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LUÍS NASSIF
As caras da globalização
A mesa que debateu as análises sobre sistemas de globalização, na inauguração do
Instituto Fernando Henrique
Cardoso, no sábado passado, foi
excepcional pelos expositores e
pelos ângulos abordados.
Como colocou na largada a
coordenadora da mesa, Ruth
Cardoso, a interpretação puramente econômica do fenômeno
da globalização se esgotou. Há
a necessidade de uma nova teoria das mudanças sociais, devido à globalização da miséria. E
em avançar nova teoria da dinâmica da sociedade, em um
mundo mais fragmentado do
que jamais foi e, no entanto, dinâmico e desigual.
O desafio foi proposto inicialmente ao espanhol Manuel
Castels, analista brilhante da
contemporaneidade. A tese de
Castels é que, no mundo atual,
instrumentos de representação
política não funcionam, porque
não há capacidade de ação para assimilar tantas idéias. Existem, então, uma crise de legitimidade e outra de eficiência.
Mais de dois terços dos cidadãos
do mundo se acham sub-representados pelos políticos. Na Europa, esse índice chega a 59% e
governos são sinônimos de corrupção e de burocracia, não de
justiça e de solidariedade.
Essas crises sempre ocorrem
em processos de mudanças na
sociedade, porque instrumentos
não conseguem mudar na mesma rapidez, ocorrendo uma crise de gestão de problemas. Por
isso movimentos de identidade
nacional tão importantes quanto o da globalização.
Os Estados-nação não irão
desaparecer, mas está sendo
construído um sistema "ad hoc"
de governança mundial, com
federações de Estados em rede
de co-soberania, como é o caso
da União Européia, mas com
muitos problemas de funcionamento.
Castels identificou quatro naturezas distintas nos movimentos sociais globalizados:
1) Discussão global: o desenvolvimento global de associações cívicas e comunitárias locais. Não é sociedade civil global, mas junção de sociedades
civis locais.
2) ONGs de âmbito internacional, como Anistia Internacional e outras. Devem existir
cerca de 40 mil delas, com alto
nível de popularidade, mais que
os governos, se orientando para
fins concretos de mediação, e
por isso são entendidas pelo povo. O mundo pode ir mal, mas o
objetivo específico é atingido.
Daí o grande apoio conquistado.
3) Movimentos sociais globais
contra a ordem social existente.
São redes de movimentos articuladas em torno da internet e
campanhas midiáticas que
atuam pontualmente sobre centro de decisão de poder. São movimentos democráticos. Em
Seattle, o que uniu os manifestantes foi o slogan "não à globalização, sim à representação".
4) Menos identificado e cada
vez mais importante são os movimentos de opinião pública
autônomos, espontâneos, fugazes, mas com efeitos extraordinariamente impactantes, proporcionados pelas novas tecnologias de comunicação eletrônica: internet, telefones móveis.
Na Espanha, de 12 a 14 de
março, o movimento que se seguiu ao atentado terrorista e
derrotou a situação espanhola
foi basicamente espontâneo e
por meio de SMS (mensagens
rápidas). Naqueles dias, o tráfego de SMS aumentou 40%. Foi
um movimento típico das novas
tecnologias, que mudou não
apenas a história da Espanha e
da Europa como da própria
Guerra do Iraque.
Vamos continuar no tema outro dia.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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