São Paulo, sábado, 28 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EFEITO COLATERAL

IBGE registra redução de obras em infra-estrutura no governo FHC, o que afetou a construção pesada

Grande empreiteira perde com aperto fiscal

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DO RIO

A queda nos investimentos públicos em obras de infra-estrutura fez o setor de construção pesada, principalmente as grandes empreiteiras, perderem espaço na construção civil. Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que, em 1996, a construção pesada respondia por 51,4% do valor total das obras executadas pela construção civil. Em 2002, último ano da pesquisa, esse percentual caiu para 42,8%.
Dentro do setor de construção civil, a construção pesada é a responsável pelas obras de infra-estrutura, como estradas, aeroportos, saneamento e portos. Em 96, 60% do valor das obras da construção civil como um todo eram contratadas pelo setor público. Em 2002, esse percentual foi de 52,4%-uma queda de 12,7% nos sete anos do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). No segmento da construção pesada, a queda também aparece. O percentual passou de 80,5% em 96 para 70,6% em 2002.

Privatizações
Além da redução da capacidade de investimento do Estado para garantir o superávit fiscal (economia para pagar juros da dívida), a queda é conseqüência também das privatizações e concessões públicas ocorridas no período analisado.
Como reflexo da redução dos investimentos públicos, o número de grandes empreiteiras encolheu no período.
Em 1996, 11,1% das empresas de construção pesada tinham mais de 500 empregados. O número caiu para 7,4% em 2002. De acordo com especialistas do setor, por causa da crise que afetou a construção pesada no período, as grandes empreiteiras terceirizaram parte de seus serviços, diminuindo seu tamanho e o número de empregados.
Na tentativa de se recuperar, a maioria delas também abriu seu leque de empreendimentos, migrando para setores como os de telefonia e concessão de estradas, caso da Andrade Gutierrez, sócia da Telemar e concessionária da via Dutra, estrada que faz a ligação entre São Paulo e Rio. Também apostaram no ramo petroquímico, caso da empreiteira baiana Odebrecht.
As empresas com mais de 500 empregados eram responsáveis por 60% do pessoal ocupado no ramo de construção pesada em 1996. Esse percentual caiu para 47,7% em 2002.
Com relação ao setor como um todo, a construção pesada respondia por 40,6% do pessoal empregado. Passou a ser de 32,6% sete anos depois.
O setor de construção civil teve uma receita bruta de R$ 86,2 bilhões em 2002. Desse total, R$ 1,1 bilhão veio de obras no exterior. Nesse caso, não há comparação com outros anos por se tratar de uma pergunta feita pela primeira vez às empresas.
A pesquisa, que abrange todo o território nacional, verificou que em 2002 havia cerca de 123 mil empresas de construção no país, empregando 1,5 milhão de pessoas, sendo que 389 mil na construção pesada. Das cem maiores empresas da construção civil, segundo o valor das obras, 42 era de construção pesada em 2002.

Metodologia
A pesquisa do IBGE começou a ser feita em 1990 e era baseada nos dados do Censo. No entanto, houve uma mudança na metodologia em 1996 e o levantamento passou a ser feito por meio de um cadastro de empresas. Por isso, o instituto utiliza o ano de 1996 como base de comparação.
Além disso, a partir de 2002 a pesquisa do IBGE ampliou sua abrangência, até então restrita às empresas com mais de 40 empregados, para todas as empresas do setor da construção.
A pesquisa é feita anualmente em todo o país, a partir de uma amostra composta por 11.500 empresas do setor.


Texto Anterior: O vaivém das commodities
Próximo Texto: Trabalho: Eletrônicos devem contratar 9.000
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.