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"RISCO-MENSALÃO"
Levantamento mostra que apenas 3,7% dos textos trataram de "contaminação" nas economias vizinhas
Mídia internacional ainda vê crise como problema interno
MAELI PRADO
DE BUENOS AIRES
A crise gerada pelas denúncias
de corrupção no Brasil ainda é
apresentada pelos maiores jornais
de todo o mundo principalmente
como um fenômeno com efeitos
apenas sobre a política e economia internas.
Começam a aparecer nas últimas semanas, porém, mais textos
e editoriais expressando preocupação com o impacto que a conjuntura brasileira pode ter na economia regional.
Essa é a conclusão de um levantamento realizado a pedido da
Folha à Global News, empresa argentina que monitora meios de
comunicação de 47 países.
Segundo a pesquisa, feita por
amostragem em 23 jornais da
América Latina, da Europa, dos
EUA e do Canadá, entre os dias 1º
e 23 de agosto, apenas 3,7% dos
textos sobre a crise política brasileira nesse período trataram da
possível "contaminação" das economias da América Latina.
A maior parte, 68,7% dos textos,
apresentou as denúncias como algo restrito à política interna. O
restante, cerca de 28%, foi sobre a
crise e a economia brasileira, sem
mencionar os possíveis impactos
em outros países.
Mesmo as reportagens falando
sobre os possíveis efeitos da crise
no Brasil sobre a economia da
América Latina começaram a surgir a partir do dia 19 deste mês,
quando o advogado Rogério Tadeu Buratti, 42, ex-assessor de
Antonio Palocci Filho na Prefeitura de Ribeirão Preto, afirmou que
o atual ministro da Fazenda recebia R$ 50 mil por mês de uma empreiteira privada quando era prefeito, entre 2001 e 2002.
Das 11 reportagens que relacionam a crise brasileira à economia
da região analisadas pela Global
News, 9 foram publicadas após as
denúncias envolvendo Palocci.
"Nos primeiros textos, observa-se o tratamento da crise política
no Brasil como um fato de corrupção, com efeitos sobre a política interna. Depois começa a se dizer que afeta a economia interna,
e posteriormente, nos últimos
textos, um pouco mais sobre o
possível impacto sobre a economia regional", diz Laura Garcia,
presidente da empresa Global
News.
No último domingo, o jornal espanhol liberal "La Vanguardia",
por exemplo, publicou um texto
intitulado "Brasil põe em alerta a
América Latina". "A brilhante
trajetória que estão desenvolvendo nos últimos anos as economias
latino-americanas, em geral, e a
brasileira em particular, poderia
experimentar algum tropeço se a
instabilidade política se apoderar
do Brasil", afirma o texto.
Segundo o levantamento da
empresa, os jornais "Financial Times", do Reino Unido, e o argentino "Clarín" foram os que publicaram mais textos sobre o impacto nas economias de países latino-americanos: dois cada um.
Vizinho
Na Argentina, a preocupação
com os efeitos da conjuntura brasileira já apareceu até no último
informe trimestral do Ministério
da Economia. A crise política brasileira é colocada como um dos
riscos atuais à economia do país
vizinho.
O efeito imediato da crise sobre
a economia da Argentina, entretanto, vem sendo positivo, pelo
menos no curto prazo.
Isso porque a turbulência no
Brasil vem ajudando o governo
argentino a manter o peso desvalorizado ante o dólar, o principal
objetivo da política econômica da
Argentina atualmente. Nas últimas semanas, o banco central do
país reduziu suas intervenções no
mercado em parte por causa da
turbulência no Brasil. Com menor oferta de dólares, a moeda
americana se valorizou e o governo comprou menos no mercado.
Alertas
O britânico "Financial Times",
importante formador de opinião
em todo o mundo, foi o único jornal, entre os pesquisados pela
Global News, que deu uma conotação negativa à crise no Brasil em
todas as matérias pesquisadas pela Global News.
Na edição do dia 23 de agosto, o
diário publicou um editorial alertando, entre outras coisas, para o
fato de que dentro do PT o apoio a
uma política econômica conservadora diminuiu.
"Os investidores deveriam se
preocupar mais com o impacto a
longo prazo sobre a governabilidade. As reformas econômicas estancaram. As investigações do escândalo estão ocupando totalmente as duas casas do Congresso
e dificultando para o governo levar adiante até mesmo reformas
modestas, como iniciativas para
simplificar o sistema fiscal para as
empresas", diz o texto.
No mesmo dia, quando o dólar
no Brasil subiu mais de 1%, outro
importante formador de opinião,
o americano "Wall Street Journal", afirmou em sua versão na
internet que a crise política no
Brasil determinou a baixa das
Bolsas latino-americanas.
Neutralidade
De todos os textos sobre a crise
política no Brasil publicados nesse período nos 23 jornais analisados -somando os textos sobre
política interna, economia interna e efeitos sobre a economia regional-, a maior parte, 70,2%,
deu um tratamento neutro para o
assunto.
Em 25,3% dos textos, o tom foi
negativo, e, em 4,4% deles, o tom
foi positivo.
No período analisado pela Global News, os jornais que publicaram a maior quantidade de textos
sobre a crise foram os mexicanos,
respectivamente o "Milenio" e o
"Reforma".
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