São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009 |
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LUIZ GONZAGA BELLUZZO Lições de Alan Greenspan
Greenspan diz o óbvio ou o que deveria ser óbvio para qualquer cidadão razoavelmente informado sobre a natureza da moderna economia monetária e de crédito. Melhor dito: sobre as relações entre crédito, moeda e atividade econômica na economia capitalista contemporânea. Repito o que já disse nesta coluna: nessa economia com grande concentração de capital fixo e dominância dos bancos na pirâmide de intermediação financeira, a dinâmica de longo prazo está fundada na busca do aumento da produtividade social do trabalho, o que, por sua vez, impulsiona a competição feroz entre grandes empresas pela inovação tecnológica incorporada nas novas gerações de insumos e equipamentos. Essa dinâmica está amparada na capacidade dos bancos de emprestar (criar liquidez), diversificando o risco, um múltiplo dos depósitos à vista escriturados em seus registros. Os passivos bancários podem ser exigidos pelos depositantes sem pré-aviso e mobilizados por eles como meios de pagamento. Os bancos "criam" moeda. Todas as inovações financeiras são descendentes das técnicas de "alavancagem" e das tentativas de repartir o risco. Não fossem os bancos e os negócios do dinheiro, o capitalismo estaria resfolegando (se é que estaria) nos tempos do tílburi, do "capitão de indústria" e da poupança escondida, em notas graúdas ou miúdas, sob o colchão. A rede de pagamentos formada pelo sistema bancário é crucial para o funcionamento adequado dos mercados. Ela se constitui na infraestrutura que facilita o "clearing" e a liquidação de operações entre os protagonistas da economia monetária. Dificuldades nessas instituições, que formam o sistema de provimento de liquidez e de pagamentos, geram inevitavelmente dificuldades para o conjunto da economia. Por isso, a desregulamentação financeira, estimulada e celebrada por Greenspan, abriu as comportas para a "invasão" do risco sistêmico no coração do capitalismo. Na contramão das regras impostas nos anos 30, os bancos comerciais passaram a operar como supermercados financeiros, valendo-se da "securitização" de créditos, do envolvimento em posições nos mercados de capitais e em operações "fora do balanço" com derivativos. Os gestores de portfólios -bancos de investimento, seus fundos mútuos e de hedge-, na sofreguidão de bater os concorrentes, trataram de turbinar os resultados mediante a alavancagem financiada pelos bancos comerciais. Os filhotes da desregulamentação empenharam-se em espalhar o risco sistêmico. LUIZ GONZAGA BELLUZZO, 66, é professor titular de Economia da Unicamp. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia). Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Gasto público em ritmo eleitoral Próximo Texto: Veto à carne derruba preço e gera reação política no Pará Índice |
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