São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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CRIAÇÃO & CONSUMO

Idéia, lembra?

 "Pensar é um dos trabalhos mais duros que existem, talvez por isso tão poucos o façam." Henry Ford

CAMILA FRANCO

O mundo publicitário está sem idéias. A afirmação não está baseada nos anúncios ou comerciais que estão sendo veiculados. Isso é o de menos, e hoje em dia tem um monte de talentos fazendo isso com os pés nas costas. Eu digo que a nossa profissão precisa urgentemente de um novo formato, um novo caminho, uma idéia brilhante para o nosso futuro. Porque eu não acho que vamos durar muito se continuarmos a fazer apenas anúncios e comerciais e nos preocuparmos com o próximo Leão em Cannes ou a próxima medalha no Clube de Criação.
Hoje, os clientes ouvem mais uma empresa americana de consultoria do que nossos palpites. Primeiro porque eles realmente são puros palpites (não estudamos, não nos aprofundamos, não nos preparamos para o negócio do cliente). Segundo porque conduzimos o negócio para apenas vender um anúncio ou um comercial brilhante. Às vezes, pensando mais no redator concorrente do que no produto concorrente.
A vaidade está nos cegando. O brilho da profissão tem atraído estudantes como moscas. E não os ensinamos a pensar. Não os ensinamos a construir uma carreira, mas sim uma pasta. Um portfólio cheio de títulos brilhantes e sem nenhuma idéia realmente consistente e transformadora. Viramos artistas de detergentes, modess e cerveja. Ingenuamente, prosseguimos, considerando nosso trabalho como obras de arte. Sem perceber que elas não valerão nenhum centavo a mais, mesmo quando morrermos.
Que agência ultimamente contratou alguém não por seus anúncios, mas por seu pensamento? Que agência, nos últimos anos, contratou alguém não para atender uma conta, mas para apenas pensá-la? Que agência, nos últimos tempos, contratou alguém não para pensar em um plano de mídia, e sim para inventar novas mídias?
Retórica? Abra o "Anuário do Clube de Criação" dos últimos cinco anos e veja se você encontra grandes idéias ou se, na maioria das vezes, só grandes títulos. Se encontra grandes soluções ou só grandes filmes.
Depois a gente pode até brigar. Não tem problema porque, pelo menos, a gente vai estar discutindo algo muito mais importante do que se eu faço títulos melhor do que você.


Camila Franco, 37, é diretora de criação da DM9DDB e escreveu neste espaço a convite de Nizan Guanaes.


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