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VIZINHO EM CRISE
Argentinos crêem que chance de acordo é grande neste momento
Missão argentina vai aos EUA negociar com o FMI
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
O governo argentino enviaria
ontem uma nova missão a Washington para tentar finalmente fechar um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) nos
próximos dias.
A missão será chefiada pelo secretário de Finanças, Guillermo
Nielsen, mas deve ganhar o reforço do ministro Roberto Lavagna
(Economia) em dois ou três dias.
Para Lavagna, dois pontos principais ainda devem dificultar as
negociações. O FMI está preocupado, em primeiro lugar, com as
incertezas em torno do cronograma eleitoral argentino.
Nos últimos dias, o presidente
Eduardo Duhalde tem tentado,
sem sucesso, conseguir a aprovação do Congresso para a realização da eleição presidencial em 30
de março e para terminar seu
mandato em 25 de maio.
No entanto, o projeto não avança na Câmara porque os quatro
pré-candidatos do Partido Justicialista (peronista, de Duhalde)
não se entendem para marcar a
data da votação prévia na qual será escolhido o representante do
partido na eleição presidencial.
Por isso, o FMI teme que todo o
cronograma eleitoral seja adiado.
O outro ponto de preocupação
do organismo refere-se à liberação judicial para saques de depósitos que estão congelados nos
bancos desde dezembro. O FMI
ainda teme que a Suprema Corte
declare inconstitucionais essas
restrições mesmo após o governo
ter liderado as ações para encerrar
o processo que estava sendo analisado pela Câmara que poderia
levar ao impeachment dos noves
juízes do tribunal.
Nesse caso, o programa monetário e as metas de emissão de pesos e de inflação que venham a ser
acertadas no acordo final entre o
Fundo e o país dificilmente seriam cumpridas.
Além desses dois pontos, o FMI
também mostra preocupação
com outros temas técnicos que já
haviam sido acertados com Nielsen há duas semanas, em Washington, mas que depois foram
rejeitados por Lavagna.
Na época, Nielsen aceitou a exigência do FMI de conceder um
aumento de 20% a 30% para as tarifas de serviços públicos. No entanto, Lavagna recuou e decidiu
não aceitar um reajuste superior a
10% para as empresas privatizadas.
Da mesma forma, o ministro vai
tentar convencer o Fundo que
não há margem política para o governo aumentar impostos e elevar
o superávit primário de 2003 de
2,2% para 3% do PIB.
Apesar das divergências, Lavagna acredita que o FMI e o governo
dos Estados Unidos têm, neste
momento, vontade política para
fechar um acordo para evitar o calote do país com os organismos
internacionais de crédito -a Argentina já anunciou que, sem
acordo, não vai pagar uma dívida
de US$ 800 milhões com o Banco
Mundial que vence no dia 9.
Além disso, a possibilidade de
que a crise brasileira continue a se
espalhar por toda a região também favoreceria a Argentina.
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