São Paulo, terça, 28 de julho de 1998

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ARTIGO
Competir é regra para todos

DAGOBERTO LIMA GODOY
Com todo o respeito a quem a tenha feito, acho despropositada a crítica ao Banco Central por permitir a aquisição do Banco Real por um grupo da Holanda. Manifestações desse tipo ecoam velhas idéias de protecionismo e reservas de mercado, que nada têm a ver com a realidade do nosso tempo.
Agricultura e indústria tiveram que topar, sem consulta prévia ou opção possível, o desafio imposto pela globalização e pela abertura de nossa economia. Os produtos estrangeiros passaram a disputar com os nacionais os espaços no mercado e a preferência dos consumidores brasileiros, muitas vezes em condições de desvantagem, dadas as perversões de nosso sistema tributário e outras componentes do chamado "custo Brasil" (entre as quais, é claro, o altíssimo custo do dinheiro). Não tiveram outra saída senão buscar os saltos de competitividade indispensáveis à própria sobrevivência.
Assim, com enormes dificuldades, especialmente para as médias e pequenas empresas, vão contribuindo para a estabilização dos preços internos e para capacitar a economia brasileira à convivência com a globalização, na qual a competição implacável é regra.
A mesma exigência de competitividade crescente foi-se estendendo aos demais setores da economia, dos supermercados à aviação comercial. Até a Petrobrás está entrando na dança!
Sim, a parada é mesmo dura. Por isso é que muitas empresas não resistiram e outras tantas correm sérios riscos, Porque a globalização é seletiva, favorecendo as organizações competitivas, mas, ao mesmo tempo, descartando ("excluindo", como é moda dizer), sem apelação, as empresas lentas e desatualizadas em termos de gestão -especialmente dos seus recursos humanos- e de métodos produtivos, deficientes em tecnologia, marketing ou design.
A Fiergs, desde o início do processo, vem não só conscientizando as indústrias do Rio Grande do Sul como também lhes oferecendo uma série de ferramentas de competitividade, por meio de seu Centro de Competitividade, do Senai e do Sesi, este agora envolvido num ambicioso programa de educação básica. Além de propugnar por uma indispensável monitoração de nosso comércio exterior, do melhor uso dos controles, inclusive não tarifários, utilizados mundo afora.
Por que o setor financeiro deveria ficar imune à competição? O ingresso de bancos estrangeiros no mercado brasileiro é medida não apenas coerente como altamente desejável para induzir uma maior eficiência. Basta considerar os avantajados "spreads", que distanciam as taxas básicas dos juros praticados no financiamento à produção e ao consumo, para ter idéia de como aí se acumulam ineficiências e lucros confortáveis, além do exagerado cunho fiscal, contra o qual também lutamos.
Cumpre lembrar que o setor bancário teve a oportunidade e os meios para se ajustar à nova realidade, com o Proer, por exemplo. Assim a abertura à competição que agora se promove vem, para o setor financeiro, em condições de que os demais não usufruíram.
É certo, também, que precisamos contar com um efetivo e eficaz sistema de defesa econômica, que impeça a concorrência desleal. Mas isso vale para todos os setores, sem exclusões e sem protecionismo.
Ninguém pretende substituir bancos nacionais por estrangeiros nem promover uma concorrência predatória, que todos condenamos.
O grande espaço de mercado bancário existente em nosso país está a indicar que as instituições financeiras competitivas, independentemente de sua origem, poderão crescer e consolidar-se, como é indispensável ao bom funcionamento da economia.
Enquanto nos Estados Unidos e no Japão a relação entre os depósitos bancários totais e o PIB é da ordem de 543% e de 104%, respectivamente, no Brasil essa relação é de apenas 24% (de acordo com as International Financial Statistics do FMI).
Outro indicador do nosso amplo mercado é a relação do crédito bancário para o setor privado e o PIB: o Brasil aparece com 33%; o México, com 49%; o Chile, com 51%; os Estados Unidos, com 65%; e o Japão, com 186%.
Sob o império da lei e ao abrigo de um sistema ágil e competente de defesa econômica, a regra da competição tem que valer para todos. Até mesmo para os bancos.


Dagoberto Lima Godoy, 58, engenheiro, é presidente da Federação das Indústrias do Rio grande do Sul.



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