São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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VIZINHO EM CRISE

Argentinos crêem que chance de acordo é grande neste momento

Missão argentina vai aos EUA negociar com o FMI

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O governo argentino enviaria ontem uma nova missão a Washington para tentar finalmente fechar um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) nos próximos dias.
A missão será chefiada pelo secretário de Finanças, Guillermo Nielsen, mas deve ganhar o reforço do ministro Roberto Lavagna (Economia) em dois ou três dias.
Para Lavagna, dois pontos principais ainda devem dificultar as negociações. O FMI está preocupado, em primeiro lugar, com as incertezas em torno do cronograma eleitoral argentino.
Nos últimos dias, o presidente Eduardo Duhalde tem tentado, sem sucesso, conseguir a aprovação do Congresso para a realização da eleição presidencial em 30 de março e para terminar seu mandato em 25 de maio.
No entanto, o projeto não avança na Câmara porque os quatro pré-candidatos do Partido Justicialista (peronista, de Duhalde) não se entendem para marcar a data da votação prévia na qual será escolhido o representante do partido na eleição presidencial. Por isso, o FMI teme que todo o cronograma eleitoral seja adiado.
O outro ponto de preocupação do organismo refere-se à liberação judicial para saques de depósitos que estão congelados nos bancos desde dezembro. O FMI ainda teme que a Suprema Corte declare inconstitucionais essas restrições mesmo após o governo ter liderado as ações para encerrar o processo que estava sendo analisado pela Câmara que poderia levar ao impeachment dos noves juízes do tribunal.
Nesse caso, o programa monetário e as metas de emissão de pesos e de inflação que venham a ser acertadas no acordo final entre o Fundo e o país dificilmente seriam cumpridas.
Além desses dois pontos, o FMI também mostra preocupação com outros temas técnicos que já haviam sido acertados com Nielsen há duas semanas, em Washington, mas que depois foram rejeitados por Lavagna.
Na época, Nielsen aceitou a exigência do FMI de conceder um aumento de 20% a 30% para as tarifas de serviços públicos. No entanto, Lavagna recuou e decidiu não aceitar um reajuste superior a 10% para as empresas privatizadas.
Da mesma forma, o ministro vai tentar convencer o Fundo que não há margem política para o governo aumentar impostos e elevar o superávit primário de 2003 de 2,2% para 3% do PIB.
Apesar das divergências, Lavagna acredita que o FMI e o governo dos Estados Unidos têm, neste momento, vontade política para fechar um acordo para evitar o calote do país com os organismos internacionais de crédito -a Argentina já anunciou que, sem acordo, não vai pagar uma dívida de US$ 800 milhões com o Banco Mundial que vence no dia 9.
Além disso, a possibilidade de que a crise brasileira continue a se espalhar por toda a região também favoreceria a Argentina.


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