São Paulo, sábado, 28 de junho de 2008

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Economia foge do IGP-M após altas na taxa

Elétricas, concessionárias de serviços e gestoras de imóveis tentam negociar outros índices para corrigir seus custos

Críticos afirmam que IGPs não reproduzem mais a dinâmica de preços; para defensores do índice, ataques são oportunistas

TONI SCIARRETTA
AGNALDO BRITO

DA REPORTAGEM LOCAL

Empresas e consumidores com dívidas e custos atrelados ao IGP-M -como aluguéis, financiamentos e serviços- tentam trocar de indexador e se proteger de uma eventual disparada no índice, como aconteceu em 2002, quando saltou 25,31% por conta da alta de 53,2% do dólar. Agora que o dólar cai 10% no ano e o IGP-M sobe 6,82%, o índice se tornou acoplado ao preço das commodities, que pouca sensibilidade têm à política do BC.
Empresas do setor elétrico tentam trocar dívidas antigas corrigidas pelo IGP-M por meio da emissão de debêntures indexadas ao CDI. A Duke Energy, dona da Paranapanema, chegou a pedir o lançamento de debêntures para quitar uma dívida de R$ 1 bilhão com a Eletrobrás, mas a emissão foi suspensa por conta da crise. Além de alongar os vencimentos, a empresa economizaria R$ 50 milhões em custos.
A imobiliária Cushman & Wakefield introduziu no país um serviço para renegociar aluguéis corrigidos pelo IGP-M. Segundo Milena Morales, a proposta mais aceita até o momento foi a troca do IGP-M por uma cesta de índices.
Até o Tesouro Nacional tem se afastado do IGP-M. Desde dezembro de 2006, não emite as NTN-C, títulos corrigidos pelo índice.
Criado há quase 20 anos pelo mercado financeiro para corrigir contratos específicos do setor -derivativos, letras de câmbio e rolagem de dívidas-, o IGP-M se tornou o principal indexador da economia. No contexto da espiral hiperinflacionária de 1989, quando surgiu, o IGP-M trouxe como vantagem a divulgação da taxa fechada no penúltimo dia do mês. Com a conveniência, acabou indexando os aluguéis, que, à época, subiam todos os meses. Nas privatizações, o índice se tornou indexador de serviços porque o governo quis garantir o interesse estrangeiro nas empresas.
O problema é que 60% de sua composição vem dos preços coletados no atacado, que dizem respeito aos custos de insumos e não refletem as despesas de administradores de estradas, TV paga e de donos de imóveis.
Para os críticos, o IGP-M não reproduz mais a dinâmica de repasse dos preços nem permite atrelar os riscos aos custos de uma empresa com as receitas.
"O IGP-M mistura maçã com laranja e banana. Também não é só um preço do atacado e cria essa indexação indesejável, que propaga uma memória inflacionária que não tem reflexo no futuro", diz Marcelo Salomon, economista do Unibanco.
"É uma composição esdrúxula. Foi utilizado como uma "proxy" [aproximação] do dólar. Qual a lógica de utilizar o IGP-M se quero corrigir o valor de minha renda de aluguel?", pergunta o economista João Luiz Mascolo, do Ibmec-SP.
Responsável pela pesquisa do IGP-M, Salomão Quadros afirma que a FGV atualiza periodicamente a composição dos preços do atacado e do varejo para refletir a o consumo desses setores. Só não foi mexido o peso de 60%, 30% e 10%. "O IGP-M tem de ser entendido por camadas, que refletem diferentes custos da economia. Ele foi criado num momento do país e virou referência de preços. Como as necessidades de indexação mudam, também deve mudar a utilização dos índices de inflação", disse.
Paulo Sampaio, da Andima, uma das patrocinadoras do IGP-M, vê como "oportunistas" as críticas ao índice. "Essa discussão sobre o IGP-M acontece sempre que a inflação sobe. Discutir mudança de indexador é viável desde que debatido pelas partes. Só não vale trocar índice que sobe."


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