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Recuperação volta a elevar déficit externo
Saldo negativo do Brasil com o exterior caiu pela metade no primeiro semestre, mas junho mostra repique do déficit
Remessa de lucros e dividendos de empresas ao exterior ganha força em junho, e analistas veem tendência crescente
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a desaceleração da economia, o déficit das contas externas do país caiu pela metade
no primeiro semestre deste
ano. Nos últimos meses, porém, esse quadro já dá sinais de
reversão, acompanhando a recuperação da economia.
De janeiro a junho, o saldo
negativo das transações correntes -que contabiliza a negociação de bens e serviços com
outros países- ficou em US$
7,07 bilhões, ante US$ 16,87 bilhões nos primeiros seis meses
de 2008.
Esse movimento reflete,
principalmente, a queda nas
importações e a redução nas remessas de lucros ao exterior
ocorrida desde o agravamento
da crise. Para o governo, a queda no déficit é um sinal positivo, pois indica que, em épocas
de expansão mais lenta, a economia seria capaz de se ajustar
por conta própria e conter a saída de dólares.
No mês passado, o saldo das
transações correntes ficou negativo em US$ 535 milhões,
acima do esperado pelo Banco
Central -que apostava em resultado próximo de zero- e pelos analistas do mercado -US$
500 milhões.
A surpresa foram as remessas de lucros ao exterior, de
US$ 3,028 bilhões em junho,
18% a mais do que em maio. A
alta refletiu não só um movimento de multinacionais enviando ganhos para as matrizes, mas também o envio de dividendos de empresas brasileiras a acionistas no exterior.
Para o economista Maurício
Molan, do Santander, a tendência é que esse tipo de remessa
volte a subir nos próximos meses, depois de queda um primeiro semestre em queda. Entre janeiro e junho, o envio de
lucros para o exterior foi de
US$ 10,9 bilhões, queda de
42,8% na comparação com o
primeiro semestre de 2008.
"Faz sentido haver um aumento nas remessas [de lucros], porque a economia está
se recuperando", diz. Para Molan, esse movimento deve ajudar a fazer com que o déficit nas
contas externas volte a subir,
ainda que gradualmente, daqui
para a frente. "Por enquanto o
déficit é facilmente financiável,
mas é preciso acompanhar
mais de perto o comportamento desses números."
Em tese, o fato de o Brasil estar retomando o crescimento
mais rapidamente do que a média mundial poderia afetar negativamente suas contas externas, já que a atividade mais
aquecida aumentaria a demanda por importações ao mesmo
tempo em que o mercado externo para as exportações brasileiras seguiria parado.
Por outro lado, o economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, ressalta que o
atual ciclo de recuperação da
economia mundial tem um padrão que pode favorecer as contas externas do Brasil.
"O crescimento mundial tem
sido puxado pelos países emergentes, o que tende a aumentar
a demanda por commodities
[como produtos minerais e
agrícola]", afirma, citando mercadorias que têm grande peso
nas exportações brasileiras.
Segundo pesquisa feita pelo
BC com cerca de 80 bancos e
empresas de consultoria, o país
deve fechar 2009 com um déficit em transações correntes de
US$ 15,1 bilhões. Para 2010, essa projeção sobe para US$
22,25 bilhões. Em ambos os casos, a expectativa é que o saldo
negativo seja financiado com o
ingresso de investimentos estrangeiros diretos -US$ 25 bilhões neste ano e US$ 27 bilhões no próximo.
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