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LUÍS NASSIF
A lógica da jabuticaba
Um dos episódios mais significativos da lógica dos
cabeças de planilha ocorreu recentemente, por ocasião da
eleição de Pérsio Arida para
"economista do ano", pelo
Conselho Regional de Economia de São Paulo.
Arida foi um economista brilhante. Seus escritos dos anos
80 são um primor de clareza,
lógica e imaginação criadora.
Desde o Cruzado, no entanto, por opção pessoal, talvez
desencantado com os desdobramentos do plano, Arida se
desinteressou pela economia.
O Plano Real, uma obra-prima
de engenharia monetária, foi
rescaldo do conhecimento acumulado nos anos 80 em torno
de um tema específico: a inflação inercial. Em que pese o conhecimento teórico sólido, ele e
seu parceiro André Lara Rezende se especializaram, em
toda a sua vida acadêmica, em
um tema específico: a inflação
inercial -ao contrário de outros estudiosos do tema, como
Yoshiaki Nakano e Luiz Carlos
Bresser Pereira, que, a partir
dos anos 90, evoluíram em outras frentes, com uma visão
mais sistêmica da economia.
Indicado "economista do
ano" -curiosamente não pelo
conjunto da obra, o que seria
meritório, mas pela produção
do ano, que não houve-, Arida precisava justificar a
honraria. Aí apresentou o repto ao país: os economistas precisam se esforçar para descobrir por que a taxa de juros de
equilíbrio é de 8% ao ano. Essa
"taxa de equilíbrio", assim como a jabuticaba, só dá no Brasil, disse Arida.
Tornou-se um verdadeiro
Caramuru. No país inteiro as
tabas econômicas tremeram e
passaram a discutir o desafio
da jabuticaba. O ministro da
Fazenda convidou-a a expor o
enigma dos 8% em Brasília.
Editoriais adotaram postura
grave para falar da importância de desvendar o segredo da
jabuticaba.
Qual a lógica da jabuticaba?
A economia brasileira oligopolizou-se nos anos 90, diz Arida.
Todo dia a empresa olha a taxa futura de juros e compara
com a inflação esperada. Se a
taxa real for inferior a 8%, ela
começa a reajustar preços.
A formação de preços de
uma empresa obedece a condicionantes diretamente ligadas
ao mundo real. As estratégias
das empresas levam em conta
o potencial do mercado de consumo, a renda, a estrutura de
custos -em que o câmbio tem
sido a variável mais volátil.
Não há nada que fuja muito
da velhíssima e pouquíssimo
sofisticada lei da oferta e da
procura. Há demanda? Aumentam-se os preços. Não há
demanda? Derrubam-se. Quer
aumentar market share? Derrubam-se os preços. Quer aumentar a rentabilidade? Aumentam-se os preços, desde
que haja demanda. Há exportação? Arbitram-se os preços
entre mercado interno e externo.
Nos últimos anos, todos os
suspiros inflacionários ocorreram por problemas com o câmbio e, no seu rastro, tarifas.
Não existe nem sequer uma
observação empírica de que
preços foram reajustados por
conta da redução da taxa real
futura de juros.
Na verdade, a lógica da jabuticaba -que só dá no Brasil e
arredores- é tentar converter
todos os fenômenos reais da
economia, todos os princípios
básicos de funcionamento de
mercado em formulações monetárias.
Só a superficialidade dos cabeças de planilha para transformar essa boutade em moda.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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