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BRÁULIO BORGES E CHAU KUO HUE
Retração de oferta na agropecuária
A rentabilidade do
agronegócio teve expressiva
queda, e isso criaria o risco
real de retração da oferta
O MINISTÉRIO da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento
anunciou no final de maio o
PAP (Plano Agrícola e Pecuário)
2006/2007, que prevê a aplicação de
R$ 60 bilhões em crédito rural, dos
quais R$ 50 bilhões alocados para a
agricultura comercial e R$ 10 bilhões para a agricultura familiar. Essas cifras embutem um aumento
nominal de cerca de 13% ante os R$
53,3 bilhões disponibilizados pelo
PAP 2005/2006. Além disso, o PAP
2006/2007 traz uma série de mudanças para beneficiar o produtor
rural, entre elas o aumento dos limites de crédito de custeio e comercialização, a redução das taxas de juros
dos programas de investimento e
novas regras para o seguro rural.
O objetivo do pacote é evitar redução da área plantada, inibir futuras
crises de liquidez no setor agrícola e
minimizar os impactos negativos
oriundos da atual crise do agronegócio sobre a balança comercial, a atividade econômica, a inflação e o nível de emprego e renda.
A preocupação do governo é bastante pertinente. Para compreender
a situação pela qual passa o campo, é
preciso ter em mente que o faturamento do setor vem sendo prejudicado pela evolução dos preços e da
taxa de câmbio. Entre meados de
2003 e maio de 2006, o preço pago
ao produtor para o arroz caiu 53%,
recuou 26% para o milho, teve queda de 23% para o algodão, caiu 18%
para o boi e despencou 45% para a
soja, enquanto o real apreciou-se
24% em relação ao dólar.
Não bastasse isso, alguns importantes componentes dos custos dos
agricultores subiram de modo expressivo, como o preço do óleo diesel, que aumentou 26% entre meados de 2003 e maio de 2006, segundo o Índice de Preços no Atacado
(IPA-DI, da FGV) -na esteira da alta do preço do petróleo no mercado
internacional-, e os gastos com fungicidas, por conta da ferrugem asiática que atingiu a cultura de soja. Ou
seja, a rentabilidade do agronegócio
sofreu expressiva queda ao longo
dos últimos anos, e isso criaria o risco real de uma retração da oferta de
alguns produtos agropecuários no
ano que vem.
Entretanto, a redução da oferta
poderia vir em um contexto no qual
a demanda por certos produtos deverá se elevar, o que geraria descompasso entre oferta e demanda e, por
conseqüência, pressões sobre os
preços desses produtos.
Os embargos às exportações de
carne bovina brasileira devido à aftosa não deverão durar por um período muito prolongado. À medida
que os países importadores se certificarem de que o rebanho nacional
fique completamente livre da doença (o que hoje parece bastante provável), deverão voltar a comprar a
carne brasileira. A mesma situação
poderá ocorrer no setor avícola, pois
o temor em relação a uma epidemia
mais grave de gripe aviária já vem se
dissipando. Nesse cenário em que as
exportações de carne bovina e de
frango mostrem recuperação, deverá elevar-se a demanda por milho e
farelo de soja -insumos utilizados
como ração para animais no mercado doméstico e internacional.
No caso da soja, o anúncio pela Petrobras da criação do H-Bio -combustível produzido a partir da mistura de 90% de petróleo e 10% de
óleo vegetal- deverá elevar em até
15% a demanda pelo produto já no
ano que vem, quando se inicia a produção em escala comercial desse novo combustível. Convém destacar
que o cultivo da safra de soja que será colhida no ano que vem se inicia
justamente agora, no segundo semestre de 2006- daí a preocupação
do governo em anunciar o PAP
2006/2007 ainda no final de maio.
O sucesso do PAP 2006/2007 será
importante para a economia brasileira. Caso as medidas efetivamente
contribuam para que o produtor tenha segurança para levar adiante
seus planos de cultivo, isso significa
que a área plantada não sofrerá
grande redução. Caso contrário, incorre-se no risco de pressão relevante dos preços agrícolas, que pode
afetar de maneira significativa a inflação em 2007, dado o elevado peso
das commodities agrícolas nos índices de preço. Isso, por sua vez, dependendo da magnitude desse choque de oferta e dos seus desdobramentos ao longo do tempo sobre os
demais preços da economia, poderia
fazer com que o Banco Central reduzisse, ou mesmo interrompesse, o
ritmo de redução dos juros -com os
custos já conhecidos sobre a atividade econômica (especialmente investimento) e as finanças públicas.
BRÁULIO BORGES e CHAU KUO HUE são economistas da
LCA Consultores.
Excepcionalmente, hoje, a coluna de LUIZ CARLOS
MENDONÇA DE BARROS não é publicada.
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