|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
Bye, bye, centro da meta
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
O sonho do Banco Central
de cumprir o centro da meta
em 2004 chegou ao fim! À piora
no cenário internacional juntou-se agora uma aceleração importante na inflação do Brasil. Os
analistas que monitoram os preços quase diariamente já identificaram esse movimento, que ocorre tanto no atacado como no varejo.
Os aumentos do álcool e da gasolina vêm, agora, somar-se às
pressões já esperadas da energia
elétrica para o setor industrial e
residencial e da mudança de estação. Em razão dessa tendência,
estão sendo revistas, para cima,
as expectativas do aumento dos
principais índices de inflação para este ano. A mais dramática é a
dos IGPs, que já supera os 10%
para 2004.
O aumento recente da cotação
do dólar nos mercados de câmbio
deve adicionar mais combustível
à inflação. A ata do Copom, publicada na última quinta-feira,
reconhece pela primeira vez que,
a se manter a cotação atual do
dólar e com a taxa Selic constante
até o fim do ano, a inflação será
superior aos 5,5% fixados como
meta.
Deixemos de lado a questão de
credibilidade de nossa autoridade monetária, por mais um ano
de descumprimento da meta de
inflação, e vamos refletir sobre os
efeitos diretos desse novo quadro
sobre a economia. A informação
mais relevante é que a taxa Selic,
mantidas as condições atuais,
não mais será reduzida neste ano.
Essa novidade terá repercussões
de duas ordens no nosso dia-a-dia.
No campo da política, vai tirar
o discurso do governo de que os
juros são elevados, mas estão
caindo. A mensagem agora será a
de que os juros estão elevados e
vão continuar assim até o fim do
ano. Um belo material para os
aliados de Lula, inclusive o vice-presidente da República, que tem
atacado a política econômica de
seu ministro da Fazenda. Também do lado dos empresários e
das centrais sindicais virão torpedos contra a política econômica.
No campo da economia, a manutenção da Selic também trará
repercussões importantes. A mais
grave delas, na minha opinião,
diz respeito à relação dívida/PIB,
que é hoje um dos indicadores
mais importantes da credibilidade do país. As previsões mais otimistas foram construídas com a
taxa Selic caindo ao longo do ano
até 14% ao final de dezembro.
Com juros mais elevados, esse parâmetro da solvência do governo
piora muito. Isso apesar de um
superávit primário elevado. Em
um momento de tensão externa,
como estamos vivendo, essa mudança não será bem recebida pelos investidores.
A manutenção da Selic para o
restante do ano vai também influenciar a formação da taxa de
juros de prazos mais longos. O
mercado vai certamente precificar a possibilidade de que, em algum momento, o Banco Central
poderá aumentar os juros para
defender um desvio menor da inflação em relação à meta de 5,5%.
Com isso, os juros das operações
de crédito ao setor privado podem
subir dos níveis de hoje para acomodar um prêmio associado a esse risco.
Uma outra repercussão importante dessa revisão nos índices de
inflação será o aumento da correção dos preços públicos para 2005.
Eles serão reajustados automaticamente com base no IGP de 2004
e a taxas superiores a 10%. Como
os preços públicos representam
mais de 30% do IPCA calculado
pelo IBGE, já temos contratada
uma inflação superior a 3% para
2005 -o que torna a meta do
Banco Central de 4,5% mais uma
quimera tecnocrática.
A reação do mercado financeiro
a essa dura mensagem foi amortecida por duas razões. A primeira, de natureza interna, foi a divulgação pelo IBGE dos números
relativos ao crescimento do PIB
no primeiro trimestre. O "headline" do IBGE chamou a atenção
para um crescimento maior do
que o esperado, o que levou o
mercado a reagir com otimismo.
Os números abertos do PIB mostram um quadro menos brilhante, pois os setores que mais influenciam o emprego e a renda da
população continuam crescendo
de forma anêmica.
A segunda razão, para a reação
tranqüila dos mercados financeiros, foi a divulgação de novos números sobre a economia norte-americana. Com todo o mundo
de olhos grudados na reação do
Fed à elevação da inflação, na
maior economia do mundo, os
números divulgados ontem foram considerados benignos.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
Texto Anterior: A visão de Wall Street sobre o PIB Próximo Texto: Luís Nassif: As caras da globalização Índice
|