|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bolívia faz acordo com só duas empresas
Morales antecipa em um dia cerimônia de contratos, mas ainda falta assinar com 8 petroleiras, incluindo a Petrobras; prazo vence hoje
Presidente boliviano admite que processo ainda pode levar "alguns dias'; para Petrobras, antecipação visou isolá-la politicamente
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
A um dia do fim do prazo para a assinatura de novos contratos de exploração de gás e
petróleo, o governo de Evo Morales conseguiu chegar a acordos com somente duas das dez
empresas petroleiras que participam das negociações -a Petrobras ficou de fora. Em discurso, o presidente boliviano
admitiu que o processo ainda
pode levar "alguns dias" e criticou as empresas que ainda não
firmaram com a estatal YPFB.
"Às outras empresas que estão em negociação, quero dizer-lhes: embora sejamos um
país pequeno, elas têm de respeitar nossas normas, nossas
leis. E vamos fazê-las respeitar", disse.
"Ainda faltam algumas horas,
alguns dias, para cumprir com
as nossas normas. Dessa maneira, continuaremos consolidando a nacionalização dos hidrocarbonetos."
Apesar das declarações, um
alto assessor da YPFB disse à
Folha, após o discurso, que o
prazo termina mesmo hoje à
meia-noite e que Morales se referia a "outros aspectos que estão fora dos contratos".
A cerimônia de assinatura
com as duas empresas, prevista
para ser realizada hoje à meia-noite, foi antecipada para ontem à noite e ocorreu no auditório do Ministério dos Hidrocarbonetos, região central de
La Paz. O evento atraiu algumas dezenas de militantes do
MAS (Movimento ao Socialismo), para quem foram montados dois telões do lado de fora.
Além do presidente Morales,
participaram o vice, Alvaro
García Linera, três ministros e
representantes da empresa
americana Vintage e da francesa Total, esta sócia da Petrobras
nos megacampos de gás de San
Alberto e San Antonio. As duas
são consideradas pequenas.
Tanto a antecipação do evento quanto os grandes preparativos geraram a expectativa de
que mais empresas assinariam
novos contratos. Ao longo desta semana, fontes anônimas do
governo boliviano davam a entender que a Petrobras Bolívia
era a mais atrasada. O "La Razón", o principal jornal do país,
afirmou em manchete ontem
que "só falta Petrobras".
A Folha apurou que, na avaliação da Petrobras, a antecipação do evento tinha como objetivo isolar a empresa brasileira
das demais e, assim, forçar um
acordo ainda hoje.
Os principais impasses com
o governo boliviano são o aumento tributário de 50% para
82% e a transformação da petrobras em mera prestadora de
serviços da estatal YPFB.
Pelo decreto de nacionalização, de 1º de maio, as empresas
que não assinarem novos contratos de exploração de gás e
petróleo até hoje terão de deixar de operar na Bolívia.
Em meio à indefinição sobre
a assinatura de novos contratos
entre a Petrobras e o governo
Morales, o ministro de Minas e
Energia, Silas Rondeau, e o
presidente da Petrobras, José
Sérgio Gabrielli, decidiram
suspender a viagem que fariam
a La Paz neste fim de semana.
A explicação do governo brasileiro para o cancelamento é
que não faz sentido ir à Bolívia
porque, mesmo que seja anunciado algum acordo, ele não terá como entrar efetivamente
em vigor até que seja aprovado
pelo Congresso boliviano.
Apesar dessa alegação, o fato
de que o Congresso da Bolívia
terá de ratificar os novos contratos de exploração de gás e
petróleo não é nenhuma novidade. O governo Morales, aliás,
considera nulos os atuais contratos assinados a partir de
1996 justamente porque não
foram aprovados pelo Legislativo, como determina a Constituição boliviana.
Colaborou HUMBERTO MEDINA, da Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Ação de banco chinês sobe 14,6% na estréia Próximo Texto: Energia: Juiz suspende obra de gasoduto da Petrobras Índice
|