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MARCOS CINTRA
Educação e pobreza
O homem público brasileiro não aprendeu com Japão e Coréia, que investiram em educação fundamental
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HÁ SÉCULOS economistas tentam descobrir as causas do
crescimento econômico para poderem eliminar a pobreza. Mas
o governo brasileiro acha que encontrou a fórmula que uma profissão inteira vem procurando e ainda
não achou.
Adam Smith sugeriu que o mercado livre e a especialização do trabalho seriam as causas fundamentais
da riqueza das nações; Joseph
Schumpeter priorizou a inovação
tecnológica e a constante renovação
dos métodos de produção como fontes do crescimento econômico moderno; Robert Solow tentou medir o
impacto da poupança e do investimento na expansão econômica, mas
não foi capaz de explicar um grande
resíduo em suas estimativas que
chamou de progresso tecnológico;
Kenneth Arrow introduziu o conhecimento e a pesquisa nas equações
do crescimento econômico; e John
Galbraith sugeriu variáveis socioculturais como a base da armadilha
da pobreza no mundo, entre muitos
outros notáveis esforços de outros
economistas.
Contudo nunca se conseguiu produzir uma teoria geral do crescimento, mas apenas identificar alguns fatores determinantes no sucesso dessa corrida rumo à riqueza.
Recentemente, Douglas North
propôs que valores e instituições são
determinantes no crescimento econômico. A crença de que boas instituições geram crescimento econômico é hoje aceita por todos.
De fato, há correlação entre instituições eficientes, garantia de contratos e estabilidade de direitos com crescimento econômico. Mas essa
relação não indica quais caminhos
adotar se se deseja estimular o crescimento.
Recentemente me foi recomendado um texto que questiona a causalidade dessa correlação e que sustenta
a tese alternativa de que é a qualidade do capital humano e a educação
de um povo que geram crescimento
e, subsidiariamente, também geram
boas instituições.
No Brasil, o caminho escolhido
para a superação da pobreza tem sido o do redistributivismo, a nossa jabuticaba. Esse é o caminho mais ilusório e ineficaz de todos.
A demagogia redistributivista dos
"vale-isto" e "vale-aquilo", das bolsas "A" e bolsas "B", da distribuição
de subsídios e isenções, da exacerbação da progressividade tributária e
dos confiscos de terra e de riqueza
para serem pulverizados entre os
pobres jamais será capaz de eliminar a miséria. A dificuldade para
romper o círculo vicioso da pobreza
está no enraizamento do subdesenvolvimento nas estruturas sociais,
econômicas, políticas e psicológicas
da sociedade, como nos ensinou
Galbraith. E isso não se altera com
políticas assistenciais, que, ainda
que justificáveis, não serão capazes
de sanar o problema a longo prazo.
A ruptura fundamental com esse
dramático equilíbrio de pobreza
acha-se na educação, como apontou
Cristovam Buarque em sua notável
pregação durante as últimas eleições presidenciais.
A rádio Jovem Pan tem veiculado
críticas severas à qualidade da educação em nosso país. Os depoimentos são chocantes.
O homem público brasileiro não
aprendeu com o sucesso do Japão e
da Coréia do Sul, que investiram pesadamente em educação fundamental. O Brasil ignora esse clamor e
confunde caridade, que é uma virtude pessoal, com políticas eficazes de
geração de renda, virtude pública rara entre nossos governantes.
Não se acaba com a pobreza punindo a riqueza. Com demagogia e
pitadas de caridade, corre-se o risco
de aprofundá-la.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE , 60,
doutor pela Universidade Harvard (EUA), professor titular
e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas, foi deputado federal (1999-2003). É autor de "A verdade sobre o Imposto Único" (LCTE, 2003). Escreve às segundas-feiras, a
cada 15 dias, nesta coluna.
Internet: www.marcoscintra.org
mcintra@marcoscintra.org
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