São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2008

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Volume de crédito atinge R$ 1 tri e vai a 36,1% do PIB

Para especialistas, alta dos juros deve frear empréstimos no segundo semestre

Percentual de crédito na economia é o maior desde 1995, mas ainda é baixo em comparação ao de outros países emergentes


JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em 64 meses de governo Lula, o volume de crédito no país cresceu R$ 633 bilhões. Em abril, o saldo dos empréstimos concedidos pelos bancos atingiu R$ 1,017 trilhão, recorde de endividamento das famílias e empresas brasileiras, segundo dados do Banco Central.
O crédito total representa 36,1% do PIB (Produto Interno Bruto). Quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a Presidência, o crédito era de 22% do PIB. A expectativa do BC é chegar a 40% no fim do ano.
Especialistas dizem que esse avanço pode ser comemorado pelo governo, mas não pelo consumidor endividado. Isso porque a taxa de juros média do crédito pessoal fechou em abril a 65,9%, excluídas as taxas de empréstimos com desconto em folha de pagamento, que ficaram em 27,4%. "O custo do crédito no Brasil ainda é proibitivo", disse Nelson de Sousa, professor de finanças do Ibmec.
O consultor Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC, alerta de que no segundo semestre deve haver desaceleração do volume de empréstimos por causa do aumento da taxa básica de juros. "Esse é o objetivo do Banco Central ao elevar a Selic: reduzir a demanda e conter um pouco o crescimento da economia, diminuindo a procura por empréstimos."
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, admite que essa redução no ritmo de crescimento do crédito já está em curso. Ele citou o aumento do volume dos empréstimos com desconto em folha de pagamento, de 2,4% em abril, enquanto em 12 meses é de 29%.
"O crédito consignado chegou a crescer em um patamar expressivo, mas esse ritmo tende a diminuir porque tem um público específico para isso." Para Lopes, apesar da "acomodação" do crédito, as famílias ainda não chegaram a seu limite de endividamento.
O diretor-executivo do IDV (Instituto de Desenvolvimento do Varejo), Emerson Kapaz, concorda que as famílias podem se endividar mais sem comprometer a capacidade de pagamento e, portanto, não há risco de aumento da inadimplência. "O crescimento do emprego e da massa salarial permite ousadia na tomada de empréstimos. Estamos agora entrando na normalidade. Em alguns países, o volume de crédito chega a 100% do PIB", disse.
O volume de crédito de 36,1% do PIB é o mais alto no Brasil desde janeiro de 1995, quando alcançou 36,8%. Mas é baixo se comparado a outros países emergentes, onde a média de crédito ultrapassa 60% do PIB.
Freitas, ex-diretor do BC, lembrou que o aumento do volume de crédito foi impulsionado pelos prazos mais longos de pagamento. Em abril, o prazo médio para pessoas físicas foi de 15 meses, 70% maior que no mesmo mês de 2007.
Os juros médios para pessoas físicas em abril foram de 47,7%, enquanto para empresas foram de 26,3%. Na média, a taxa ficou em 37,4%, 0,2 ponto menor que em março. Lopes explicou que a taxa média de juros caiu ligeiramente no mês passado, apesar do aumento da Selic, por causa da redução do "spread" bancário. "O "spread" subiu muito no início do ano por causa do aumento do IOF. No mês passado, foi possível acomodar esse aumento." O "spread" é a diferença entre os juros cobrados ao consumidor e o custo dos bancos para captar dinheiro no mercado financeiro. Em abril, caiu de 35,3% para 34,6%.


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