São Paulo, quinta, 28 de maio de 1998

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MERCADO FINANCEIRO
Gustavo Franco afirma que a crise da Rússia não afetará o Brasil e que é preciso serenidade
Déficit fiscal limita queda dos juros, diz BC

Sérgio Lima/Folha Imagem
Gustavo Franco, do BC, que afirma que o mercado está ansioso


da Sucursal de Brasília

O presidente do Banco Central, Gustavo Franco, disse ontem que o governo não tem como diminuir mais os juros sem fazer o ajuste fiscal. "Para podermos reduzir os juros, nós precisamos atacar o problema fiscal", afirmou.
A afirmação foi feita em comentário sobre as dificuldades que o governo teve nos dois últimos leilões que realizou para vender títulos públicos pela nova taxa de juros, que foi considerada baixa pelo mercado financeiro.
Nas duas ocasiões, o Tesouro Nacional não conseguiu vender seus títulos. Com base na taxa de juros projetada no mercado futuro, os compradores pediram um prêmio para comprar Letras do Tesouro Nacional. O governo queria vendê-las a uma taxa de 21,75% ao ano e o mercado exigia 26%.
"Se o mercado exige prêmio para a colocação dos títulos, nós temos uma coisa interessante como sinal, que é o fato de que a questão fiscal é importante na fixação da taxa de juros", afirmou o presidente do BC.
Franco disse que, quando há percepção de que existe desequilíbrio fiscal, o mercado pressiona para elevar as taxas de juros. "Portanto, que fique claro que a questão fiscal é fundamental para os juros."
Na sua avaliação, "o BC não pode forçar uma situação (queda de juros) quando a questão fiscal não é favorável". Na semana passada, o governo surpreendeu o mercado ao reduzir a TBC (Taxa Básica do BC) além das expectativas.
Esperava-se maior prudência do BC em função da instabilidade do mercado internacional e do crescimento do déficit público. No período de 12 meses encerrado em fevereiro, o déficit ficou em R$ 58,627 bilhões.
A Folha apurou que o Tesouro Nacional analisa a possibilidade de vender títulos a juros anuais de 22% ou 23%, desde que o prazo de resgate seja reduzido de 180 para 90 dias -uma forma de demonstrar que os juros não significam uma situação de longo prazo.
O governo ainda não fixou metas fiscais para este ano porque ainda está analisando as contas públicas (União, Estados, municípios e estatais). Sem esse diagnóstico, não há como propor novas soluções.
O governo não quer fixar metas antes disso porque avalia que pode perder credibilidade se elas não forem cumpridas. Em 1997, o governo projetou um superávit primário (excluindo gastos com juros) de 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto), mas obteve um déficit de 0,99% do PIB.
Ao não fixar metas, porém, o governo transmite ao mercado a impressão de que está assistindo a piora nas contas públicas sem fazer nada. E os dados do primeiro trimestre indicam que a situação continua ruim e deve piorar.
Rússia
Ao comentar ontem a crise na Rússia e os seus reflexos nas Bolsas de Valores do Brasil, Gustavo Franco, descartou que o país possa ser afetado pela crise russa.
"Há um momento de ansiedade do mercado, que não tem conteúdo real. O mercado produz nervosismo a partir de sua própria ansiedade. É preciso manter a serenidade, olhar os fundamentos, o lado real da economia".
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) avaliou em reunião ontem que a atual crise financeira da Rússia não deve desencadear uma fuga de capitais no Brasil.



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