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NOVO RITMO
Dados sugerem fôlego maior do consumo e dos investimentos; crise ainda não altera projeções de crescimento no ano
Segundo trimestre mostra recuperação
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia brasileira recuperou fôlego no segundo trimestre.
Depois de dois trimestres crescendo pouco menos de 0,5% em
relação ao período anterior, ela se
expandiu a uma taxa que deve variar entre 1% e 1,4%.
O IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) divulgará
o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) na próxima quarta-feira. Analistas estimam, baseados nos indicadores de atividade
já divulgados para o período, que
tanto o investimento e o consumo, por um lado, quanto a indústria, por outro, garantirão resultado mais positivo do que o dos dois
trimestres anteriores.
Sempre considerando a comparação em relação ao trimestre
imediatamente anterior, a economia cresceu 0,4% no último trimestre do ano passado, 0,3% no
primeiro deste ano e, estimam
economistas ouvidos pela Folha,
algo em torno de 1,4% no segundo trimestre de 2005.
O investimento era o que mais
preocupava quem acompanha os
indicadores da economia brasileira. Medido nas contas nacionais
por meio da FBCF (Formação
Bruta de Capital Fixo), ele caiu
3,9% e 3%, no final de 2004 e no
primeiro trimestre deste ano, respectivamente. O consumo das famílias também vinha caindo desde o primeiro trimestre do ano
passado. Nos últimos três meses
de 2004 teve redução de 0,6%.
Consumo
Os dados de renda, crédito e
vendas no varejo sugerem que o
consumo começou a se recuperar
no trimestre passado. Igualmente, os investimentos interromperam o período de retração. "Os
dados de crédito e de renda do segundo trimestre sugerem que o
consumo dificilmente manteria a
retração dos períodos anteriores.
Assim como imaginávamos que o
consumo se recuperaria, também
acreditávamos na volta dos investimentos", diz Roberto Padovani,
analista da Tendências.
Padovani aponta, por exemplo,
para os resultados do indicador
de Consumo Aparente de Máquinas e Equipamentos. O índice
considera a produção, exportações e importações de bens de capital. É, portanto, um bom indicador do nível de investimento. No
último trimestre, revelam os dados elaborados pela Tendências, a
alta do indicador foi de mais de
4%, sugerindo a recuperação dos
investimentos esperada por Padovani e outros analistas.
Altamiro Carvalho, assessor
econômico da Federação do Comércio de SP, diz que os investimentos postergados no início do
ano acabaram sendo desengavetados no segundo trimestre.
"Com o cenário internacional
aquecido e as exportações ainda
superando as expectativas, o empresariado retomou a confiança."
Projeções
As projeções para 2005 mudaram pouco até agora. A maioria
dos analistas estima crescimento
em torno de 3% para este ano. A
crise política, que causou alguma
turbulência nos últimos meses,
não entrou ainda para as equações e modelos dos economistas.
Motivo: a despeito da maior turbulência no mercado financeiro,
não houve ainda nada que se
comparasse, por exemplo, com o
pânico no final de 2002, que fez
explodir o câmbio e, como resultado, aumentar as expectativas de
inflação.
Por enquanto, a avaliação é que,
excetuada a possibilidade de um
impacto cambial muito forte, a
crise se manterá no cenário político, mas sem afetar a economia diretamente no curto e médio prazos. A inação no Congresso adiará
reformas importantes que poderiam aumentar a produtividade
da economia brasileira a longo
prazo, mas elas não teriam efeito
no crescimento deste ano.
Fabio Silveira, da MS Consult,
também espera crescimento de
3% até o final do ano. Taxa que
mostra um desempenho, diz ele,
que não retrata "um crescimento
digno de comemoração com
champanhe". No trimestre passado, diz o analista da MS Consult, o
destaque fica mesmo por conta da
recuperação dos investimentos.
Em parte pela reação dos setores
que atendem ao mercado interno,
ou seja, ao consumo das famílias.
Mas as exportações, diz Silveira,
continuam tendo papel importante na decisão de investimentos
e, por isso, na recuperação da taxa
no segundo trimestre. "Majoritariamente, o resultado será por
conta do mercado doméstico,
mas ainda tem um peso não desprezível da inflação", comenta.
"A recuperação dos investimentos é uma excelente notícia principalmente para a capacidade de
crescimento de médio e longo
prazo", diz Fabio Akira, economista do JP Morgan. A divulgação
dos dados do PIB na quarta-feira,
diz ele, apenas irá "coroar um trimestre que já deu sinais de que a
economia reacelerou".
Para todos os analistas, mantido
o cenário atual, ou seja, sem grandes choques externos e tampouco
sem uma tempestade no mercado
local por conta de agravamento
da crise política, os próximos dois
trimestres devem continuar com
resultados positivos, ainda que
em menor velocidade do que no
trimestre passado. Tanto no terceiro quanto no quarto trimestre
as taxas de crescimento ficariam
em torno de 0,7% e 0,8%, sempre
comparando com o trimestre
imediatamente anterior.
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