São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2005

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NOVO RITMO

Dados sugerem fôlego maior do consumo e dos investimentos; crise ainda não altera projeções de crescimento no ano

Segundo trimestre mostra recuperação

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia brasileira recuperou fôlego no segundo trimestre. Depois de dois trimestres crescendo pouco menos de 0,5% em relação ao período anterior, ela se expandiu a uma taxa que deve variar entre 1% e 1,4%.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgará o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) na próxima quarta-feira. Analistas estimam, baseados nos indicadores de atividade já divulgados para o período, que tanto o investimento e o consumo, por um lado, quanto a indústria, por outro, garantirão resultado mais positivo do que o dos dois trimestres anteriores.
Sempre considerando a comparação em relação ao trimestre imediatamente anterior, a economia cresceu 0,4% no último trimestre do ano passado, 0,3% no primeiro deste ano e, estimam economistas ouvidos pela Folha, algo em torno de 1,4% no segundo trimestre de 2005.
O investimento era o que mais preocupava quem acompanha os indicadores da economia brasileira. Medido nas contas nacionais por meio da FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), ele caiu 3,9% e 3%, no final de 2004 e no primeiro trimestre deste ano, respectivamente. O consumo das famílias também vinha caindo desde o primeiro trimestre do ano passado. Nos últimos três meses de 2004 teve redução de 0,6%.

Consumo
Os dados de renda, crédito e vendas no varejo sugerem que o consumo começou a se recuperar no trimestre passado. Igualmente, os investimentos interromperam o período de retração. "Os dados de crédito e de renda do segundo trimestre sugerem que o consumo dificilmente manteria a retração dos períodos anteriores. Assim como imaginávamos que o consumo se recuperaria, também acreditávamos na volta dos investimentos", diz Roberto Padovani, analista da Tendências.
Padovani aponta, por exemplo, para os resultados do indicador de Consumo Aparente de Máquinas e Equipamentos. O índice considera a produção, exportações e importações de bens de capital. É, portanto, um bom indicador do nível de investimento. No último trimestre, revelam os dados elaborados pela Tendências, a alta do indicador foi de mais de 4%, sugerindo a recuperação dos investimentos esperada por Padovani e outros analistas.
Altamiro Carvalho, assessor econômico da Federação do Comércio de SP, diz que os investimentos postergados no início do ano acabaram sendo desengavetados no segundo trimestre. "Com o cenário internacional aquecido e as exportações ainda superando as expectativas, o empresariado retomou a confiança."

Projeções
As projeções para 2005 mudaram pouco até agora. A maioria dos analistas estima crescimento em torno de 3% para este ano. A crise política, que causou alguma turbulência nos últimos meses, não entrou ainda para as equações e modelos dos economistas. Motivo: a despeito da maior turbulência no mercado financeiro, não houve ainda nada que se comparasse, por exemplo, com o pânico no final de 2002, que fez explodir o câmbio e, como resultado, aumentar as expectativas de inflação.
Por enquanto, a avaliação é que, excetuada a possibilidade de um impacto cambial muito forte, a crise se manterá no cenário político, mas sem afetar a economia diretamente no curto e médio prazos. A inação no Congresso adiará reformas importantes que poderiam aumentar a produtividade da economia brasileira a longo prazo, mas elas não teriam efeito no crescimento deste ano.
Fabio Silveira, da MS Consult, também espera crescimento de 3% até o final do ano. Taxa que mostra um desempenho, diz ele, que não retrata "um crescimento digno de comemoração com champanhe". No trimestre passado, diz o analista da MS Consult, o destaque fica mesmo por conta da recuperação dos investimentos. Em parte pela reação dos setores que atendem ao mercado interno, ou seja, ao consumo das famílias.
Mas as exportações, diz Silveira, continuam tendo papel importante na decisão de investimentos e, por isso, na recuperação da taxa no segundo trimestre. "Majoritariamente, o resultado será por conta do mercado doméstico, mas ainda tem um peso não desprezível da inflação", comenta.
"A recuperação dos investimentos é uma excelente notícia principalmente para a capacidade de crescimento de médio e longo prazo", diz Fabio Akira, economista do JP Morgan. A divulgação dos dados do PIB na quarta-feira, diz ele, apenas irá "coroar um trimestre que já deu sinais de que a economia reacelerou".
Para todos os analistas, mantido o cenário atual, ou seja, sem grandes choques externos e tampouco sem uma tempestade no mercado local por conta de agravamento da crise política, os próximos dois trimestres devem continuar com resultados positivos, ainda que em menor velocidade do que no trimestre passado. Tanto no terceiro quanto no quarto trimestre as taxas de crescimento ficariam em torno de 0,7% e 0,8%, sempre comparando com o trimestre imediatamente anterior.


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