São Paulo, terça, 28 de julho de 1998

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CENÁRIO
Banco de investimento dos EUA acredita também em aumento da carga fiscal, em caso de segundo mandato
JP Morgan prevê desvalorização após eleição

GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas

O governo brasileiro poderá editar um forte pacote logo depois das eleições, principalmente se FHC conseguir a reeleição, com dois componentes simultâneos: aumento da carga fiscal e desvalorização cambial.
Essa é a previsão do boletim "World Financial Markets" (Mercados Financeiros Mundiais), publicado no início de julho pelo J.P. Morgan, um dos mais importantes bancos de investimento do mundo, reconhecido sobretudo pela qualidade de suas pesquisas econômicas.

Controle relaxado
O boletim diz com todas as letras o que poucos admitem publicamente no Brasil: que o governo FHC, diante do crescimento da candidatura de oposição em junho, optou por relaxar no controle das contas públicas, financiar ao menos em parte o déficit com dívida interna atrelada ao dólar e reduzir as taxas de juros o máximo possível.
Para o J.P. Morgan, o período pós-eleitoral não será nenhuma lua-de-mel, "especialmente se o presidente Cardoso foi reeleito". No cenário publicado pela instituição, recairia sobre FHC "o ônus de implementar um aperto fiscal antecipado e significativo".
O J.P. Morgan trabalha com a previsão de que esse ajusta ocorra com um "movimento coincidente em direção a uma taxa de câmbio mais flexível (e mais fraca)".

Bolas da vez
O Brasil é colocado ao lado de Rússia e China como os maiores problemas nos próximos meses, já que o ajuste no Sudeste Asiático está ocorrendo mais rapidamente do que se esperava.
O salto exportador da Coréia do Sul, por exemplo, tem sido mais forte que o registrado no México depois da crise de dezembro de 1994.
Agora, entretanto, a América Latina está perdendo competitividade de forma cumulativa para a Ásia, enquanto os preços das commodities fragilizam ainda mais as contas externas dos mercados emergentes.
A redução na taxa de crescimento nos Estados Unidos, prevista para os próximos meses, também afetará a América Latina, segundo o J.P. Morgan.
Complicando a posição brasileira está o fato de que o Banco Central tornou-se menos independente, se comparado à sua capacidade de intervenção em outubro do ano passado.

Ataque especulativo
Segundo o J.P. Morgan, a proximidade das eleições implica maior tolerância do BC com a perda de reservas.
Em caso de ataque especulativo, o BC "pensaria duas vezes (...) antes de implementar um novo choque de juros", ainda que a estabilidade da moeda ainda seja "aparentemente a prioridade política maior", ou seja, ataques especulativos seriam preferencialmente enfrentados com apertos na política de juros.

Dois cenários
O boletim trabalha implicitamente, portanto, com dois cenários para o Brasil.
No cenário de vitória de FHC, o J.P. Morgan acena com um ajuste simultâneo nas contas públicas e na taxa de câmbio. Ou seja, depois das eleições, haveria uma correção voluntária dos desequilíbrios que estão aumentando de forma cumulativa.
No cenário alternativo, em que ocorre um ataque especulativo, o BC tende a responder com choques de juros, ainda que se o ataque ocorrer antes das eleições, seja mais provável queimar reservas.



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