São Paulo, terça-feira, 28 de julho de 2009

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Recuperação volta a elevar déficit externo

Saldo negativo do Brasil com o exterior caiu pela metade no primeiro semestre, mas junho mostra repique do déficit

Remessa de lucros e dividendos de empresas ao exterior ganha força em junho, e analistas veem tendência crescente

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com a desaceleração da economia, o déficit das contas externas do país caiu pela metade no primeiro semestre deste ano. Nos últimos meses, porém, esse quadro já dá sinais de reversão, acompanhando a recuperação da economia.
De janeiro a junho, o saldo negativo das transações correntes -que contabiliza a negociação de bens e serviços com outros países- ficou em US$ 7,07 bilhões, ante US$ 16,87 bilhões nos primeiros seis meses de 2008.
Esse movimento reflete, principalmente, a queda nas importações e a redução nas remessas de lucros ao exterior ocorrida desde o agravamento da crise. Para o governo, a queda no déficit é um sinal positivo, pois indica que, em épocas de expansão mais lenta, a economia seria capaz de se ajustar por conta própria e conter a saída de dólares.
No mês passado, o saldo das transações correntes ficou negativo em US$ 535 milhões, acima do esperado pelo Banco Central -que apostava em resultado próximo de zero- e pelos analistas do mercado -US$ 500 milhões.
A surpresa foram as remessas de lucros ao exterior, de US$ 3,028 bilhões em junho, 18% a mais do que em maio. A alta refletiu não só um movimento de multinacionais enviando ganhos para as matrizes, mas também o envio de dividendos de empresas brasileiras a acionistas no exterior.
Para o economista Maurício Molan, do Santander, a tendência é que esse tipo de remessa volte a subir nos próximos meses, depois de queda um primeiro semestre em queda. Entre janeiro e junho, o envio de lucros para o exterior foi de US$ 10,9 bilhões, queda de 42,8% na comparação com o primeiro semestre de 2008.
"Faz sentido haver um aumento nas remessas [de lucros], porque a economia está se recuperando", diz. Para Molan, esse movimento deve ajudar a fazer com que o déficit nas contas externas volte a subir, ainda que gradualmente, daqui para a frente. "Por enquanto o déficit é facilmente financiável, mas é preciso acompanhar mais de perto o comportamento desses números."
Em tese, o fato de o Brasil estar retomando o crescimento mais rapidamente do que a média mundial poderia afetar negativamente suas contas externas, já que a atividade mais aquecida aumentaria a demanda por importações ao mesmo tempo em que o mercado externo para as exportações brasileiras seguiria parado.
Por outro lado, o economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, ressalta que o atual ciclo de recuperação da economia mundial tem um padrão que pode favorecer as contas externas do Brasil.
"O crescimento mundial tem sido puxado pelos países emergentes, o que tende a aumentar a demanda por commodities [como produtos minerais e agrícola]", afirma, citando mercadorias que têm grande peso nas exportações brasileiras.
Segundo pesquisa feita pelo BC com cerca de 80 bancos e empresas de consultoria, o país deve fechar 2009 com um déficit em transações correntes de US$ 15,1 bilhões. Para 2010, essa projeção sobe para US$ 22,25 bilhões. Em ambos os casos, a expectativa é que o saldo negativo seja financiado com o ingresso de investimentos estrangeiros diretos -US$ 25 bilhões neste ano e US$ 27 bilhões no próximo.


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