeta-se uma taxa de 2,8% de crescimento em 2004. "Entretanto, indicadores antecedentes para abril e para maio reforçam a expectativa de um crescimento maior", diz o relatório.
Para fazer essa projeção, o banco considerou os dados da Fiesp, a produção de aço, as consultas ao SPC e ao Usecheque em São Paulo, o consumo de energia e as concessões de crédito do BNDES.


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