São Paulo, quinta-feira, 28 de agosto de 2008

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Governo gasta R$ 18,8 bi com juros em julho

Valor é novo recorde mensal; de janeiro a julho, gasto sobe 14,9% em relação a 2007 e vai R$ 106,8 bi, ou 6,54% do PIB

Números mostram que essa alta na despesa financeira reflete, em parte, o aperto monetário promovido pelo BC nos últimos meses

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A alta da Selic e o aumento da inflação fizeram com que os gastos públicos com juros batessem recorde no mês passado. Segundo o Banco Central, essas despesas somaram R$ 18,777 bilhões em julho, o maior valor já registrado pela série estatística do Banco Central, que começou em 1991.
O valor se refere à soma dos encargos das dívidas tanto do governo federal como de Estados, municípios e empresas estatais. Nos primeiros sete meses do ano, os gastos com juros cresceram 14,9% em relação ao mesmo período de 2007 e chegaram a R$ 106,803 bilhões, valor que equivale a 6,54% do PIB (Produto Interno Bruto).
Os números mostram que esse aumento nas despesas financeiras reflete, em parte, o aperto monetário promovido pelo BC nos últimos meses.
Do total de juros da dívida pagos pelo setor público no mês passado, R$ 7,726 bilhões se referem à remuneração dos títulos públicos corrigidos pela taxa Selic (taxa básica de juros), hoje em 13% ao ano.
Entre janeiro e julho, esses papéis responderam por juros de R$ 43,126 bilhões, 15% a mais do que nos primeiros sete meses do ano passado. Esse aumento se deve não apenas à alta da Selic, mas também à decisão do Tesouro Nacional de emitir mais títulos corrigidos por essa taxa, em substituição a papéis prefixados. No mês passado, os papéis atrelados à Selic correspondiam a 60,9% da dívida líquida do setor público, contra 53% em julho de 2007.
Para Bráulio Gomes, economista da LCA Consultores, o Tesouro Nacional está agindo certo ao dar mais ênfase à emissão de títulos corrigidos pela Selic, já que os juros exigidos pelo mercado para a colocação de papéis prefixados têm sido muito altos. "O custo não compensa", afirma.
Já o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, diz que o maior gasto com juros no mês passado também pode ser explicado pelo maior número de dias úteis de julho -23, contra 21 de junho. Isso afeta as contas, segundo Lopes, porque os juros pagos pelos títulos pós-fixados são calculados diariamente.

Aperto recorde
Para compensar os gastos com juros, o governo aumenta o aperto fiscal. No mês passado, o setor público obteve superávit primário -receitas menos despesas, exceto encargos financeiros- de R$ 12,109 bilhões, elevando o saldo acumulado no ano para R$ 98,225 bilhões.
Como a economia não foi suficiente para cobrir todas as despesas com o pagamento dos juros, a dívida pública aumentou e chegou a R$ 1,192 trilhão no mês passado. Na comparação com o PIB, o endividamento subiu de 40,4% em junho para 40,6% em julho.
Já o superávit registrado nos últimos 12 meses equivale a 4,38% do PIB, superando a meta de 4,30% fixada para este ano. "Estamos caminhando para o cumprimento da meta", diz Lopes.
Gomes afirma que o aumento do superávit primário é conseqüência do crescimento mais fraco dos gastos do governo, num momento em que a arrecadação de tributos atinge níveis recordes.
"O governo poderia anunciar um aumento formal da meta deste ano, pois isso não exigiria nenhum esforço adicional ao que já está se fazendo hoje", defende.
Um aperto fiscal mais rígido, segundo Gomes, ajudaria a desacelerar a economia, reduzindo pressões inflacionárias e ajudando a evitar novos aumentos na taxa Selic.


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